Discutir jornalismo local foi um dos principais assuntos do 25ºº Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ). O tema inclui as estratégias adotadas por jornais que cobrem áreas metropolitanas para aumentar a sua audiência e construir um relacionamento mais forte com as suas comunidades.
Em um dos painéis do simpósio, quatro editores foram convidados para falar sobre os maiores desafios que enfrentam atualmente e como estão conseguindo construir um modelo de negócios sustentável capaz de prosperar na era digital.
“Estamos chegando a outro ponto de inflexão importante e é hora de ajustar nossas estratégias e falar sobre esse mundo pós-social”, disse Emílio Garcia-Ruiz, editor-chefe do San Francisco Chronicle. “Os referrals nas redes sociais estão morrendo, e esta é uma tendência que começou há muito tempo, com as polêmicas do presidente Trump com o Facebook durante as eleições. Aparentemente, as pessoas neste ramo pensavam que o público voltaria quando precisasse de notícias, mas não vão voltar.”
Garcia-Ruiz sugeriu que as redações também deveriam construir um relacionamento mais forte com os influenciadores e aprender através de suas experiências como construir comunidades.
“Precisamos adotar muitas de suas estratégias e contratar alguns influenciadores. Muitos podcasts fizeram isso, contrataram pessoas com muitos seguidores nas redes sociais e transformaram-nas em uma peça da empresa, viraram uma espécie de parceiro e de produto”, disse.
Ele mencionou o relatório “Compreendendo o Público de 2030” publicado recentemente pela Next Gen News em que jovens da Nigéria, da Índia e dos EUA foram entrevistados para identificar as necessidades e preferências de notícias da próxima geração.
Garcia-Ruiz afirmou que a chave do sucesso está no estabelecimento de relacionamentos fortes com o público que atende, opinião também compartilhada por Katrice Hardy, editora executiva do Dallas Morning News. “O que realmente descobrimos é que nosso objetivo são conexões e transformações com a comunidade, e fazemos isso com nossa equipe e com nosso trabalho. É quando vemos mais sucesso”, disse ela.
Hardy concentrou sua apresentação na transformação pela qual o Dallas Morning News passou nos últimos três anos, migrando de um jornal que tentava cobrir todo o estado para uma estratégia que foca no norte do Texas e na área metropolitana de Dallas, atendendo oito milhões de pessoas.
“Estávamos tentando fazer tudo. Estávamos tentando estar em todas as plataformas de mídia social, tentando atender todos os públicos, e a oportunidade realmente era conhecer quem está no norte do Texas e como podemos atendê-los melhor. Acabamos mudando nossa missão”, disse ela.
Entre os temas favoritos de notícias, o público local parece adorar conteúdos de serviços, como alimentação, restaurantes, viagens, imóveis e cobertura de inverno.
O Austin American-Statesman concentrou sua estratégia em dados e análises para fazer jornalismo de serviço público e construir uma conexão mais forte com seu público.
Manny García, seu ex-editor executivo, explicou que investiram em dois diretores de audiência para compreender melhor o público que atendem.
“Você não precisa reinventar a roda, apenas se concentre no que realmente funciona”, disse ele
García destacou o foco na construção de relacionamento com a comunidade, na cobertura de eventos e não em aparecer apenas quando as coisas vão mal.
“Respeite o público que você está cobrindo. A informação é um ecossistema muito competitivo e há muitas notícias falsas disponíveis. Ao estar na comunidade, você consegue derrubar essas narrativas falsas e construir confiança, porque você estava lá”, disse ele.
Outro ponto fundamental é a qualidade e o foco em conteúdo que possa gerar impacto junto ao público.
“Temos que usar dados para nos ajudar a decidir como cobriremos a nossa comunidade”, disse Nicole MacIntyre, vice-editora do Toronto Star. “Quantas pessoas você terá investigando histórias que terão um grande impacto?”
MacIntyre terminou sua palestra de maneira otimista, certa de que as pessoas se importam com as notícias, mas querem que elas sejam contadas de maneiras diferentes.
Hardy sugeriu o uso de “Mapeamento Profundo”, que ela explicou ser um processo para focar em assuntos que estão repercutindo no público e abordá-las de uma forma mais profunda, enquanto outros assuntos são deixados para trás. “[É um processo de decidir]de quais notícias devemos desistir, porque não podemos fazer tudo”.
O ISOJ é uma conferência global de jornalismo online organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin. Em 2024, o evento comemora 25 anos reunindo jornalistas, executivos de mídia e acadêmicos para discutir o impacto da revolução digital no jornalismo.