Os veículos jornalísticos precisam alcançar o público onde ele está.
Essa foi a mensagem de líderes na inovação de produtos na área do jornalismo que conduziram um workshop matinal na 25ª edição anual do Simpósio Internacional sobre Jornalismo Online (ISOJ).
O workshop procurou apresentar aos jornalistas como os produtos jornalísticos são desenvolvidos e como, em última instância, eles são tão bons quanto o seu consumo.
"Não podemos escolher uma solução e então nos darmos por satisfeitos", disse Becca Aaronson, diretora de produtos e co-fundadora da News Product Alliance, aos participantes do workshop. "Na verdade, temos que aprender com nossas decisões e continuar a atuar sobre elas. Isso pode ser difícil em um negócio que gosta de se basear em certezas. E você precisa ter um pouco de certeza, mas também precisa ser capaz de aprender com seus erros e continuar crescendo para não fica para trás".
Um produto jornalístico pode ser um podcast, uma newsletter, uma série de vídeos, uma reportagem especial ou qualquer conteúdo produzido por uma organização jornalística. No workshop, os palestrantes propuseram um cenário hipotético: como a crescente comunidade de Hutto, no Texas, poderia se beneficiar de um podcast?
Esse cenário foi baseado em dados hipotéticos que mostravam que quase metade dos residentes de Hutto dirigia até Round Rock e Austin para o trabalho e poderia ouvir o podcast durante o trajeto.
Os participantes imediatamente observaram os diversos desafios que esse método de disseminação de notícias poderia trazer para a comunidade de Hutto e os criadores do podcast. Uma audiência pequena, com hábitos já formados, pode não se beneficiar de uma produção difícil como um podcast.
"Cada comunidade enfrenta desafios diferentes", disse Damon Kiesow, da Cátedra Knight de Inovação Jornalística na Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri. "Os processos, a forma como resolvemos problemas, são todos os mesmos conflitos. Temos informações suficientes? O que sabemos sobre o público? Como resolvemos os conflitos políticos internos?"
O maior desafio ao decidir se um podcast era apropriado para esse cenário hipotético estava em não conhecer o público diversificado de Hutto e suas necessidades. O mesmo pode ser dito sobre o desenvolvimento de produtos jornalísticos em geral, à medida que as comunidades nos Estados Unidos crescem, mas a quantidade de jornalistas para cobri-las diminui.
Fatores como idioma, interesses, inclinações políticas e status socioeconômico do público são apenas uma parte do que uma redação precisa saber antes de desenvolver um produto jornalístico.
"O desafio de fazer isso enquanto exercício imaginário é que nenhum de nós de fato conhece o contexto dessa comunidade e desse mercado o suficiente para tomar essas decisões", disse Aaronson. "E isso realmente reforça o ponto de que, se você vai tomar essas decisões de forma realmente informada, precisa estar realmente conectado à comunidade e ao mercado e entender o panorama".
O desenvolvimento de produtos jornalísticos deve ter o consumidor em mente, mas os objetivos do veículo também precisam ser incorporados, alguns jornalistas mencionaram no workshop. Decidir criar um produto jornalístico precisa ser algo minuciosamente examinado, com os jornalistas precisando questionar e perguntar por que algo funciona para eles e também para o público.
"Nosso objetivo é resolver esses problemas por meio de resolução de problemas, colaboração e sustentabilidade", disse Upasna Gautam, líder sênior de gerenciamento de produtos da equipe de Plataformas jornalístico Digitais da CNN. "E fazemos isso não apenas entendendo os tipos de problemas que precisamos resolver, mas por que esses problemas são um problema em primeiro lugar. E fazemos isso por meio do desenvolvimento ágil de produtos e da construção de uma redação ágil".
Os palestrantes sugeriram aos jornalistas presentes que uma análise de pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças (ou análise SWOT, de acordo com a sigla em inglês) era uma boa maneira de entender um potencial produto jornalístico. A estratégia será necessária para o futuro, à medida que a forma como as notícias são disseminadas se tornar um pilar da indústria jornalística.
"Essas são novas competências que precisamos ter em nossos programas, além de apenas reportar e editar, e temos pessoas nesta sala que estão fazendo isso", disse Cindy Royal, que é professora no Departamento de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade do Estado do Texas, aos palestrantes. "Mas precisamos de mais".
O ISOJ é uma conferência global de jornalismo online organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin. Em 2024, o evento celebra 25 anos reunindo jornalistas, executivos de mídia e acadêmicos para discutir o impacto da revolução digital no jornalismo.
Gaige Davila é um repórter da Texas Public Radio, cobrindo imigração, justiça social, meio ambiente e cultura no Vale do Rio Grande, no Texas.