O México realizou eleições históricas no dia 1º de julho, com a vitória esmagadora de Andrés Manuel López Obrador. E em um período eleitoral de violência sem precedentes contra políticos e candidatos, a imprensa também se tornou um alvo.
Jornalistas foram vítimas de detenções arbitrárias e roubo de equipamentos de trabalho. Foram retirados dos centros de votação durante a cobertura, receberam ameaças de morte e se tornaram alvo de campanhas em redes sociais que tentaram desqualificá-los, além de terem sido ameaçados, empurrados e espancados.
No decorrer do dia da eleição, vários organizações informaram, via Twitter, as agressões contra jornalistas e também forneceram diretrizes a serem seguidas durante a cobertura para os trabalhadores da imprensa. Entre elas estavam a rede Rompe El Miedo, Artigo 19 México, Data Cívica, R3D e SocialTic, Periodistas Desplazados México, Propuesta Cívica, Periodismo Nación MX, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
No estado de Chihuahua, três pessoas espancaram o radialista Fernando Lara enquanto ele cobria as eleições em um local de votação, segundo informou o jornal El Sol de Parral. O veículo disse que Lara também era um vereador suplente do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Em Sinaloa, um grupo armado deteve ilegalmente um jornalista do portal Linha Direta por duas horas, segundo informou a Rompe El Miedo. Em Campeche, 15 pessoas que acompanhavam um funcionário público cercaram dois jornalistas quando saíam de um local de votação onde estavam trabalhando, segundo a rede. Uma das pessoas teria dito a um dos jornalistas que sua câmera seria levada caso continuasse tirando fotos.
Alguns dos ataques aconteceram no mundo virtual, como no caso do jornal El Siglo de Torreón. Uma notícia falsa foi divulgada pelas redes sociais utilizando o design do jornal. O veículo publicou em seu site que a imagem não era real e negou a história, que envolvia uma funcionária política local.
Uma página do Facebook tentou tirar proveito do nome de um jornalista para publicar notícias falsas sobre as eleições em Veracruz, segundo a Rompe El Miedo. O jornalista Alfredo Santiago publica notícias através da página chamada Alfredo Santiago News e a página com notícias falsas se chama Alfredo Santiago News AD.
Outros ataques ocorreram antes das eleições, como o assassinato do jornalista José Guadalupe, que foi morto a tiros em um bar, no Estado de Quintana Roo, em 29 de junho.
Segundo a Rompe El Miedo, houve 143 ataques à imprensa desde 4 de abril - quando a rede começou a trabalhar - até 1º de julho. Somente no dia 1º de julho, 52 ataques foram registrados. A maioria das ocorrências foi categorizada como intimidação e assédio, e 20 foram registradas. Em segundo lugar ficou o bloqueio, alteração ou eliminação de informação, com 16 ocorrências. Os ataques físicos ficaram em terceiro lugar, com 7 casos. A maioria das ocorrências, 24, foram presumivelmente praticadas por funcionários públicos, segundo apontou a organização de monitoramento.
Antes da eleição, o RSF listou uma série de recomendações sobre questões de liberdade de expressão e proteção a jornalistas, muitas delas coincidindo com as orientações divulgadas em relatório sobre o México, preparado por relatores especiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Entre as recomendações da RSF estavam o reforço dos mecanismos federais para a proteção de jornalistas, com dispositivos adequados para atender os casos mais urgentes; maior atenção aos ataques online sofridos pelos jornalistas e a avaliação da situação de jornalistas que foram forçados a se deslocar.
RSF, CPJ e Artigo 19 México expressaram preocupação sobre o tratamento de jornalistas no México e deram uma lista de recomendações à equipe de campanha do então candidato López Obrador, hoje presidente eleito, no dia 28 de maio, segundo informou a RSF. A organização observou que as recomendações não foram mencionadas durante a campanha.
"RSF lamenta a falta de vontade política dos candidatos à Presidência, que apesar de manifestarem boas intenções, não fizeram nenhum compromisso concreto para lutar de maneira eficaz contra a espiral de violência e impunidade que reinam nos crimes contra a imprensa", disse o diretor do escritório da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié.
"No entanto, os candidatos sabem que é urgente criar uma política de proteção aos jornalistas e uma prevenção de riscos integral e eficaz, como recomenda a RSF. O futuro presidente do México terá essa grande responsabilidade e deverá fazer deste tema um eixo principal de sua política, para poder reverter essa tendência mortífera", ressaltou Colombié.