Por medo de ser morto, um jornalista hondurenho que denunciou um suposto caso de corrupção envolvendo o presidente do país e o partido político governante se refugiou no escritório de direitos humanos do país.
David Romero, diretor de Radio Globo, se refugiou no Comissariado Nacional dos Direitos Humanos (Conadeh) em 23 de julho.
Romero estava em uma sala da Corte Suprema de Justiça, acusado de injúria, calúnia e crimes conexos pela ex-procuradora geral Sonia Gálvez, quando centenas de seus partidários o tiraram à força e o entregaram ao Conadeh. Gálvez também é a esposa do Procurador-geral Adjunto, Rigoberto Cuéllar.
Os seguidores, alguns do partido de esquerda LIBRE (Liberdade e Refundação), derrubaram portas durante o processo, de acordo com La Prensa.
Depois de encontrar refúgio no Conadeh, Romero disse “minha nova casa é este edifício, esta casa dos direitos humanos”, de acordo com La Prensa e AFP.
Romero afirmou que o presidente do país, Juan Orlando Hernández, estava usando a corte para mandá-lo à prisão e depois assassiná-lo. Para ele, o processo é represália por suas reportagens sobre a suposta corrupção na administração do instituto de seguridade social.
Em maio, Romero disse que havia recebido ameaças depois de informar sobre um caso de mau uso de fundos no qual o presidente estaria implicado, segundo Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
O jornalista afirmou “que tinha em mãos um vídeo que mostrava uma reunião de Juan Orlando Hernández […], na época presidente do Congresso, com gerentes e donos de 30 empresas falsas criadas para desviar fundos do Instituto Hondurenho de Seguridade Social (IHSS)”, acrescentou a organização. Também informou que Romero teve conhecimento das ameaças por um membro dos serviços de inteligência.
A agência AFP informou que o Partido Nacional é acusado de aceitar cerca de 94 milhões de dólares do sistema de seguridade social para financiar a campanha presidencial de 2013 e que o procurador geral confirmou que cerca de 330 milhões de dólares foram desviados.
Milhares de pessoas protestaram e pediram a renúncia de Hernández.
Em 24 de julho, o governo de Honduras emitiu um comunicado em resposta às afirmações de Romero.
O governo disse que não estava envolvido no caso judicial contra Romero, que foi iniciado por uma cidadã. Também expressou que condena “o violento assalto a uma sala do Poder Judiciário e reprova o uso da violência e da intimidação para impedir que as autoridades judiciais exerçam suas funções em conformidade com a Constituição e as leis”.
Os jornalistas da Radio Globo e Globo TV foram alvo de ameaças, assédio e até assassinatos nos últimos anos. Cinco jornalistas destes veículos foram assassinados desde 2011, de acordo com a RSF.
Para comemorar o Dia do Jornalista em Honduras, em maio deste ano, RSF publicou um relatório sobre a Radio Globo e disse que ela “se encontra sob a mira das autoridades hondurenhas desde o golpe de Estado de 2009” quando o presidente Manuel Zelaya, do Partido Liberal, foi retirado do poder e exilado.
Em um artigo sobre o caso de Romero, a organização de defesa da liberdade de expressão C-Libre disse que o país “vive uma preocupante tendência de assédio judicial contra jornalistas que denunciam corrupção”.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.