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Entidades exigem respeito à liberdade de imprensa em investigação criminal sobre compra de grupo de mídia no Panamá

Entidades de defesa da liberdade de expressão no Panamá estão em alerta após o Ministério Público divulgar que investiga a compra de um conglomerado de mídia no país por suposto crime de lavagem de dinheiro.

Embora o comunicado não informe o nome do meio de comunicação em questão, a imprensa local noticiou que se trata da Editora Panamá América S.A. (Grupo Epasa).

Em comunicado divulgado no dia 22 de junho, o MP afirma que o dinheiro utilizado para aquisição do grupo midiático estaria vinculado a delitos contra a administração pública, conforme noticiado pelo jornal La Estrella de Panamá. Segundo a nota do MP, três empresários estão sendo investigados.

Para a Epasa, que atualmente publica os diários CríticaPanamá América e Día a Día, a investigação seria uma represália a recentes reportagens divulgadas pelo grupo contendo críticas a José Luiz Varela, irmão do atual presidente Juan Carlos Varela e outros políticos.

A compra do referido grupo foi realizada em 2010, durante o governo de Ricardo Martinelli, que foi preso nos Estados Unidos em 12 de junho após a justiça panamenha solicitar um  alerta vermelho da Interpol ao investigá-lo por mais de dez casos de corrupção e espionagem de opositores. Martinelli está atualmente numa cadeia em Miami e aguarda extradição para o Panamá.

Funcionários da Editora realizaram uma manifestação pacífica na sede da empresa no dia 23 de junho, em protesto à investigação iniciada pelo Ministério Público, informou o portal Telemetro.

O Colegio Nacional de Jornalistas (Conape, por sua sigla em espanhol), organização panamenha de profissionais da imprensa, informou estar em “estado de alerta” após o anúncio da investigação.

A entidade fez um chamado às autoridades estatais para que realizem as devidas apurações dentro dos parâmetros constitucionais e de forma a não interferir na linha editorial da empresa nem afetar o trabalho dos jornalistas.

“Os trabalhadores sempre tendem a ser a parte mais vulnerável nestes processos, e são muitas vezes suas vítimas indiretas, não os atores principais”, afirmou o Conape em uma nota publicada nas redes sociais.

A entidade ressaltou que as liberdades de expressão, opinião e de imprensa são os três pilares fundamentais para o exercício de um jornalismo livre.

Em nota, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) pediu que a liberdade de expressão e a de imprensa sejam respeitadas durante o processo de investigação criminal.

“Embora a SIP respeite o exercício da Justiça e se mantenha à margem dos méritos do caso sendo investigado pelo Ministério Público, nós urgimos que seja garantido o respeito à liberdade de expressão e à linha editorial dos meios de comunicação,” afirmou em comunicado o presidente da SIP, Matt Sanders.

Críticos ao atual governo do presidente Juan Carlos Varela afirmaram que a investigação seria uma forma de silenciar empresas de comunicação que fiscalizam e noticiam as ações governamentais, segundo o jornal Panamá América, que faz parte do grupo investigado.

“Seguem cometendo erros... não devem estar perseguindo, nem fechando meios, muito menos utilizar sua influência para que jornais não publiquem suas notícias,” afirmou ao referido jornal o deputado de oposição Iván Picota.

Em nota à imprensa, o MP afirmou que respeita e garante a liberdade de expressão e a linha editorial dos meios de comunicação, e disse que “a investigação criminal não afeta as relações de trabalho nem a atividade jornalística ali desempenhada.”

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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