“Apaixonado e visionário”. Para o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Fernando Rodrigues, são essas características, citadas pelo norte-americano Brant Houston, que sintetizam o motivo da homenagem a Rosental Calmon Alves, fundador e atual diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, no segundo dia do 6º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em 1º de julho.
Em um auditório lotado, com mais de 500 pessoas, Alves ouviu emocionado relatos sobre sua carreira de amigos e admiradores conquistados ao longo dos anos de prática jornalística. Entre eles, nomes importantes da imprensa brasileira como os colunistas Clóvis Rossi e Miriam Leitão.
“O grande defeito do Rosental, pelo menos do meu ponto de vista, é que não consigo me decidir entre elogiar o ser humano ou o profissional, porque esse rapaz é craque em ambas as categorias”, brinca Rossi.
Todos os anos, a Abraji faz uma homenagem a um jornalista brasileiro por sua carreira destacada e por sua contribuição ao jornalismo. No congresso do ano passado, o professor Rosental Alves foi convidado a apresentar a homenageada, a jornalista Dorrit Harazim, da revista Piauí. Este ano, ele foi o homenageado.
Natural do Rio de Janeiro (RJ), o criador do Centro Knight começou a trabalhar como jornalista em 1968, quando tinha apenas 16 anos, produzindo um jornal na escola onde estudava e logo depois trabalhando como repórter no diário O Jornal. Entre outros veículos, passou no início de sua carreira pelas rádios Tupi e Nacional, no Rio, e pelas revistas Isto É e Veja. Mas a maior parte de sua carreira foi no Jornal do Brasil, onde trabalhou como correspondente em Madrid, Buenos Aires, Washington e Cidade do México. Mais tarde, foi editor-executivo e diretor do JB.
Rodrigues destacou o pioneirismo como marca da trajetória de Alves. Em 1987, ele foi o primeiro jornalista brasileiro a receber uma bolsa Nieman da Universidade de Harvard, a mais prestigiada bolsa de estudos de jornalismo do mundo. Em 1991, criou o primeiro serviço de notícias via computador, em 1995 o primeira edição de um jornal brasileiro na Internet, e, em 1997, o primeiro curso de jornalismo online na Universidade do Texas, em Austin.
O apoio aos jornalistas brasileiros que estavam interessados em criar a Abraji foi o primeiro projeto do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. As duas organizações foram criadas em 2002. “Com a Abraji, nasceu um modelo de ajuda a jornalistas que depois aplicamos em outros países da América Latina e do Caribe, onde também surgiram organizações locais, independentes e auto-sustentáveis que trabalham para a melhoria do jornalismo”, disse Alves.
Entre lembranças e brincadeiras que lhe arrancaram risos, a emoção do homenageado ficou ainda mais visível ao receber da família – que acompanhou toda a apresentação da primeira fila – uma placa comemorativa. “Eu estou quase chorando. É com humildade e emoção que recebo este homenagem, sinceramente não sei se sou merecedor”, declarou Alves. “Essa placa me estimula a continuar com a missão que me propus há mais de uma década: ajudar meus colegas jornalistas da América Latina e do Caribe, para que estejam interessados em levar adiante seus próprios projetos a fim de melhorar a qualidade do jornalismo nos seus países”, acrescentou.
A Abraji, hoje uma das maiores e mais prestigiadas associações de jornalismo investigativo do mundo, é um dos resultados dessa missão. Alves lembrou que ajudou a criar a entidade, logo depois da morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, na mesma época em que trabalhava na criação do Centro Knight para Jornalismo nas Américas.
O professor dedicou a homenagem à família e agradeceu os diretores da Abraji e o apoio da Universidade do Texas, da John S. and James L. Knight Foundation e da Open Society Foundations.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.