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Jornalistas rompem o silêncio sobre a liberdade de expressão no México com novo blog

Para que servem os jornalistas?

Essa é a pergunta que o jornalista mexicano Javier Garza tentou responder na primeira publicação do blog "Tenemos que Hablar, un blog contra el silencio en México" (“Temos de conversar, um blog contra o silêncio no México”).

Ilustração do blog "Tenemos que Hablar". Post das jornalistas mexicanas Rocío Gallegos e Gabriela Minjares, “La Verdad, una apuesta por el periodismo”. (Reprodução).

O blog surgiu, como vários outros projetos no México, depois que o jornalista Javier Valdez foi assassinado em Sinaloa. O renomado repórter, que cobria o narcotráfico e o crime organizado, foi morto com 12 tiros em 15 de maio de 2017, a um quarteirão de sua redação.

De acordo com um dos editores do blog, José Luis Pardo, este espaço busca ajudar a explicar melhor a situação atual do jornalismo e dos jornalistas no México, o país mais letal para a profissão, em todo o mundo, que não está em conflito armado.

O blog foi criado pelo site de jornalismo independente mexicano Horizontal, com a ajuda e por iniciativa da USAID México.

"Se chama 'Tenemos que Hablar' porque é uma frase que alguém diz quando você tem algo importante para dizer", disse Pardo, também diretor editorial da Horizontal, ao Centro Knight. Era importante ter um debate contínuo sobre a liberdade de expressão e tudo o que ela implica, acrescentou.

O escritório mexicano da agência de desenvolvimento internacional dos EUA, USAID, como parte de seu projeto ProVoces, pediu à Horizontal para criar e produzir o blog. O projeto visa, de acordo com seu site, fortalecer o compromisso e a capacidade do governo mexicano e das organizações da sociedade civil do país para operar e manter sistemas eficientes de proteção e segurança para jornalistas e defensores dos direitos humanos.

Desde o dia 14 de agosto de 2018, "Tenemos que Hablar" publica quatro posts por mês, todos sobre um tema específico relacionado à liberdade de expressão e ao exercício do jornalismo. Segundo Pardo, eles terão coberto 12 temas até o fim deste primeiro ano.

Os posts foram feitos em vários formatos. Há textos de aproximadamente mil palavras, vídeos de até dez minutos, séries fotográficas e podcasts curtos.

Guillermo Osorno, diretor geral da Horizontal, explicou ao Centro Knight que o blog é um espaço de autocrítica onde os jornalistas têm voz própria e contam suas próprias experiências e expectativas em relação à liberdade de expressão.

Segundo Osorno, a USAID México procurou a Horizontal depois de organizar, juntamente com outros meios de comunicação, a Agenda de Periodistas. Este evento, que aconteceu de 14 a 16 de junho de 2017, reuniu cerca de 400 jornalistas e mais de 50 organizações nacionais e internacionais após a morte de Javier Valdez. O objetivo, que Osorno disse que nunca foi alcançado, era apresentar propostas ao governo mexicano e a organizações internacionais que promovem e garantem total liberdade de expressão no país.

Em termos do blog, os temas abordados nos primeiros meses incluíram a liberdade de expressão, a violência contra jornalistas, mecanismos de proteção, modelos de negócio e censura e autocensura. Eles decidem os temas a cada mês com uma mesa redonda que às vezes acontece na Cidade do México ou em alguma outra cidade do país.

Existe também uma preocupação em ter uma perspectiva de gênero no conteúdo, disse Osorno. Nesse sentido, enfatizou, eles sempre tratam para que seja equitativo.

"No México, as mulheres [jornalistas] têm sido mais corajosas ao denunciar a violência do Estado, a violência das drogas e a violência contra jornalistas em geral. Não foi difícil encontrar vozes diferentes", disse ele.

A ideia do blog, em termos gerais, é justamente mostrar por que o jornalismo é importante, disse Javier Garza, autor do primeiro post no blog.

"Por que uma sociedade, cidadãos, uma comunidade precisa ter organizações jornalísticas fortes e produtos jornalísticos fortes, confiáveis", comentou Garza.

"Por que é importante que a informação seja sólida, verificada, que ela tenha todos os padrões de rigor em um ambiente em que as fontes de informação estão mudando e muitas dessas fontes não possuem os padrões e o rigor profissional que os jornalistas trazem", continuou.

Ilustração do blog "Tenemos que Hablar". Post do jornalista salvadorenho Óscar Martínez, “Ligerezas para cubrir violencia”. (Reprodução).

Não apenas jornalistas mexicanos escrevem para o blog. Há também a participação de jornalistas de outros países da América Latina onde praticar jornalismo é arriscado.

Por exemplo, Óscar Martínez, do site de jornalismo investigativo El Faro, em El Salvador, escreveu o post “Ligerezas para cubrir violencia” (Facilidade para cobrir a violência). No post, ele conta como a habilidade do jornalista pode determinar que tipo de temas ele pode abordar.

O texto de Martínez começa dizendo: "Uma é a lição infalível em termos de segurança que aprendemos na Sala Negra de El Faro nestes oito anos de cobertura da violência: a única maneira de evitar qualquer risco ao fazer jornalismo em ambientes como o norte da América Central é não fazê-lo. A partir daí, podemos avançar. "

Outro jornalista convidado que colaborou com o blog mexicano é o colombiano Juan Diego Restrepo, do site Verdad Abierta.

Em seu artigo, "Um seqüestro inevitável", Restrepo contou o que viveu como jornalista quando foi sequestrado em 2015 por jovens membros de um grupo armado no nordeste da Colômbia.

Em outra das colaborações para o blog, desta vez por jornalistas mexicanas de Chihuahua, Rocío Gallegos e Gabriela Minjáres narraram como levaram a cabo a ideia de abrir seu próprio meio de comunicação independente, chamado “La Verdad, periodismo de investigación”. Com 22 anos de experiência de trabalho na mídia tradicional, e com o apoio da Redde Periodistas de Juárez, elas decidiram abraçar este novo desafio.

"Nós nos propusemos a ir além do clique e da ‘curtida’. Não procuramos ser o primeiro a publicar as notícias, mas a ser o primeiro a explicá-las, analisar suas consequências e investigar o que está por trás dos fatos. Mesmo assim, tivemos nossos sucessos virais e definimos a agenda pública em alguns assuntos", escreveram.

"Pensamos que, no final, algo muito empático e muito didático sobre como é ser jornalista em 2019 está sendo construído", concluiu Pardo.

Além disso, ele anunciou que no final do primeiro ano do blog eles poderão publicar uma coletânea de todas as histórias, testemunhos e reflexões que os colaboradores escreveram, o que, segundo ele, pode ser muito útil para estudantes de jornalismo e jovens jornalistas do México e também de outros países da região para entender o ecossistema no qual eles vão exercer a profissão.

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