O Prêmio Maria Moors Cabot de 2016 por reportagens excepcionais nas Américas foi formalmente entregue para jornalistas latino-americanos no dia 18 de outubro, em um jantar e cerimônia na Universidade de Columbia, em Nova York.
O Cabot é o prêmio internacional de jornalismo mais antigo do mundo. Pela primeira vez, em sua história de 78 anos, todos os premiados são jornalistas que nasceram na América Latina. Tradicionalmente, o prêmio era dado para dois americanos e dois latino-americanos, sendo que jornalistas do Canadá, Espanha e Reino Unido também já foram reconhecidos em edições anteriores.
O prêmio de 2016, anunciado em 20 de julho, foi concedido ao fotógrafo argentino Rodrigo Abd, que trabalha para a Associated Press, a cineasta colombiana Margarita Martínez, o repórter investigativo salvadorenho Óscar Martínez, do portal de notícias El Faro, e o jornalista brasileiro Rosental Alves, fundador e diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
Marina Walker Guevara, vice-diretora do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), e a equipe que coordenou a investigação do Panama Papers foram reconhecidos com uma menção especial.
Com o prêmio Cabot, a Pós-Graduação da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia homenageia jornalistas “pela excelência na carreira e cobertura do hemisfério ocidental que aumenta a compreensão interamericana”
Cada premiado fez um discurso sobre o seu trabalho e trajetória na profissão.
De acordo com a AP, Abd, que fotografa temas sociais na América Latina, descreveu a sua motivação: “Este é o principal ponto: nós nos importamos, nós amamos esse continente e nós queremos contar histórias em profundidade nos nossos países de origem.”
Margarita Martínez, cujo trabalho documenta os conflitos colombianos que já duram décadas, lamentou a rejeição, no referendo nacional, do acordo de paz entre o governo do país e as FARC. No entanto, ela também se disse otimista de que as negociações podem levar a uma "paz mais consolidada", segundo a EFE.
Óscar Martínez, do El Faro, o portal digital de notícias mais antigo da América Latina, disse que os jornalistas estão arriscando as suas vidas e avançando, mas há sempre pessoas trabalhando para impedi-los de fazerem o seu trabalho, relatou a EFE.
Em seu discurso, Alves descreveu o trabalho do Centro Knight, que levou, para milhares de jornalistas na América Latina e Caribe, treinamentos e outras iniciativas para ajudá-los na adaptação à era digital. Ele destacou um programa recente do Centro Knight que treinou mais de 3 mil juízes latino-americanos e outros trabalhadores da área sobre leis de liberdade de expressão e proteção de jornalistas.
"Somente neste ano, nós [do blog do Centro Knight] relatamos o assassinato de 22 jornalistas. Como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, a UNESCO, SIP e muitas outras organizações já denunciaram, esses crimes raramente são investigados, elucidados e punidos corretamente. A impunidade tem sido o combustível dessa onda endêmica de violência contra jornalistas na região," disse Alves. "Muito mais precisa ser feito para impedir os ataques contra os jornalistas."
Ele dedicou o seu prêmio para “os colegas jornalistas nas Américas que enfrentam todo tipo de assédio e restrições legais e ilegais. Eles precisam saber que eles não estão sozinhos.”
O mentor e jornalista de longa carreira lembrou que ele cobriu e trabalhou com temas relacionados às Américas desde a sua primeira tarefa para o seu jornal escolar, aos 16 anos. Desde então, ele trabalhou como correspondente pela região e fundou o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, que oferece treinamento para jornalistas e monitora a liberdade de expressão na região.
Guevara, que coordenou os jornalistas investigativos do Panama Papers, disse que “esse é um jornalismo colaborativo, transnacional, que deixa de lado egos particulares e dá uma importância maior ao interesse público."
María Teresa Ronderos, diretora do Programa de Jornalismo Independente do Open Society Institute, é presidente do conselho de 11 jornalistas e educadores que escolhem os ganhadores do prêmio Cabot. Os prêmios são administrados pelos curadores da Universidade de Columbia.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.