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Maior parte da imprensa brasileira não discute racismo, aponta pesquisa

Por Isabela Fraga

A maior parte da imprensa brasileira não discute a questão do racismo, embora trate com frequência da desigualdade racial. É o que aponta um estudo realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e pela Andi, organização sem fins lucrativos voltada para ações de mídia. Intitulada "Parlamento e racismo na mídia", a pesquisa foi publicada em meados de março e analisou 401 matérias jornalísticas que tratam do racismo em relação ao poder legislativo brasileiro.

"A democracia representativa brasileira é muito distorcida no parlamento. Para nós do Inesc, a explicação para essa distorção é o racismo e, nesse estudo, quisemos entender como a mídia trata essa questão do racismo tendo como base o parlamento: posições parlamentares, legislações, votações", explica Eliana Magalhães Graça, assessora política do Inesc.

Cerca de 56% das matérias analisadas não menciona o conceito do racismo, embora trate de temas que tangenciam a questão, como as ações afirmativas (cotas, por exemplos) e outras legislações na área. " As notícias afastam-se do debate histórico, filosófico, sociológico e antropológico sobre o fenômeno", diz o texto do estudo.

Mas será que é possível fazer esse tipo de debate, tão aprofundado, nas páginas de um jornal diário, limitado por tempo e espaço? Para Graça, a ideia não é discutir profundamente as causas e soluções para uma questão complexa que atravessa a história brasileira desde seu começo. "Você não precisa aprofundar, mas considerar o conceito [do racismo]", relativiza. "O problema da mídia é tergiversar: as matérias expõem dados, discutem a desigualdade racial, mas não a existência do racismo em si".

Entre os jornais analisados, foi uma publicação regional que mais mostrou aprofundamento da questão do racismo em suas reportagens: A Tarde, da Bahia, teve mais matérias que relacionavam a questão do racismo e o parlamento brasileiro, com 51 textos (12,7% das notícias analisadas). O Estado de S. Paulo veio em seguida, com 46 matérias (11,5%). No entanto, a publicação paulistana, segundo o estudo "empalideceu a ideia de uma sociedade marcada pelo racismo, negligenciando vozes parlamentares e de outros setores que afirmavam a existência do fenômeno".

Os negros representam mais de 50% da população brasileira, segundo o IBGE. No entanto, dos 513 deputados federais, apenas 43 se reconhecem como negros e, dos 81 senadores, há apenas dois negros, segundo a União de Negros pela Igualdade (Unegro).

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.