O tempo está se esgotando e o compromisso do jornalismo neste momento é histórico, afirmaram 27 meios de comunicação latino-americanos em um editorial conjunto sobre mudanças climáticas publicado simultaneamente em 1º de janeiro.
"Os jornalistas de todo o continente têm um profundo compromisso em entender com base na ciência que todo o planeta deve avançar para um modelo diferente de crescimento e desenvolvimento", disse o editorial "Não estamos fazendo o suficiente".
Os meios de comunicação que participaram deste editorial promovido pelo site investigativo peruano Ojo Público são InfoAmazônia do Brasil; Mongabay Latam; El Espectador, Semana Sostenible e Cuestión Pública da Colombia; Distintas Latitudes; Lado B, Periodistas de a Pie, Zona Docs, Trinchera e Raíchali do México; El Surtidor do Paraguai; El Deber e Red Ambiental de Información da Bolivia; GK do Equador; La Mula, Actualidad Ambiental e Wayka do Peru; El Desconcierto do Chile; Onda Local da Nicaragua; Claves 21 da Argentina; Correo del Caroní, Runrun.es, El Pitazo e TalCual da Venezuela; e Connectas.
Diante dos vários alertas e denúncias de organizações internacionais que defendem o cuidado com o meio ambiente e as óbvias mudanças climáticas em nível mundial, o objetivo deste grupo de mídia é convocar a classe jornalística em nível regional para participar ativamente da disseminação de informação que contribui para mitigar esta conjuntura climática.
Em seu comunicado à imprensa, a mídia explica que esta iniciativa nasceu nos encontros promovidos pelo Ojo Público em 2018, intitulado "Investigar a partir da ciência". Essas reuniões, que no ano passado foram duas, uma em Lima e outra em Bogotá, reuniram cerca de 25 jornalistas e pesquisadores de diferentes áreas da ciência para compartilhar casos e investigações.
"Como parte desses encontros surgiu [a ideia de] convidar os meios participantes a promover um compromisso mais público e aberto sobre a necessidade de aprofundar e investigar os temas relacionados ao impacto da mudança climática, mas também os principais promotores do aquecimento global ", disse a jornalista co-fundadora e editora do jornal Ojo Público, Nelly Luna, ao Centro Knight.
E ela acrescentou que o objetivo é "fazer jornalismo investigativo e promover novas narrativas que possam disseminar soluções com vistas para que mais cidadãos, mais grupos e mais comunidades possam se sensibilizar com um tema que consideramos urgente".
Segundo Luna, a ideia para o editorial nasceu principalmente em resposta aos resultados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, por sua sigla em inglês), que adverte que o desastre ambiental global é iminente se não forem adotadas medidas radicais nos próximos dez anos.
É necessário estabelecer uma perspectiva política sobre como entendemos e cobrimos a mudança climática, explicou Luna, dizendo que se trata de uma perspectiva política porque primeiro devemos reforçar a idéia de que a mudança climática é um fato e que, neste momento, é a principal ameaça à humanidade.
"Os meios de comunicação que subscrevem este editorial são 27, muitos deles dedicados à pesquisa e à cobertura de temas de corrupção", comentou. "No entanto, acreditamos que a médio e longo prazo, a mudança climática poderia ser uma das questões ainda mais urgentes do que os casos de corrupção que estamos cobrindo nos últimos anos, porque a sobrevivência da espécie humana depende disso", acrescentou.
O editorial começou a ser escrito em novembro e foi liderado por uma equipe especial formada por Ojo Público, El Espectador, InfoAmazônia e Mongabay Latam, que elaboraram um projeto baseado em uma visão política e econômica que, segundo Luna, precisa ser compreendida.
De acordo com Luna e o jornalista brasileiro coordenador da InfoAmazônia, Gustavo Faleiros, o editorial foi publicado estrategicamente em 1º de janeiro, dia em que Jair Bolsonaro, o presidente eleito do Brasil, assumiu o cargo.
Faleiros disse ao Centro Knight que, além da questão da crise global de mudanças climáticas, a InfoAmazônia está particularmente interessada que o editorial tenha impacto na discussão sobre a Amazônia no Brasil. "O fato de que temos Bolsonaro atacando diretamente as políticas ambientais estabelecidas no país já é bastante preocupante para nós", disse ele.
"Achamos que é muito importante que os jornalistas se posicionem como vigilantes, como os olhos do público na política ambiental", tanto no Brasil quanto em toda a região, disse Faleiros.
Do México, o jornalista Ernesto Aroche, coordenador do site Lado B, disse ao Centro Knight que, de acordo com a linha editorial que sustentam, o contexto atual da América Latina e a situação do meio ambiente, a publicação conjunta do editorial não poderia parecer mais relevante. Portanto, disse Aroche, também propuseram convocar a aliança de mídia mexicana da Rede de Jornalistas Permanentes, cuja maioria concordou em assinar a declaração conjunta.
Após a publicação do editorial, disse Luna, os jornalistas e os meios de comunicação participantes planejam estabelecer uma rede de mídia que desenvolva colaborativamente novos temas de investigação transfronteiriça sobre meio ambiente, mudanças climáticas, ecossistemas, qualidade de vida e sobrevivência.
Uma das primeiras reportagens colaborativas dessa rede seria "Madeira Suja", disse Luna. Nesta série de reportagens aprofundadas sobre o tráfico de madeira na Amazônia, lideradas pelo Ojo Público e pelo Mongabay Latam em 2018, participaram vários meios de comunicação que assinaram o editorial.