Por Isabela Fraga e Natália Mazotte
A história começa com um episódio trágico: no dia 2 de junho de 2002, o repórter Tim Lopes, da Rede Globo, é brutalmente torturado e assassinado durante apuração de uma reportagem sobre exploração sexual de menores na comunidade de Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. O crime choca o país e suscita reflexões e preocupações até então inéditas na imprensa brasileira: os jornalistas precisam se proteger e se unir em torno daquilo que mais motivava Tim Lopes, a reportagem investigativa.
O Centro Knight para Jornalistas nas Américas, que nascia justamente naquela época, juntou-se aos colegas e amigos de Tim para realizar sua primeira atividade oficial: o seminário internacional “Jornalismo Investigativo: Técnicas, Ética e Perigos”, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, em agosto de 2002. Vários especialistas dos Estados Unidos e da América Latina se juntaram a seus colegas brasileiros para discutir aspectos do jornalismo investigativo.
Depois do seminário, repórteres e editores continuaram as discussões numa lista de e-mail até hoje hospedada pelo Centro Knight, na Universidade do Texas em Austin. Na lista, havia vários jornalistas que já estavam pensando na necessidade de se criar no Brasil algo similar à Investigative Reporters & Editors (IRE) dos Estados Unidos. O resultado foi o lançamento, em dezembro de 2002, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que rapidamente se tornou uma das mais importantes e atuantes organizações desta especialidade no mundo.
Na última segunda-feira, 10 de dezembro, a Abraji completou 10 anos de existência -- permeados por importantes atuações em diversas áreas do jornalismo, da segurança à transparência governamental e capacitação. Com cerca de 4.000 associados, 5.000 profissionais capacitados em seus cursos e sete congressos internacionais em seu currículo, a organização se prepara para realizar o maior encontro de jornalistas do mundo em 2013, no Rio de Janeiro.
De 12 a 15 de outubro de 2013, serão realizados em conjunto o tradicional Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, a Global Investigative Journalism Conference (GIJC) e a Conferência Latino Americana de Jornalismo Investigativo (Colpin), realizada pelo Instituto Imprensa e Sociedade (Ipys), do Peru. Como bem definiu o diretor do Centro Knight, Rosental Calmon Alves, o congresso de 2013 será a "Copa do Mundo do jornalismo".
Por considerar que a história e os desafios da Abraji merecem ser conhecidos e servir de inspiração, o Centro Knight realizou uma reportagem especial em vídeo com os jornalistas que estiveram por trás de sua criação, num esforço voluntário por melhorar a qualidade do jornalismo brasileiro. Conversamos com o atual presidente da Abraji, Marcelo Moreira (TV Globo); com o vice-presidente José Roberto de Toledo (O Estado de S. Paulo); e com os diretores Marcelo Beraba (O Estado de S. Paulo), Angelina Nunes (O Globo), Fernando Rodrigues (Folha de S. Paulo), Cláudio Tognolli (ECA/USP) e Rosental Calmon Alves (Centro Knight).
Assista abaixo ao vídeo e conheça a história da Abraji, como pensam seus fundadores e os desafios para o jornalismo na próxima década.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.