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Como uma nova estação de rádio na Cidade do México usa as mídias sociais para fazer jornalismo local

  • Por Hanaa' Tameez
  • 13 novembro, 2023

Esta matéria foi publicada originalmente pelo Nieman Journalism Lab da Universidade de Harvard, que autorizou sua republicação neste espaço.

O que acontece quando uma capital de 22 milhões de pessoas espalhadas em 16 distritos não dispõe de uma quantidade suficiente de fontes de jornalismo local para dar conta de seu tamanho gigantesco?

Bem-vindo à Cidade do México, onde esta é uma realidade que uma nova estação de rádio busca transformar.

A Radio Chilango, lançada no dia 28 de agosto, é a mais nova iniciativa da Chilango, uma revista de notícias e cultura que cobre a Cidade do México. A nova estação estreia com quatro programas: o matinal “¿Qué chilangos pasa?” discute as notícias mais importantes do dia, assim como dicas para sobreviver aos desafios particulares da megalópole, como o seu trânsito, poluição do ar, gentrificação e obras.

(“Chilango é um apelido gentílico para as pessoas da Cidade do México. “¿Qué pasa?” significa “o que está acontecendo?” enquanto “¿Qué chingados pasa?” significa “Que porra está acontecendo?” Repetir a expressão com “chilangos”, portanto, é um sagaz jogo de palavras).

Já o “Sopitas” é um programa de artes, cultura e tecnologia. O “Vamos tranqui”, por sua vez, informa aos ouvintes sobre os próximos eventos e explica as tendências e questões locais atuais.

Finalmente, o  “Esto no es un noticiero” explica os grandes temas do noticiário nacional e internacional com humor e em termos leigos. 

Todos os programas duram de uma a duas horas cada e apresentam entrevistas e segmentos de conversa com especialistas locais, autoridades, jornalistas e outros.

A Cidade do México não é exatamente um deserto de notícias, disse Mael Vallejo, diretor editorial da Rádio Chilango e vice-presidente de conteúdo da Capital Digital, uma agência de produção de conteúdo para marcas e controladora da Chilango. 

Quase todos os principais meios de comunicação nacionais do país – impressos, digitais, TV e rádio – estão sediados na capital. Jornais diários legados como Reforma, Milenio, e Excelsior já tiveram editoriais de jornalismo de cidade robustas, mas seu número diminuiu nos últimos anos. 

A cobertura da cidade em todos os meios geralmente se concentra em temas ligados a crime, segurança pública e política, enquanto outras questões locais são abordadas através de uma lente nacional, disse Vallejo.

“A ideia deste primeiro [lançamento] é mostrar que não somos e não queremos ser como as estações de rádio tradicionais do México”, disse Vallejo.

De acordo com um estudo nacional de 2022 do Instituto Federal de Telecomunicações do México, 38% dos entrevistados disseram escutar rádio. Destes, 41% afirmaram ouvir notícias no rádio, tornando esta a segunda categoria mais popular depois da música. Setenta por cento dos ouvintes disseram que com frequência sintonizam a rádio entre 6h e meio-dia.

“Na Cidade do México, rádio ainda é uma forma importante de comunicação”, disse Vallejo. “Há uma camada social que não ouve mais rádio, mas ouve muito mais podcasts ou usa o Spotify. Mas as pessoas que viajam de carro – passageiros, motoristas de táxi, passageiros de Uber e motoristas – escutam rádio o tempo todo. O que vimos é que não havia uma emissora  exclusivamente dedicada ao que acontece numa cidade de 22 milhões de habitantes”.

Esta não é exatamente uma história de “volta ao básico”. Em vez disso, Vallejo disse que a Rádio Chilango tem duas vertentes: uma é chegar aos atuais ouvintes de rádio através de um meio que eles já utilizam e preencher um vazio de oferta de informações local.

A segunda é alcançar novos públicos em meios e plataformas com o conteúdo dos programas de rádio. Juntamente com a transmissão via rádio, a Rádio Chilango pode ser transmitida em seu site e está trabalhando com transmissões via YouTube,TikTok, Instagram e um canal no  WhatsApp (o YouTube e o TikTok são as plataformas que mais crescem para distribuição de jornalismo no México). Todos os programas são gravados como podcasts e também filmados. Os resumos de notícias e discussões são editados e reempacotados em vídeos curtos para TikTok e Instagram.

“Não é que queiramos que as pessoas ouçam rádio [como um novo hábito]. Queremos gerar conteúdo bom o suficiente para que, em cada uma das plataformas em que estamos, as pessoas digam ‘Ah, isso me interessa’”, disse Vallejo. “Se você nunca vai ouvir rádio mas quer se inscrever no nosso canal de WhatsApp, porque é lá que você vai encontrar novidades, ou se segue no TikTok porque prefere se informar em clipes de 30 segundos do que ouvir para um programa completo, não faz diferença para nós. A ideia não é apenas fazer um funil para uma das plataformas, mas entender que o público está ali e que temos que encontrá-lo ali”.

A Chilango está em uma posição única para se expandir para novos meios. A revista celebrará seu 20º aniversário em novembro. Ela foi lançada pela primeira vez em 2003 como um guia de turismo no estilo Time Out para ajudar as pessoas a aproveitarem ao máximo a cidade. Desde então, a publicação evoluiu para também produzir jornalismo aprofundado sobre questões como racismo,desigualdade de renda,poluição do ar, e inteligência artificial. Vallejo comparou a Chilango de hoje à New York Magazine, por ambas misturarem notícias concretas e jornalismo de serviço com matérias sobre estilo de vida e cultura.

Juntamente com a revista Chilango e a Rádio Chilango, a Capital Digital possui publicações de notícias e estilo de vida como o Pictolina (que explica questões latino-americanas por meio de gráficos), a UnoCero (abrange tecnologia para usuários), o Sopitas (entretenimento e cultura pop), e o Más por más (um jornal diário gratuito na Cidade do México que em breve será renomeado para Chilango Diario). Cada publicação é monetizada com publicidade gráfica, conteúdo nativo, eventos pagos e patrocínio por projeto. Vallejo disse que essas estratégias serão adaptadas para o áudio para a Rádio Chilango e que eles também monetizarão vídeos em plataformas como o YouTube.

A Capital Digital trabalha principalmente com empresas e não aceita publicidade de partidos políticos, mas às vezes aceita publicidade de entidades governamentais, como o Departamento de Turismo, que promovem a exploração da cidade. 

Os seus objetivos futuros são criar uma incubadora para talentos locais de áudio  e, eventualmente, tornar-se a fonte de referência para notícias da Cidade do México em todos os meios de comunicação.

“Não se trata apenas de guias de restaurantes, bares, taquerias e museus”, disse Vallejo, “mas também a grande marca que faz jornalismo na Cidade do México”.

Traduzido por André Duchiade
Esta matéria foi publicada originalmente pelo Nieman Journalism Lab da Universidade de Harvard, que autorizou sua republicação neste espaço.

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