Javier Darío Restrepo, jornalista, escritor, docente e professor de ética da Fundação Gabo, morreu neste 6 de outubro, em Bogotá, Colômbia, aos 87 anos de idade.
Desde 2000, o mestre Restrepo, como era conhecido, dirigiu o Consultório de Ética jornalística da Fundação Gabo e se tornou um “pilar e guia do jornalismo ético da Ibero-América”, conforme descreveu a fundação.
No entanto, seu trabalho jornalístico remonta a 1957, que ele praticou em diferentes meios como rádio, televisão e impressos. O chamado para o jornalismo aconteceu no seminário onde ele estudou para ser sacerdote, uma vida que ele também praticou por 17 anos, segundo narrou pelo cronista colombiano Alberto Salcedo Ramos em um perfil de Restrepo escrito em 2005.
Depois de dirigir jornais religiosos, começou a colaborar em jornais e revistas nacionais. “A essa altura, por certo, Restrepo sentiu que nadar nas duas águas o havia conduzido a um limbo incômodo: os sacerdotes consideravam que ele não era um deles, mas um repórter com batina. Aos jornalistas também parecia arrivista. Ele se dispôs então a acabar com uma só dor a ambiguidade, e se decidiu pelo jornalismo”, escreveu Salcedo Ramos.
Em seu trabalho como cronista, ele cobriu não apenas o conflito colombiano, mas também o de outros países como o Líbano e a Guatemala.
“Quando ele chegava aos hotéis depois de cumprir suas jornadas, pegava papel e lápis para escrever cartas para sua filha María José, nas quais contava os pormenores da violência que ele tinha que cobrir. O que a princípio parecia o exercício casual de um pai nostálgico, tornou-se depois de um tempo o livro ‘testigo de seis guerras’ (‘Testemunha de seis guerras’)”, narrou Salcedo Ramos. “A peregrinação de Restrepo com os originais debaixo do braço durou dois anos. Planeta foi uma das três editoras que rejeitaram o manuscrito, mas curiosamente foi Planeta quem finalmente o publicou, quando o livro ganhou o Prêmio Germán Arciniegas de Jornalismo, que a editora organiza.”
Este prêmio não foi o único. Sua trajetória jornalística lhe rendeu vários reconhecimentos e prêmios na Colômbia e no mundo.
Um dos mais recentes foi o reconhecimento de Excelência Jornalística do Prêmio Gabo em 2014. Também se destacam o Prêmio Nacional de Jornalismo Simón Bolívar, da Colômbia, em 1985 e 1986 na categoria televisão, bem como o Simón Bolívar À vida e obra de um jornalista em 1997. Ele também recebeu o prêmio nacional do Círculo de Jornalistas de Bogotá na categoria imprensa em 1993; além dos prêmios San Gabriel do Episcopado colombiano em 1994, o já mencionado Germán Arciniegas da Editorial Planeta em 1995 por seu livro ‘Testigo de Seis Guerras’ e o Prêmio Latino-Americano de ética jornalística concedido pelo Centro Latino-Americano de Jornalismo (CELAP), patrocinado pela Universidade Internacional da Flórida, em 1997, informou a Fundação Gabo.
Ele também se destacou por sua defesa da liberdade de imprensa. De fato, ele foi diretor da Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) da Colômbia e colunista dos jornais El Espectador, El Colombiano e El Heraldo.
Sua morte, cujas causas ainda são desconhecidas, foi uma surpresa. Apenas dois dias antes, em 4 de outubro, Restrepo participou do Festival Gabo de Jornalismo em Medellín, onde apresentou seu livro “La constelación ética” (“A constelação ética”). Em seu livro, ele reflete sobre a boa prática do jornalismo, disse a Fundação Gabo.
Muitos dos 22 livros dos quais ele é autor são dedicados ao estudo e à análise da ética jornalística, mas se destacam outros como “Cartas de Guerra” ou “La revolución de las sotanas”.
Assim que foi divulgada sua morte, diferentes meios e instituições, assim como jornalistas, expressaram suas condolências e seu carinho por este que era considerado por muitas gerações o mestre de jornalismo.
A Fundação Gabo, da qual ele participou por 24 anos como professor de oficinas, membro do conselho de administração, diretor do consultório ético e “conselheiro e guia”, foi uma das primeiras a se pronunciar. “Nos deixa órfãos de sua bonomia e sabedoria. Descanse em paz”, diz parte da mensagem.
“Estou cheio de pesar pelo falecimento de nosso querido mestre Javier Darío Restrepo, pilar insubstituível da @FundacionGabo, um dos maiores especialistas em ética jornalística do mundo, vencedor do #PremioGabo por excelência jornalística em 2014”, escreveu Jaime Abello Banfi, diretor geral da Fundação Gabo.
“A FLIP envia suas condolências à família de Javier Darío Restrepo. Não apenas foi um mestre do jornalismo, mas também foi essencial na defesa da liberdade de imprensa desde esta organização como fundador, diretor executivo e membro do conselho diretor”, escreveu a organização em sua conta no Twitter.
Sua amiga María Teresa Herrán, com quem escreveu o livro “Ética para periodistas” (“Ética para jornalistas”), anunciou a morte dele no Twitter na tarde de domingo. “Tristeza imensa. Morreu o amigo incondicional, o guia, o farol, o humanista, o escultor das palavras, o filósofo, o avô simples, o pensador, o ser humano integral: Javier Darío Restrepo ”, escreveu Herrán.
Daniel Coronell, jornalista e colunista colombiano e presidente da Noticias Univisión, também se uniu ao reconhecimento do trabalho de Restrepo. “Todo mundo recorda hoje Javier Darío Restrepo como o sábio e sossegado mestre. Eu, por outro lado, o evoco como um repórter feroz e implacável”, escreveu Coronell, que compartilhou uma anedota jornalística de Restrepo quando conseguiu fazer três “duríssimas e noticiosas perguntas” a Fidel Castro.
A jornalista mexicana Marcela Turati, que assim como Restrepo recebeu o prêmio de Excelência Jornalística em 2014, escreveu em sua conta no Twitter: “Morreu don Javier Darío, o mestre que nos falava do 'jornalismo do possível', da ética e da voz da consciência, do sentido do ofício, de buscar também as notícias que dão esperança, desse jornalismo chega a ser mais importante do que o pão. Obrigada, mestre".
“Cada vez que me entra a desesperança e duvido se o jornalismo realiza transformações, lembro o que dizia Don Javier Darío: As palavras que escrevemos são como pássaros que empreendem voo; algum vai colocar um ninho. Temos que ter fé de que isso acontece, mesmo que não consigamos ver”, acrescentou Turati.
“Com enorme tristeza, recebi a notícia do falecimento do grande amigo Javier Darío Restrepo, o colombiano que por décadas foi o grande mestre de ética no jornalismo da América Latina. Vamos sentir muito a sua ausência. Descansa em paz, amigo querido”, escreveu Rosental Calmon Alves, diretor e fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
Mestre Restrepo colaborou também com o Centro Knight em seu programa de ensino. Juntamente com o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), ele ministrou o curso 'Ética Jornalística' a profissionais daquele país em 2007.