Autoridades de imigração dos Estados Unidos concordaram em examinar novamente o caso de um jornalista mexicano que fugiu de seu país há nove anos devido a ameaças à sua vida.
O Conselho de Recursos de Imigração (BIA, na sigla em inglês) concordou em reconsiderar um recursoapresentado em nome de Emilio Gutiérrez Soto e seu filho. Um juiz de imigração de El Paso negou seu pedido de asilo em julho de 2017, e um primeiro apelo à BIA havia sido negado no início de novembro por ter sido "solicitado de maneira inadequada".
"Levando em consideração os argumentos e as provas apresentadas com a moção, concordamos que a reintegração do recurso dos inquiridos é justificada no interesse da justiça", escreveu o BIA em uma decisão datada de 22 de dezembro.
Como o BIA decidiu rever o recurso, Gutiérrez não pode ser deportado, disse o advogado do jornalista, Eduardo Beckett, ao Centro Knight. No entanto, ele e seu filho continuam detidos.
"Nenhum jornalista ou mesmo qualquer candidato a asilo que é crível, não tem histórico de crimes, não é uma ameaça para a segurança nacional, não é uma ameaça para a comunidade, tem um lugar para viver, deveria ser tratado como um criminoso e ser detido, enjaulado como um animal", disse Beckett.
O National Press Club (NPC), organização de jornalismo baseada em Washington DC que liderou uma campanha em nome de Gutiérrez, também instou o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) para libertar pai e filho enquanto o BIA reconsidera o caso.
O diretor-executivo da NPC, Bill McCarren, e o deputado dos EUA Beto O'Rourke, que representa El Paso, se encontraram com Gutiérrez e oficiais do ICE no dia 22 de dezembro, antes da divulgação da última decisão do BIA.
"Conheci muitas pessoas com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e parece que Emilio está sofrendo", disse McCarren, de acordo com o El Paso Times. "Ele queria que soubéssemos que ele está firme em sua convicção e aprecia muito o que [Eduardo] Beckett tem feito, mas gostaria muito de ser libertado".
Beckett disse que, durante a visita, ele também conseguiu apresentar assinaturas de apoio ao jornalista, reunidas pelo NPC, como parte do pacote de liberdade condicional de seu cliente.
A decisão do BIA é o mais recente capítulo no caso de Gutiérrez depois que o conselho concedeu ao jornalista e a seu filho uma estadia de emergência em 7 de dezembro. A decisão foi proferida no momento que os agentes do ICE estavam prestes a deportar pai e filho. Apesar de terem sido salvos da deportação, os dois estão detidos desde então.
O caso de Gutiérrez recentemente ganhou atenção internacional dos defensores do jornalismo e chegou a manchetes nacionais nos EUA.
Tanto o Washington Post quanto o Houston Chronicle pediram que os EUA concedam asilo ao jornalista.
"Como um relatório da ONU publicado este mês concluiu, citando as mortes, desaparecimentos e ataques contra dezenas de jornalistas registrados pela Comissão de Direitos Humanos do México, ‘os dados ... apresentam um panorama da situação dos jornalistas no México que não pode ser descrito de outra maneira além de catastrófico’”, afirmou o editorial do Post. "Diante desse cenário, parece arrogante descartar a ameaça que o Sr. Gutiérrez enfrentará caso seja deportado para o México. Ele deveria receber asilo."
Beckett disse ao Centro Knight que Gutiérrez está deprimido, mas feliz depois de saber sobre a decisão do BIA de reconsiderar o recurso e comovido com o apoio de organizações internacionais. No entanto, Beckett disse que a saúde do jornalista está se deteriorando.
Gutiérrez trabalhou no Diario del Noroeste, no Estado de Chihuahua, antes de fugir para os EUA com seu filho em junho de 2008 por temer por suas vidas. Ele havia sido informado de que militares mexicanos planejavam matá-lo devido à sua denúncia de abusos contra civis por militares. O jornalista se apresentou a agentes dos EUA na fronteira e declarou sua intenção de reivindicar asilo, mas foi detido por mais de sete meses. Seu filho foi mantido detido separadamente por um período de tempo mais curto.
Nos últimos nove anos, a família Gutiérrez passou por numerosos adiamentos de seu caso e enfrentou múltiplas ameaças de deportação. Durante esse período, Gutiérrez tem criticado a corrupção no governo mexicano e seus supostos vínculos com grupos criminosos.
A violência contra jornalistas no México continuou a taxas recorde durante esse período. Um relatório recente do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) reportou níveis históricos de assassinatos de jornalistas no México, apesar das reduções globais no número de jornalistas mortos por seu trabalho. O número de jornalistas mortos no país somente em 2017 varia entre seis e 13, dependendo da organização que registra os números. O México também ocupa o sexto lugar no Índice Global de Impunidade do CPJ,que lista os países onde os assassinatos de jornalistas permanecem impunes.