Segunda-feira, horário nobre em Cuba. Enquanto a televisão estatal transmitia um novo episódio de "As razões de Cuba", série jornalística que faz acusações contra a oposição, e desta vez falava dos blogueiros independentes, a líder deste movimento, Yoani Sánchez,transmitia o seu próprio programa de entrevistas com jornalistas dissidentes, onde defendeu o direito de acesso e uso da Internet na ilha, de acordo com a Rádio Martí.
Sánchez subiu em seu blog Geração Y um vídeo, ironicamente batizado de "Razões do Cidadão", que reproduz o formato do principal programa cubano de propaganda política, a Mesa Redonda (La Mesa Redonda). Sánchez e as blogueiras Miriam Celaya e Dimas Castellanos, junto com os jornalistas Dagoberto Valdés e Reinaldo Escobar e o advogado Vallín Wilfredo abriram um espaço para discussão e análise dos acontecimentos atuais e das limitações impostas ao exercício da cidadania na ilha, informa o jornal El Nuevo Herald.
Em meia hora de conversa, a premiada blogueira Yoani Sánchez criticou a obsessão das autoridades cubanas pelo bloqueio do acesso do público à Internet e as dificuldades de comunicação em um país onde uma hora de conexão na rede custa entre US$ 8 e US$ 12 e é restrita aos hotéis e cibercafés.
Sánchez disse que o governo "demoniza a tecnologia e a internet" por temer que as redes sociais possam desempenhar um papel semelhante ao que tiveram nos países árabes, segundo a EFE. "Isso me assusta porque o acesso à rede é hoje um direito humano no mundo", disse ela. "Um governo que o restringe e demoniza sabe que está comprometendo o desenvolvimento de sua nação no muito longo prazo."
Enquanto isso, a televisão estatal acusava a blogueira de ser parte de um movimento de "cibermercenários" a serviço dos Estados Unidos, cujo objetivo seria "gerar fontes de conflito interno por meio da utilização das novas tecnologias", explica o La República.
"A guerra cibernética não é uma guerra de balas e bombas, mas de informação, comunicação e algoritmos. É a nova forma de invasão que se originou nos países desenvolvidos ", afirmou o programa, citado pela Voz da América.
Longe de expressar preocupação, a blogueira recebeu o ataque com humor e disse em seu Twitter que agora ninguém poderá dizer "que os blogueiros alternativos não conheço ninguém."
"Estou tão feliz!", escreveu Sanchez. “Finalmente a blogosfera alternativa está na TV oficial, mesmo que seja para ser insultada."
Sánchez destacou que a propaganda do regime dos irmãos Castro, sem direito à réploca, funcionava bem na década de 1970 e 80, quando o monopólio estatal sobre a informação existia. Mas agora, em uma nova era, “os telefones celulares, os kilobytes e o Bluetooth fazem o chato discurso oficial perder terreno”.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.