A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), uma das mais importantes e atuantes organizações do gênero no mundo, foi escolhida Personalidade de 2013 do Prêmio Faz Diferença, promovido há 11 anos pelo jornal O Globo. O anúncio foi feito neste sábado (27/01) pela publicação, que ressaltou a contribuição da Abraji para a liberdade de expressão e informação no país.
O reconhecimento é fruto do trabalho de mais de uma década da associação, que no ano passado sediou o mais importante evento global do jornalismo investigativo, com mais de mil participantes do mundo todo. "Começou com uma troca de e-mails e uma salinha dentro de uma universidade. Continuou com a realização de cursos e palestras. Acabou sendo uma das principais impulsionadoras da aprovação da Lei de Acesso à Informação Pública, além de ter tido papel essencial na proteção de profissionais da imprensa, durante os protestos do ano passado nas ruas do país", afirmou O Globo.
A ideia da Abraji nasceu em meio a um clima de tragédia: o assassinato do repórter Tim Lopes, da Rede Globo durante apuração de uma reportagem sobre exploração sexual de menores na comunidade de Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, em junho de 2002. O crime suscitou preocupações até então inéditas entre alguns jornalistas, que decidiram se unir em torno daquilo que mais motivava Tim Lopes, a reportagem investigativa.
O Centro Knight para Jornalistas nas Américas, que nascia justamente naquela época, juntou-se aos colegas e amigos de Tim para realizar a primeira atividade oficial da entidade: o seminário internacional “Jornalismo Investigativo: Técnicas, Ética e Perigos”, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, em agosto de 2002. Vários especialistas dos Estados Unidos e da América Latina se juntaram a seus colegas brasileiros para discutir aspectos do jornalismo investigativo.
Depois do seminário, repórteres e editores continuaram as discussões numa lista de e-mail até hoje hospedada pelo Centro Knight, na Universidade do Texas em Austin. Na lista, havia vários jornalistas que já estavam pensando na necessidade de se criar no Brasil algo similar à Investigative Reporters & Editors (IRE) dos Estados Unidos. O resultado foi o lançamento, em dezembro de 2002, da Abraji.
De lá para cá, a organização já treinou cerca de seis mil jornalistas e estudantes, realizou oito congressos de jornalismo investigativo, 61 cursos presenciais, 33 on-line e 14 palestras. "O trabalho da Abraji simboliza (...) o esforço de constante aperfeiçoamento do jornalismo profissional brasileiro, para exercitar da melhor maneira possível a liberdade de imprensa como estabelecida na Constituição", destaca O Globo no anúncio do prêmio.
Além da capacitação, a atuação da Abraji tem sido fundamental em temas como segurança de jornalistas, transparência governamental e novas técnicas de reportagem. À frente da associação já estiveram os jornalistas Marcelo Beraba, Angelina Nunes, Fernando Rodrigues, Marcelo Moreira e o atual presidente, José Roberto de Toledo.
Na 9ª edição de seu congresso anual, que acontecerá no próximo mês de julho em São Paulo, a Abraji terá como foco o ensino de técnicas de jornalismo de dados. "Selecionar e conectar, contextualizar os dados, por reportagens aprofundadas. Aí entram técnicas de jornalismo de dados, que atendem essa demanda por informações de qualidade; esse será um dos eixos do congresso deste ano. Ninguém faz esse papel que a gente faz, de seleção e de conexão da informação", afirmou Toledo, pioneiro da Reportagem com Auxílio de Computador (RAC) no Brasil, ao O Globo.
Em sua 11ª edição, o prêmio Faz a Diferença tem como objetivo homenagear brasileiros e instituições que contribuíram para mudar o país em áreas como cultura, ciência e saúde, economia e educação. A escolha dos indicados é feita por jurados do corpo editorial do jornal. No caso da categoria País - na qual a Abraji foi eleita - o júri é formado pelos jornalistas Fernanda da Escóssia, Ilimar Franco e Jorge Bastos Moreno.