Por Diego Cruz
Jornalistas representando meios digitais de vários países da América Latina apontaram sucessos, obstáculos e planos para o futuro de suas organizações durante o 7º Simpósio Ibero-americano de Jornalismo Digital que ocorreu no dia 6 de abril no Centro Knight para o Jornalismo nas Américas que fica na Universidade do Texas em Austin.
Durante o evento, que ocorreu um dia depois do 15º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), os participantes fizeram um balanço das ideias e pontos de vista que foram levantados durante os dois dias do Simpósio e também puderam compartilhar experiências sobre as mídias digitais.
Um dos temas mais discutidos foi como obter novas fontes de renda para a sobrevivência dos meios. Também foi comentada a importância da criação de conteúdo que seja "útil para a sociedade e prazeroso para o jornalista", outro ponto levantado foi a necessidade de considerar todos os jornalistas e meios de comunicação como marcas e, desta forma, reforçar permanentemente a relação com os leitores.
Gabriel Pasquini falou sobre o futuro incerto do jornal digital argentino El Puercoespín, que dirige e ajudou a fundar há quatro anos. A revista online - que produz jornalismo e tem um público geograficamente disperso – teve as operações suspensas esta semana e busca novas formas de financiamento.
Pasquini enfatizou que não existe uma fórmula para a sustentabilidade, que possa ser aplicada a todos os meios de comunicação, para ele, cada meio digital tem de gerar a sua própria solução . El Puercoespín tentou coseguir a adesão de mil assinaturas para criar um mecanismo de financiamento, mas a iniciativa não deu certo. Pasquini concluiu que o próprio modelo funciona, mas que o capital de giro é necessário para garantir o funcionamento enquanto se buscam outras formas de financiamento.
A brasileira Natalia Viana falou sobre a sua agência de jornalismo investigativo A Pública, uma organização sem fins lucrativos que faz jornalismo focado em dados, documentos e reportagens.
Viana relatou como foi desenvolvido um projeto de crowdfunding, onde cada patrocinador teve a oportunidade de votar em 12 projetos de reportagem investigativa. O projeto foi um sucesso e arrecadou mais de U$ 25 mil dólares, dinheiro que já foi usado para iniciar o financiamento de quatro reportagens.
Francisca Skoknic representou o centro de pesquisa chileno Ciper, uma fundação sem fins lucrativos que publica matérias desde 2007 com o apoio de outras fundações. Apesar de ser um meio pequeno, o impacto do seu trabalho é notável e resultou na demissão de funcionários públicos que cometeram atos ilegais.
Este ano, o portal enfrentou um risco inesperado, o site foi hackeado duas vezes em pouco mais de um mês. Francisca destacou a necessidade de não usar os fundos apenas para o jornalismo, mas também para garantir a segurança do seu portal.
"Fazer um jornalismo que incomoda gera também gente que quer te calar, o que torna o site um alvo fácil”, disse Skoknic .
Outro jornal que é um modelo de meio on-line é o Faro de El Salvador, dirigido pelo jornalista Carlos Dada. Ele falou no simpósio sobre como a sua organização que é focada na criação de conteúdo exclusivo gera valor para diferenciar a sua marca das outras mídias.
El Faro concentra a sua produção de conteúdo em reportagens investigativas com temas culturais e políticos, produz documentários e ensaios fotográficos, produz vídeos de animação com base em reportagens investigativas e ainda tem uma loja online onde vende seus produtos. No entanto, sua principal fonte de lucro ainda é a publicidade tradicional.
Enrique Naveda do Praça Pública da Guatemala disse que o seu site sobrevive com o patrocínio da Universidad Rafael Landivar e organizações internacionais, como a Fundação Open Society. O site produz reportagens investigativas e busca melhorar "a qualidade do jornalista na Guatemala", não com a intenção de lucro, mas com o objetivo de difundir a transmissão de informações. Martín Rodríguez Pellecer, que trabalhava no Praça Pública está lançando um novo site chamado Nomad, que busca fazer um jornalismo de vanguarda, além de reportagens investigativas o site proporcionará a visualização de dados e conteúdos relacionado a questões sociais do cotidiano.
A peruana Mabel Cáceres do El Búho, disse que por falta de fundos, desde 2011, a revista foi limitada ao formato mensal, em vez do semanal. Para diversificar o site foi criado um canal de TV on-line e planos futuros são os de transformar o site em um diário digital, com novos conteúdos focados em política e cultura.
Gustavo Gorriti do IDL - Repórteres, também do Peru, falou sobre seu site de reportagem investigativa digital, cujas reportagens se concentram em questões que não são cobertas pela imprensa peruana, buscando ter um impacto sobre a política do país. O meio digital publica as reportagens quando ficam prontas – às vezes ficamos duas semanas sem atualizações - e como outros meios digitais, também recebem apoio da Fundação Open Society.
No final da sessão do primeiro colóquio Carlos Chamorro da Nicarágua falou sobre o seu site, o Confidencial, um site com vídeos que está à procura de fazer jornalismo qualidade "aumentar o controle e crescimento dos meios de comunicação oficiais". Ao contrário de outras organizações, O Confidencial é um meio com fins lucrativos que começou a partir de um programa de televisão rentável.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.