Por Lorenzo Holt
Vários jornalistas, fotojornalistas e meios de comunicação mexicanos enviaram recentemente uma carta formal ao governo de Veracruz denunciando casos de suposta violência policial contra os jornalistas que cobriam protestos de professores nos días 21 e 22 de novembro.
No documento, condenaram as ações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e exigiram que o governo garanta a integridade física dos jornalistas.
A carta enviada informa que 12 jornalistas foram agredidos pela polícia mexicana enquanto cobriam os protestos nas cidades de Xalapa e Boca del Río, no estado de Veracruz.
Os jornalistas foram ameaçados e atacados, e em alguns casos seus equipamentos foram roubados ou destruídos, de acordo com Proceso.
Os fatos ocorreram só 20 dias depois que o governo de Veracruz aprovou “Alerta Temprana”, uma iniciativa destinada a proteger os jornalistas de ataques físicos.
“Tinham uma ordem de reprimir e conter o protesto dos professores com policiais uniformizados e à paisana”, disse o co-diretor do portal Plumas Libres, Miguel Ángel Díaz, em uma entrevista com o Centro Knight. “O governo não utilizou o diálogo como se faz em países civilizados para evitar protestos, mas utilizou a força. Não há respeito pelo exercício jornalístico em Veracruz”.
Os jornalistas sofreram ataques violentos da polícia durante a cobertura dos atos em Boca del Río, de acordo com a organização de defesa da liberdade de expressão Artigo 19. Iván Sánchez, repórter do MVS Noticias, foi atacado por membros do grupo antimotins e recebeu vários golpes, além de ter tido sua câmera danificada, informou o site de notícias Notiver.
Plumas Libres subiu um vídeo no Youtube do enfrentamento entre Sánchez e a polícia. O jornalista teve que receber atenção médica de emergência, de acordo com Artigo 19.
Em outro caso apresentado em Xalapa, a jornalista Melissa Díaz teve todo seu equipamento roubado e destruído, segundo Artigo 19. Depois de denunciar os ataques na Promotoria Especializada na Atenção de Denúncias contra Jornalistas e/ou Comunicadores, o pessoal da SSP a contatou para informar que ela receberia um novo telefone.
De acordo com a Artigo 19, Díaz declarou que isso “não equivale a uma reparação”, pois ela perdeu a informação armazenada em seu dispositivo.
Raziel Roldán, jornalista de Plumas Libres presente na cena, é beneficiário do Mecanismo de Proteção para Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e Jornalistas do governo federal. O repórter ativou o botão de pânico que dado a ele pelas autoridades em caso de uma agressão, mas só recebeu uma resposta muito tempo depois do evento, por telefone, contou Miguel Díaz ao Centro Knight.
“[O dispositivo] tem um GPS [para saber] sua localização e imediatamente devem mandar um auxílio”, acrescentou Díaz. “No caso de Raziel [Roldán] o chamaram uma hora depois, ou seja, não serviu porque nessa hora ele já poderia ter sofrido coisas mais graves”.
Em 3 de novembro, o governador de Veracruz, Javier Duarte de Ochoa, assinou o “Sistema de Alerta Prévio do Estado de Veracruz” com o apoio da Secretaria de Governo (SEGOB), a Procuradoria Geral do Estado de Veracruz, a Comissão Estatal para a Atenção e Proteção dos Jornalistas e a SSP. A iniciativa estava destinada a aprovar novas políticas para a defesa dos jornalistas e para fortalecer o Mecanismo de Proteção Federal.
“A assinatura do Alerta Prévio entre o SEGOB e o Governo de Javier Duarte só foi para tirar a foto”, disse Díaz. “Mas não há intenção de parte do governo ‘Duartista’ de frear as agressões aos jornalistas independentes e que não recebem linha do governo, que neste caso é a maioria”.
Em 12 de novembro, um pouco mais de uma semana antes das supostas agressões contra jornalistas, o governo de Veracruz informou que realizou uma conferência dirigida a membros da polícia estadual para educá-los sobre sua obrigação profissional de proteger e respeitar os direitos humanos e o trabalho dos jornalistas.
Organizações de defesa e meios de comunicação observaram os altos níveis de violência contra jornalistas no estado de Veracruz. Três dos sete assassinatos de jornalistas ocorridos este ano foram em Veracruz. O sétimo assassinato, o do fotojornalista de Veracruz Rubén Espinosa, ocorreu na cidade do México, onde ele havia se refugiado temendo por sua vida.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.