Atualização (10 de junho de 2016): Após a repercussão da notícia de que o WhatsApp havia bloqueado a comunicação entre o jornal Extra, do Rio de Janeiro, e 70 mil leitores, o serviço de mensagem foi restabelecido na noite desta quinta-feira, 9.
Nota orginial (7 de junho de 2016): O jornal Extra, do Rio de Janeiro, é conhecido internacionalmente como um pioneiro no uso de plataformas digitais de messagens, principalmente o WhatsApp, em sua comunicação com milhares de leitores. Mais de 70 mil usuários do WhatsApp e leitores do Extra, no entanto, foram prejudicados pelo súbito cancelamento de contas do jornal porque os robots da plataforma de mensagens as identificam como possível spam, de acordo com o jornal.
Há duas semanas, a conta usada pelo jornal foi bloqueada pela quarta vez e, nesta segunda-feira, 6, o novo número divulgado há apenas quatro dias foi banido pelo aplicativo, afirmou Fábio Gusmão, editor online do Extra, em entrevista ao blog do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
“O mais triste é que quando tem bloqueio por algum juiz, o CEO do WhatsApp faz um discurso libertário dizendo que são 100 milhões de brasileiros punidos. Mas e os meus 70 mil que são cadastrados e nos procuram? E as pessoas que estão agora neste momento sofrendo com abuso policial e nao têm canal pra falar com a gente?”, afirmou Gusmão.
A partir de agora, o editor afirma que os leitores que quiserem enviar denúncias e informações ao Extra por serviço de mensagem deverão usar o aplicativo Telegram, e cadastrar-se no número (21) 99644-1263.
Outros veículos brasileiros também tiveram contas bloqueadas no WhatsApp e precisaram mudar de número, caso do Diário Gaúcho e do Sistema Globo de Rádio, segundo Gusmão.
Os problemas de bloqueio no Extra tiveram início em dezembro de 2013. Na ocasião, Gusmão contatou o CEO do WhatsApp, Jan Koum, e conseguiu o retorno do serviço. Contudo no fim do ano passado, um segundo número utilizado para se comunicar com os leitores também foi bloqueado.
Por causa do alto fluxo de mensagens envolvendo um mesmo número de telefone, Gusmão disse que o sistema entende que se trate de um caso de spam e bloqueia o acesso.
O editor do Extra conta que, inicialmente, os representantes do aplicativo afirmavam que o uso do mensageiro para fins jornalísticos não estava no foco da empresa, e não havia previsão a curto prazo de se abrir um canal para veículos de comunicação.
Depois que o serviço foi bloqueado novamente no fim do ano passado, o discurso mudou: Gusmão disse que foi procurado pela companhia para que explicasse como a redação estava usando o aplicativo, e questionado se haveria interesse em se pagar por um serviço personalizado.
Representantes do WhatsApp não atenderam ao pedido de entrevista encaminhado pelo Centro Knight.
Inovação
O trabalho desenvolvido pelo Extra foi pioneiro. O aplicativo começou a ser usado na redação do Extra durante os protestos de junho de 2013, e rapidamente se estabeleceu como uma ferramenta de diálogo entre o jornal e seus leitores.
“Começamos a ver uma oportunidade ali. Eu percebi que as pessoas estavam usando em grupos, divulgando conteúdo, vídeo, foto, tudo o que a gente faz no jornalismo. Desde o início eram dois caminhos: a gente enviava e recebia informação”, conta Gusmão. “As pessoas começaram a confiar na gente e a passar informações que elas normalmente teriam medo de divulgar.”
Ao longo de três anos, o número de leitores cadastrados no WhatsApp do Extra passou dos 338 registrados nas primeiras 48 horas para mais de 70 mil. As informações recebidas de leitores ajudaram na divulgação de crimes e em denúncias de problemas em serviços essenciais, como transporte público e acesso a atendimento hospitalar.
O modelo do Extra chegou a ser elogiado pelo diretor operacional do Instituto Newseum, Gene Policinski, e foi finalista na categoria “Engajamento com o Leitor” no Prêmio Mídia Digital da Associação Mundial de Jornais (WAN-INFRA, da sigla em ingles).
“O leitor está a três toques da gente: um pra abrir o aplicativo, outro pra filmar e outro pra enviar pro Extra. Você não pode desprezar isso. É de uma miopia absurda, de uma arrogância absurda”, lamenta Gusmão.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.