Mulheres jornalistas, comunicadoras, programadoras e designers na mídia latino-americana são como diamantes se formando sob grande pressão, para a CEO e fundadora das Chicas Poderosas, Mariana Santos. E, com uma nova incubadora para empreendedoras em meios de comunicação, a organização quer trazer essas pedras preciosas para a superfície.
O New Ventures Lab, uma ferramenta para acelerar a criação de empresas de jornalismo e de mídia com mulheres no comando, vai ser implantado no início do próximo ano no Brasil. Serão 17 semanas de mentoria, a partir do dia 22 de janeiro, com business developers de start ups tecnológicas de sucesso, jornalistas e empreendedores de mídia do Brasil e do resto da América Latina.
Chicas Poderosas é um movimento global que começou em 2013, quando Santos era Knight International Journalism Fellow do International Center for Journalists, para empoderar mulheres na área de tecnologia em meios de comunicação digitais da América Latina. Hoje, a organização tem presença em 11 países da região.
“Vamos tentar trazer design thinking e experiência centrada no usuário em tudo o que fazemos e o jornalismo não é exceção. Temos uma parceria com designers da IDEO que nos vão ajudar a espalhar pelo Brasil esta técnica de pensamento criativo e de colaboração”, disse Santos, jornalista portuguesa, ao Centro Knight.
O objetivo é mudar um cenário desestimulante para mulheres que trabalham na imprensa ou querem lançar novos projetos. Geralmente, os cargos editoriais ou de gerência são ocupados por homens. Estas posições-chave decidem quais notícias são publicadas e quais serão compartilhadas com o público, escreveu Vicki Hammarstedt, co-diretora de Chicas Poderosas e diretora de mídia digital no Berkeley Advanced Media Institute, na apresentação do projeto.
“Esta desigualdade resulta em reportagens tendenciosas e na supressão das vozes de mulheres, o que impacta os direitos de mulheres e meninas, a estrutura social e econômica, o engajamento cívico e a governança democrática – fatores importantes para o bem-estar de mais da metade da população da América Latina”, declarou Hammarstedt.
Inicialmente, três cidades brasileiras vão funcionar como pólos da incubadora de empreendedorismo: Recife, que é um centro tecnológico e inovador e geograficamente destacado dos centros de São Paulo e Rio; Manaus, que servirá para incluir mulheres de zonas mais afastadas, rurais e do interior; e São Paulo, que será a sede do New Ventures Lab, com parcerias do Google Campus e o Google News Lab.
“Escolhemos o Brasil pois é um dos países em que neste momento existe mais corrupção política e em que por vezes a liberdade de imprensa fica em risco. Queremos formar mais mulheres empreendedoras e motivadas a mudar o panorama geral com ideias de colaboração, inovação e liderança no digital”, explicou Santos.
A partir de outubro, as três cidades vão receber ‘design thinking weekends’, workshops onde grupos de novas empresas de mídia e jornalismo vão poder se inscrever na incubadora. Homens podem participar da equipe, mas as Chicas querem mulheres na liderança, como CEOs.
“Estamos fazendo uma grande aposta no crescimento de mulheres líderes digitais e empreendedoras, e tentando criar oportunidades para que as suas ideias tenham asas. Já existem projetos espetaculares no Brasil. Com Chicas, o que queremos é fazer sinergias e criar momentos de serendipity para que a magia se multiplique”, disse Mariana.
No Brasil, onde a maioria dos jornalistas é do sexo feminino, nada seria mais natural que elas também fossem as mais empreendedoras, segundo uma das embaixadoras das Chicas no país, a jornalista Adriana Garcia. Embora a incubadora ainda não esteja em funcionamento, o movimento brasileiro já conta com uma rede informal de mentorias, conversas e apoios para mulheres que querem lançar projetos próprios.
A ideia começou no ano passado, durante um hackathon sobre esportes paralímpicos no Rio de Janeiro. “Eu estava no comando do digital dos Jogos Rio 2016. Foram dois dias intensos para produzir infografias sobre o tema, depois distribuídas à imprensa. Desde então, estamos discutindo como o Chicas pode dar mais apoio a meninas que têm projetos e querem empreender”, contou Garcia ao Centro Knight.
O futuro já parece positivo para as mulheres empreendedoras latino-americanas: uma pesquisa da SembraMedia divulgada no 10º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital revelou que mais de 60% dos sites de mídia digital na região têm liderança feminina.
“Eu acredito que é um ótimo sinal e uma grande pedra de toque, para que tenhamos mais role models e mais casos de sucesso nas redes que se podem apoiar. Chicas funciona por colaboração, espírito de equipe e mentoria, assim que esperamos que as mulheres empreendedoras da região possam ter mais apoio e assim voar mais alto”, concluiu Santos.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.