Com a ajuda do sistema SecureDrop, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) lançou uma plataforma digital pela qual jornalistas e outras pessoas ao redor do mundo podem ser contatados com segurança para receber informações ou reclamações sobre violações à liberdade de imprensa.
SecureDrop é um sistema de código aberto para o envio de informações criptografadas que "permite vazamentos seguros e anônimos" para jornais ou outras organizações, explicou o CPJ em um comunicado. O SecureDrop é financiado pela Fundação para a Liberdade de Imprensa (FPF, na sigla em inglês).
"Em uma época de ameaças sem precedentes ao jornalismo online e offline, mediadas tecnologicamente, a adoção deste sistema avançado pelo CPJ nos ajudará a proteger os jornalistas que precisam de mais ajuda", acrescentou o comunicado. "Nunca houve uma maneira mais segura de dizer ao CPJ sobre as violações da liberdade de imprensa em todo o mundo - ou solicitar apoio direto quando ocorrem ameaças por reportagens."
Para Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, a plataforma terá um impacto importante para jornalistas da região, visto os "cada vez mais frequentes” casos de vigilância relatados ao e pelo CPJ.
"Documentamos questões de monitoramento e o impacto que isso tem sobre as fontes na região", disse Lauría ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. "Por exemplo, na Colômbia, é uma prática muito comum e tem sido amplamente utilizada pelos serviços de inteligência para monitorar as comunicações de políticos de oposição, juízes de tribunais superiores, sindicalistas e muitos jornalistas. O escândalo das ‘chuzadas’ apenas coloca tudo isso em evidência.”
Lauria enfatizou situações como as que acontecem na Venezuela, Equador e Cuba, onde assegurou ser "uma prática comum”. Ele também destacou que a questão da vigilância não é exclusiva de organizações estatais, mas é também usada por atores privados.
Mesmo que o CPJ não tenha sido informado de represálias contra jornalistas, eles consideram que segurança eletrônica é um tema a ser adotado pelos jornalistas. Nesse sentido, um estudo recente observou que os jornalistas na América Latina não têm conhecimento de segurança eletrônica suficiente e por isso não tomam medidas de protecção.
Para o lançamento da plataforma SecureDrop do CPJ, membros do programa de tecnologia CPJ baseados em San Francisco (EUA) trabalharam durante meses com a FPF. Depois de ser testado, o sistema foi movido fisicamente para a sede do CPJ em Nova York.
A organização disse em comunicado que, para poder contatar-los é preciso instalar a versão mais recente do navegador Tor e ir para a direção segura do CPJ na SecureDrop. [Veja instruções detalhadas sobre o processo.]
"Vivemos em um mundo onde a onipresença da vigilância estatal requer jornalistas a pensar e agir como espiões. Mesmo estados relativamente livre como Estados Unidos e Reino Unido estão envolvidos na vigilância massiva, e muitos outros países usam a tecnologia para prejudicar os jornalistas e suprimir o jornalismo", disse o CPJ. "Nesse ambiente, ferramentas como SecureDrop continuarão a ser necessárias para a prática efetiva do jornalismo, sem comprometer repórteres ou suas fontes."
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.