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Jornalistas da Univisión premiados por documentário investigativo falam sobre a apuração da reportagem

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  • 29 agosto, 2013

Por Alejandro Martínez

Apesar das dificuldades na obtenção de registros públicos e de informações tanto do governo norte-americano quanto do mexicano, repórteres da unidade investigativa da Univisión conseguiram descobrir diversos detalhes sobre o polêmico escândalo de contrabando de armas conhecido como Operação Velozes e Furiosos.

Por seus esforços em cobrir as repercussões da operação, a IRE (Repórteres e Editores Investigativos, na sigla em inglês) premiou a Univisión com seu prêmio de Reportagem em Vídeo pelo documentário investigativo "Rápido y Furioso: Armando al Enemigo.

Gerardo Reyes e Tomás Ocaña receberam o prêmio em nome da emissora em língua espanhola baseada nos EUA e conversaram com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas sobre o trabalho na produção da reportagem.

O programa, que dura cerca de uma hora e foi produzido durante mais de um ano, ganhou recentemente o Prêmio Peabody 2013.

Reyes, chefe da unidade investigativa, disse que sua equipe fez uma abordagem editorial diferente durante a investigação. A redação diária já vinha cobrindo o escândalo qunado a unidade investigativa começou a trabalhar no documentário. As duas unidades colabraram uma com a outra, o que as ajudou a ganhar a confiança das fontes e a obter informações fundamentais -- como a lista das armas rastreadas.

“Os dias quando as unidades investigativas eram grupos fechados que não tinham contato com os repórteres diários ficaram no passado", disse Reyes. "Agora você precisa trabalhar todos os dias com a redação e parar de ter grupos privilegiados ou elitistas.”

A Operação Velozes e Furiosos permitiu que mais de 2.500 armas fossem compradas e "andasse" até a fronteira com o México, onde elas eventualmente acabaram nas mãos de membros de carteis de drogas. Conduzida pelo Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em inglês), a operação começou em 2009 e seguiu até o começo de 2011, e tinha o objetivo de conseguir informações sobre as atividades dos carteis de drogas.

Policiais no México inicialmente não foram informados pelos policiais norte-americanos sobre a opração. Duas das armas rastreadas foram usadas no assassinato do agente de Alfândega e Patrulha de Fronteira Brian Terry, em 10 de dezembro de 2010, no estado do Arizona. As armas foram rastreadas até uma loja de venda de armas nos arredores da cidade de Phoenix.

Do lado mexicano, armas da operação foram usadas em diversos assassinatos, entre eles o tiroteio de uma casa de festas na fronteira da cidade Cd. Juarez, no México, que deixou 16 pessoas mortas em 31 de janeiro de 2010.

O governo dos EUA recebeu severas críticas pela condução da operação. Investigações do congresso revelaram que policiais do Departamento de Justiça sabiam da operação, apesar de inicialmente negarem conhecê-la. Diversos policiais de alto escalão da ATF pediram demissão após a revelação de detalhes sobre a operação.

Na apuração da reportagem, Ocaña percebeu a dificuldade em obter informações sobre a operação de ambos os países, e ficou surpreso com o fato de os policiais mexicanos não cooperarem mias. Após a revelação da extensão da operação, políticos mexicanos e a mídia ficaram furiosos com o que o então Procurador Geral do México, General Marisela Morales, chamou de "um ataque contra a segurança dos mexicanos", como informou o LA Times.

“Uma de nossas frustrações foi que ninguém no governo, apesar de nossa insistência, quis falar conosco, ninguém quis nos explicar o que haviam feito para questionar os EUA sobre a operação", disse Ocaña.

Em sua decisão, o juri da IRE apontaram o fato de que os repórteres da Univisión usaram "uma base de dados de 60 mil entradas que foram cruzados com os documentos do governo norte-americano para encontrar 57 armas perdidas que não haviam sido relatadas sob o nome do programa "Velozes e Furiosos" e para mostrar a extensão dos custos de vidas humanas”.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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