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Diretor de comunicação dos Jogos Olímpicos 2016 conta como ele e sua equipe se preparam para receber 30 mil jornalistas

Quando os jogos Olímpicos começarem no Rio de Janeiro em 5 de agosto de 2016, a equipe de comunicação terá passado três anos se preparando para a chegada de mais de 30 mil trabalhadores de mídia, milhões de torcedores e os olhares de críticos direcionados ao Brasil.

Mario Andrada, diretor-executivo de comunicação dos Jogos Olímpicos, falou na Universidade do Texas em Austin no dia 23 de outubro sobre o planejamento e a preparação de sua equipe para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Andrada conhece bem o mundo do jornalismo e das relações públicas, depois de ter trabalhado como diretor de comunicação da Nike e como repórter para várias publicações e meios como CBS, Reuters, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil.

Depois de ser contratado, traçou com sua equipe um perfil estratégico que inclui elementos como transparência, coordenação de uma só voz entre as diferentes partes envolvidas, diálogo com os meios de comunicação, comunicação proativa e tomar medidas similares tanto para os meios de comunicação nacionais quanto para os internacionais.

Isso levou à substituição das declarações oficiais e comunicados de imprensa por chamadas telefônicas pessoais a jornalistas, assim como a um mapeamento de meios influentes no mundo todo e esforços especiais para obter a cobertura deles.

Enquanto o Brasil atravessa um “momento complicado” na economia, com problemas e escândalos no interior do governo, Andrada disse que, no momento, as Olimpíadas são uma boa notícia para o país.

“Isso aumenta nossa responsabilidade, mas por outro lado nos dá oportunidade de desfrutar de mais espaço nos meios de comunicação”, disse Andrada.

O diretor de comunicação espera 25.100 membros da imprensa credenciados e outros 5.000 profissionais de comunicação não credenciados durante os Jogos Olímpicos. Outros mais chegarão à cidade para os Jogos Paralímpicos que seguem. Com tantos jornalistas, influenciar o tipo de cobertura é um verdadeiro desafio; nem todos os profissionais vão em busca da “boa notícia”.

“35 mil pessoas em busca de notícias em sua cidade significa que elas vão encontrar o que quiserem encontrar. Então não há segredos. E tem que ser inteligente na maneira de lidar com isso”, disse Andrada.

Por essa razão, Andrada disse que é importante estar relaxado e encontrar uma resposta e um diálogo para qualquer dúvida que possa surgir.

Algumas das perguntas mais frequentes nas notícias se relacionam com o custo dos Jogos.

Muitos viram a Copa do Mundo de 2014 no Brasil como o campo de prova para os Jogos Olímpicos dois anos depois, e o mundo viu de perto milhões que saíram às ruas no verão de 2013 para protestar pelo gasto no megaevento.

Precisamente é o gasto a razão número um para que os brasileiros tenham opiniões negativas a respeito dos Jogos, disse Andrada.

Uma boa parte dos fundos para as Olimpíadas, cerca de 60%, vem de fontes privadas, explicou. Além disso, os responsáveis pelas sedes e infraestruturas chegaram a soluções como a construção de estruturas temporárias que podem ser desmontadas e utilizadas para construir escolas, ou um centro de competição de canoagem que se tornará uma piscina pública quando os jogos acabarem.

Andrada explicou que 90% do trabalho de sua equipe até agora tem sido comunicar e deixar claro e tangível o “legado” das Olimpíadas não só para o mundo, mas também para o Brasil.

“Se você está construindo jogos que custarão 20 bilhões de dólares, eles têm que deixar algo mais, há que se justificar o investimento, e isso se chama legado”, disse Andrada.

Além de aumentar a capacidade turística da cidade e da adição de novas instalações de treinamento para atletas de alto rendimento, Andrada vê um novo sistema de transporte massivo que combina linhas de ônibus e trens rápidos como alguns dos principais legados. Outra parte do legado são os programas de educação nas escolas que ensinam aos estudantes sobre diferentes esportes.

Porém convencer os residentes do Brasil e os jornalistas desse legado nem sempre é fácil.

Em julho de 2015, a agência Associated Press informou que a água nas instalações das Olimpíadas continha “altos níveis perigosos de vírus e bactérias proveniente de águas residuais humanas”.

"Os meios estão preparados para histórias negativas. Sabem que os Jogos exigem uma operação tão enorme que alguém vai deixar a peteca cair em algum lugar. Antes dos Jogos de Inverno de Sochi houve queixas sobre os gastos e sobre se ficaria tudo pronto. Com a gente, reclamaram da Baía de Guanabara, que não é muito limpa, e estavam buscando histórias sobre atrasos”, disse Andrada. “Então se você não chega tarde ou se está fazendo as coisas bem, tem que encontrar uma maneira de convencer os meios de comunicação e fornecer algumas histórias negativas porque senão eles vão procurar histórias negativas e não vão dar as boas notícias”.

Os organizadores das Olimpíadas têm 283 dias para resolver o resto dos problemas antes de milhões de turistas e jornalistas aterrisarem no Rio de Janeiro. Se os jogos anteriores são uma indicação, o mundo estará ouvindo e lendo histórias sobre o triunfo do homem sobre os desafios da vida e incríveis proezas atléticas. Haverá também artigos e transmissões sobre o trânsito, o impacto social negativo, e, possivelmente, escândalos. Andrada e sua equipe vão passar os próximos meses até agosto se preparando para tudo isso.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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