Na medida em que o isolamento causado pelo coronavírus altera os hábitos sociais da população, jornais do Brasil têm investido em alternativas para engajar os leitores para além do noticiário.
O jornal O POVO, de Fortaleza, promoveu entre os dias 28 e 30 de março um festival de música gratuito e online com mais de 20 atrações cearenses. Os shows foram transmitidos nas redes sociais dos artistas, com programação especial também as redes sociais do jornal.
Diariamente, foram mais de três horas de música ao vivo. De suas próprias casas, os artistas se apresentaram diante de um celular ou câmera, compartilhando o vídeo ao vivo via streaming. Entre uma apresentação e outra, jornalistas do POVO apresentavam a atração seguinte e faziam uma breve entrevista.
"O Festival FicaemCasa.Ce é uma das formas de contribuição do Grupo O POVO para a população enfrentar este momento social tão difícil, atípico, desafiador. Ninguém está fora do impacto dessa epidemia. E todos podemos nos ajudar de alguma maneira,” disse por -email ao Centro Knight João Dummar Neto, vice-presidente do Grupo de Comunicação O POVO.
A iniciativa de promover um festival online de música já havia sido tomada pelo jornal carioca O Globo, que reuniu mais de 30 artistas entre nos dias 20, 21 e 22 de março. Esta primeira edição do festival #tamojunto registrou 1,5 milhão de acessos nas redes sociais do jornal em três dias de evento, no fim de semana passado.
Além disso, com a divulgação da primeira edição, outros músicos procuraram o jornal para dizer que também gostariam de participar. O jornal decidiu então fazer uma segunda edição, dessa vez em quatro dias, de 26 a 29 de março, com mais 40 apresentações de músicos brasileiros.
“A gente precisa se isolar, mas não precisa se sentir sozinho. #tamojunto. Todos nós. Então, fica em casa e acompanha o festival com a gente. Depois da música, nós já estudamos outras áreas para as próximas semanas,” disse a editora Fátima Sá, do suplemento cultural Segundo Caderno, ao próprio O Globo.
O jornal A Gazeta, do Espírito Santo, registrou um aumento de 98% na sua média de audiência, saltando para 6,8 milhões de usuários únicos em um mês, com 19,8 milhões de pageviews. O número impressiona porque a cobertura do veículo se concentra principalmente no estado, que tem 3,5 milhões de habitantes.
“O site de A Gazeta também vem experimentando um aumento significativo de audiência e, por isso, decidimos incrementar o lançamento de produtos digitais a fim de ampliar a nossa distribuição de conteúdo num momento tão difícil e intenso”, disse a editora-chefe Elaine Silva ao Centro Knight.
Entre as novidades que vão além da cobertura da crise, está a criação da seção Fique Bem!, uma nova área no site que reúne notícias de entretenimento, dicas de saúde, comportamento e história inspiradoras em tempos de crise.
Já o POVO, do Ceará, alterou sua editoria de cultura. Com cinemas fechados, espetáculos cancelados e shows proibidos, a agenda cultural precisou ser adaptada. Assim, os repórteres do caderno Vida & Arte passaram a destacar atividades para serem feitas em casa, com dicas de literatura, filmes, séries e cursos online.
Da mesma forma fez O Globo, cuja editoria de cultura passou a se chamar Segundo em Quarentena. A programação é voltada para o leitor que está em casa, com dicas do que ver na televisão e nos serviços de streaming até o que há de novo em livros, artes (em acervos virtuais) e música. A programação recebe o apoio de entrevistas, artigos e um espaço de gastronomia, com receitas e dicas de chefs para quem está agora cozinhando mais em casa.
Desde o primeiro caso confirmado de coronavírus no país, o Globo atingiu em um mês recorde de audiência, com 235 milhões de acessos e 71 milhões de visitantes apenas em março.
Segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a audiência média dos websites dos jornais brasileiros cresceu 40% entre os dias 15 e 21 de março, em relação à semana imediatamente anterior. Os dados fazem parte de uma auditoria realizada pelo Instituto Verificador de Comunicação (IVC).