Em meios de comunicação nativos digitais, jornalistas na América Latina descobriram playgrounds para o jornalismo independente, investigações aprofundadas e visualizações de dados criativas. No entanto, estas conquistas também trazem um conjunto de desafios, incluindo a sustentabilidade financeira tirando partido da tecnologia digital e da interação com comunidades.
A organização sem fins lucrativos mexicana Factual, que trabalha para melhorar a capacidade técnica de meios de comunicação e jornalistas latino-americanos, publicou recentemente seu "Primeiro Estudo de Mídia Digital e Jornalismo da América Latina" para descobrir as melhores práticas de um seleto grupo de meios de comunicação digitais na região.
“Desde 2008, a região tem experimentado um 'boom' de meios nativos digitais, agências de notícias que estão fazendo excelente jornalismo e transformando a forma como as histórias são contadas - mas ninguém havia parado para estudá-los de forma sistemática e em detalhe", contou Meléndez em uma entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
Os meios escolhidos são de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Peru, Uruguai e Venezuela. Eles precisavam ser sites nativos digitais sem edições impressas, com foco na política nacional e com uma equipe editorial fixa e atualizações de conteúdo frequentes, explicou Meléndez.
Os pesquisadores analisaram características como modelos de negócios, sustentabilidade, rentabilidade, equipamentos, o uso da tecnologia e melhores práticas associadas com o ambiente digital.
O estudo inclui resumos de cada meio de comunicação, olhando para os aspectos acima mencionados e para alguns projetos especiais criados por cada site.
Meléndez viu que esses sites de mídia digital eram inovadores na adoção de novos modelos de negócio e na utilização do jornalismo de dados para transmitir informações.
Com projetos como a série em cinco partes "Meninas em Jogo", baseada em quadrinhos e investigação de formato longo, Meléndez disse que a brasileira Agência Pública "encontrou novas maneiras de contar histórias complexas".
Ele apontou para o site pioneiro El Faro (El Salvador), que foi fundado em 1998 e diversificou seu modelo de negócios para incluir projetos como o "La Tienda El Faro", onde vende livros, música, filmes e desenhos.
E no Peru, Ojo Público “tem usado jornalismo de dados de modos formidáveis”, segundo Mélendez. O projeto “Cuentas juradas”, sobre as prestações de contas dos candidatos à prefeitos do país, ganhou o "Data Journalism Award" de 2015.
Depois de toda a sua pesquisa, o que Meléndez encontrou como o maior desafio para iniciar um meio de comunicação digital?
"Alcançar a sustentabilidade financeira, sem dúvida", disse Meléndez.
"O documento constatou que 85% dos veículos de notícias digitais começaram sem um modelo de negócio claro e dependendo pesadamente da publicidade", explicou Meléndez. "Isso torna mais difícil manter a sobrevivência e a independência editorial, e distrai fortemente a atenção do editor-chefe, que na maioria das vezes prefere dedicar seu tempo exclusivamente ao jornalismo."
Além disso, Meléndez disse que os meios de comunicação digitais ainda têm um longo caminho a percorrer para utilizar todo o potencial das tecnologias digitais.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.