Diante dos ataques a jornalistas e das tentativas de descredibilizar a imprensa, cada vez mais comuns no Brasil, o Instituto Palavra Aberta decidiu lançar uma websérie para explicar, para o público leigo, como o jornalismo funciona. A iniciativa é parte da ações de alfabetização midiática do instituto, que atua em defesa da liberdade de imprensa e de expressão.
A websérie Conhecer para Defender tem cinco episódios, de cerca de 5 minutos cada, e conta todo o processo e método jornalístico, da ideia de pauta até a publicação. Os episódios explicam ainda o que é jornalismo e qual a sua importância, como funciona a edição e os impactos das novas tecnologias.
Na websérie, jornalistas dão depoimentos e descrevem seu cotidiano. "Nós brincamos que queremos abrir a cozinha do jornalismo, para que as pessoas possam conhecer e, a partir disso, defender o jornalismo como algo crucial para a democracia", disse a presidente do instituto, Patricia Blanco, ao Centro Knight.
Os jornalistas que participaram dos episódios são: André Borges, repórter do O Estado de S. Paulo, Antônio Gois, colunista de O Globo, Carolina Ercolin, âncora da Rádio Eldorado, Thais Folego, editora da Revista AzMina, e Valmir Salaro, repórter da TV Globo.
O formato, de vídeos curtos, foi escolhido para facilitar a disseminação nas redes sociais, ambiente em que circula boa parte dos ataques contra a imprensa e da desinformação.
"Tem um potencial de ser replicado maior do que se a gente fizesse um documentário longo. Eu tenho todos os episódios no meu celular e mando por Whatsapp para todo mundo, para chegar ao maior número possível de pessoas", diz Blanco.
Ainda que, muitas vezes, uma informação falsa circule mais do que conteúdos educacionais e factuais, Blanco defende que é preciso investir em campanhas de defesa do jornalismo.
"Queria que a websérie chegasse ao trending topics do Twitter", afirma ela, rindo. "Sei que pode ser uma gota no oceano em relação ao entendimento do papel do jornalismo, mas é algo que precisamos começar a fazer. Precisamos falar para a sociedade como nasce uma notícia, e o valor dessa informação checada, apurada, feita com tanto método, para a democracia. Espero que seja parte de um movimento de resgate do valor do jornalismo", diz.
A websérie também foi pensada para funcionar como material didático e de apoio nas salas de aula – o instituto tem vários projetos de alfabetização midiática voltados para professores e estudantes de escolas públicas.
"A websérie é uma peça de educação midiática, porque quando você sabe como o jornalismo é feito e produzido, você consegue ter uma análise crítica da informação que recebe. Por isso, junto com a websérie, nós publicamos um plano de aula", afirma Blanco. O objetivo é que os episódios possam ser transmitidos para estudantes de escolas, mas também das universidades.
Para Blanco, a alfabetização midiática se tornou ainda mais urgente diante da piora na situação da liberdade de imprensa e expressão no país. Ela afirma que sempre houve violência contra jornalistas no Brasil, mas isso tem se tornado mais frequente. "A partir de 2019 a gente vê um crescimento absurdo de ataques contra os profissionais e os veículos, é quase uma campanha de quebra de credibilidade", diz.
Ela reforça que as críticas ao trabalho da imprensa são importantes e ajudam a melhorar a qualidade do jornalismo, mas Blanco acredita que tem havido uma "demonização" generalizada.
"Isso começou a ficar, pessoalmente falando, insuportável, quando eu comecei a ver que parte da sociedade, mesmo aquela escolarizada, estava entrando nessa onda de demonizar a imprensa, como se fosse uma coisa única. E não é, você tem diversas matizes e veículos diferentes. É isso que precisa ser explicado para a sociedade", conta ela.
A websérie, patrocinada pelo Facebook, teve seu último episódio publicado em 8 de maio, nas redes sociais do instituto e de organizações de jornalismo parceiras.
"Acreditamos que estamos apoiando a sociedade a valorizar a pluralidade de ideias e a liberdade de imprensa. Sabemos que conhecimento ajuda as pessoas a tomarem decisões mais informadas, por isso o Facebook apoia essa iniciativa", disse Monica Guise Rosina, gerente de políticas públicas do Facebook no Brasil, em nota sobre a websérie.