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À medida que as plataformas sociais retiram seu apoio, checadores de fatos profissionais combatem o 'ataque sistêmico' aos fatos

  • Por Sarah Berger
  • 31 março, 2025

Discernir a verdade de mentiras nas redes sociais é um desafio quando as plataformas querem manter os usuários no escuro. Então, o que isso significa para os jornalistas que trabalham para combater a desinformação?

Checadores de fatos profissionais falaram em um painel no 26º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) na quinta-feira, 27 de março. Liderados por Lucas Graves, professor de jornalismo na Universidade de Wisconsin-Madison, eles discutiram a desinformação possibilitada pelas plataformas sociais numa era em que os jornalistas devem combater a rejeição às notícias, a desconfiança e o acesso limitado à informação.

De acordo com um relatório do Reuters Institute de 2024, apenas 40% dos entrevistados disseram confiar "na maioria das notícias na maior parte do tempo", disse Graves ao público do ISOJ. Além disso, 40% das pessoas entrevistadas disseram que evitam notícias.

Porém, há um lado positivo: as pessoas ainda valorizam a checagem de fatos e a transparência.

"Houve boas notícias neste relatório", disse Graves. "A mesma pesquisa mostra que as pessoas têm muita dificuldade em decidir o que é real e o que é falso na internet e querem ajuda para fazer isso. Eles valorizam organizações de notícias que sejam transparentes, tenham padrões elevados e sejam justas."

Em janeiro, a Meta anunciou que abandonaria seu programa de checagem de fatos nas redes sociais, que pagava checadores terceirizados para revisar o conteúdo. Graves perguntou a cada palestrante se eles achavam que isso teria consequências globais.

Clara Jiménez Cruz, presidente da Rede Europeia de Normas de Checagem de Fatos e cofundadora da Maldita.es, respondeu com um rápido e retumbante sim.

"O programa de checagem de fatos da Meta foi um programa que adicionava contexto e não censurava o conteúdo de ninguém", disse Cruz. "Os checadores de fatos podiam rotular o conteúdo para que, sempre que um usuário o encontrasse, tivesse o contexto de um checador dizendo: 'Ei, tenha cuidado com isso'".

Glenn Kessler, editor e redator-chefe do The Fact Checker do The Washington Post, destacou o papel fundamental da Meta na criação de organizações de checagem de fatos em todo o mundo. O que é necessário, porém, são mais checadores de fatos que não sejam todos afiliados à mesma empresa.

"Sempre tive um certo temor de que, na comunidade de checagem de fatos, estivéssemos dependendo demais de uma organização para sustentar a checagem de fatos", disse Kessler. A Meta "certamente foi útil, certamente espalhou a checagem de fatos por todo o mundo. Mas também mostra como você pode estar sujeito aos caprichos de um bilionário".

Laura Zommer, diretora executiva e cofundadora da Factchecqueado, disse que já ultrapassamos o tempo da Meta como plataforma de neutralidade.

"Como checadores de fatos, precisamos deixar claro que Mark Zuckerberg está mentindo e ele sabe disso", disse Zommer. "A razão pela qual ele está mentindo é porque não pode dizer ao público ou aos usuários da plataforma que decidiu priorizar seu negócio para se alinhar ao governo de Donald Trump."

A política da checagem de fatos

Graves perguntou aos palestrantes se eles temem que estejamos entrando em um mundo onde as plataformas sociais favorecem determinados candidatos, partidos políticos e aliados em diferentes países.

Kessler disse que esse mundo já existe, já que o X é agora um "canal de propaganda 24 horas por dia, 7 dias por semana para a administração Trump e tudo o que Elon Musk considera importante". Ele disse que os usuários devem buscar estrategicamente conteúdo de diferentes perspectivas para obter mais nuances, algo que é mais fácil falar do que fazer com a mídia digital.

"Você é o mestre do conteúdo que vê", disse Kessler. "Mas com a forma como estes algoritmos são desenvolvidos, é cada vez mais difícil filtrar coisas que são imprecisas e falsas, e neste momento as organizações de checagem de fatos não têm a base para combater isso de uma forma que tornaria as pessoas mais informadas."

Zommer disse que em uma era de preconceito algorítmico, a Factchequeado concentrou-se em parcerias com pessoas fora da indústria da mídia para se conectar com mais comunidades. Um método comprovadamente bem-sucedido, embora controverso, é pagar influenciadores para ajudar a divulgar conteúdo de checagem de fatos, pois eles "seguem a lógica do algoritmo". Ela disse que isso ajuda a Factchequeado a alcançar um público mais amplo.

Mas os checadores de fatos têm de ser criativos, agora que a obtenção de informações precisas acarreta obstáculos políticos e logísticos.

Kessler falou sobre ataques contra agências dos Estados Unidos, como a USAID, e a subsequente remoção de dados públicos de sites federais. Embora já tenha considerado o governo dos EUA uma fonte confiável de informações detalhadas, ele disse que abandonou essa narrativa.

"O que estamos vendo agora sob esta administração é um ataque sistemático aos dados básicos que ajudam a informar os relatórios, ajudam a informar a checagem dos fatos", disse ele.

Zommer compartilhou sua experiência na checagem de fatos de administrações políticas em seu país natal, a Argentina, onde disse que era comum as administrações que estavam deixando o poder removerem dados do governo antes da chegada de um partido de oposição.

"Em nossos países", disse ela, "eles sempre deletam o que não gostam."

Encontrando um caminho a seguir

Cruz disse que os checadores de fatos têm visto campanhas sistemáticas de desinformação online há anos, citando a pandemia da COVID-19 e a crise climática global, mas têm sido ingênuos quanto aos impactos. É hora de tratar a desinformação como a séria ameaça que é, disse ela.

"Estamos combatendo uma narrativa que existe para minar a democracia e mudar o mundo como o conhecemos", disse Cruz. "Talvez seja tarde demais, mas ou começamos a chamar as coisas pelo nome que têm ou então estaremos muito atrasados."

Kessler concordou com Cruz, dizendo que os checadores de fatos devem "envolver as pessoas no espaço onde procuram informações". Ele disse que está tentando encontrar maneiras criativas e divertidas de atrair mais atenção para o boletim informativo do Fact Checker.

Zommer disse que os checadores de fatos deveriam se concentrar na distribuição, especialmente quando tantas pessoas evitam ativamente as notícias. Devem atingir públicos que vão além daqueles que já estão preocupados com a democracia, ressaltou.

"O que precisamos fazer é mais colaboração, discussões mais profundas, mas também ações viáveis para iniciar a resistência", disse Zommer.


* Sarah Brager está no último ano da Universidade do Texas em Austin e estuda jornalismo e políticas públicas. Este é o seu terceiro ano de voluntariado no ISOJ. Você pode encontrar seu trabalho no Texas Monthly, Texas Standard, The Daily Texan, Austin American-Statesman e Community Impact.

Traduzido por marta Szpacenkopf
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