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Novo projeto jornalístico brasileiro coloca em pauta economia colaborativa e sustentabilidade

Com pouco mais de um mês no ar, o site #Colabora desponta como uma das novas iniciativas de mídia que dá sinais de ter encontrado um propósito e um caminho para se firmar no cenário do jornalismo sem fins de lucro no Brasil. Encabeçado pelo veterano jornalista Agostinho Vieira, o projeto reúne dezenas de colaboradores e aborda temas ligados à economia colaborativa e sustentabilidade.

Lançado no início de novembro, os números do site impressionam, a considerar seu curto tempo de existência: mais de 100 posts publicados, 35 mil visitantes, quase 70 mil visualizações e cerca de 60 colaboradores. O sucesso inicial do projeto, segundo Agostinho, é explicado por esse último número, ainda modesto para suas ambições.

"Nosso diferencial é exatamente a colaboração, a diversidade. Temos 60 colaboradores e queremos 100 ou 150. Cada um deles escrevendo sobre temas que gostam, que conhecem, que acompanham. Não queremos ter quantidade no #Colabora, mas qualidade. Queremos contar boas histórias, que as pessoas vejam nas redes sociais e tenham vontade de compartilhar com os amigos. Que façam diferença. Não queremos ser apenas mais um site de informação", explicou em conversa com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Experiência para lidar com diversidade e coordenar jornalistas não falta ao empreendedor. Agostinho passou 25 anos no jornal O Globo, saindo de estagiário a diretor executivo do jornal. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Na bagagem, leva prêmios como o Esso de Jornalismo, em 1994, e prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Depois de estudar alguns meses em Londres, em um MBA em Gestão Ambiental, passou a escrever sobre o tema e ter uma coluna e um blog no Globo.

"Passei um tempo pensando no que fazer [depois de deixar o Globo]. Entre os projetos de abrir uma padaria, entrar para um negócio social ou voltar a ser executivo, escolhi continuar escrevendo sobre sustentabilidade. Daí surgiu o #Colabora. Os primeiros esboços do projeto eram uma simples continuação do que eu já fazia", contou Agostinho. "Depois resolvemos falar sobre Economia Colaborativa e sobre a vida do Terceiro Setor no Brasil. Comecei sozinho, depois convidei a Liana Melo, que foi editora da Revista Amanhã, do Globo, e a Valquíria Daher."

A equipe trabalha remotamente e faz uma reunião de pauta por semana, sempre em uma livraria diferente do Rio de Janeiro. A produção de conteúdo é coordenada junto aos colaboradores, e a dinâmica de publicação não é muito diferente da vivida nas redações, tão conhecidas do time do projeto. Tudo começa com uma boa ideia de pauta, que é discutida e aprovada. "Essa é a parte mais importante. Como 90% dos nossos colaboradores são jornalistas ou especialistas experientes, que escrevem sobre temas que gostam e dominam, a fase de apurar, escrever e editar é relativamente simples. O desafio diário é equilibrar os temas do momento, os mais quentes, com as histórias mais trabalhadas e atemporais".

As pautas tratam de um assunto que, na visão de Agostinho, é mal retratado pela grande imprensa. "Um dos nossos maiores objetivos é mostrar que sustentabilidade não é só bichinho e plantinha. Sustentabilidade é quase tudo. É a vida real, é o nosso dia a dia. Nestes 45 dias de existência, já acompanhamos temas diferentes como os atentados em Paris, a tragédia de Mariana e a morte de cinco jovens negros em Costa Barros, no Rio. Mas se formos falar sobre a cobertura tradicional de sustentabilidade, do senso comum, ela é muito ruim. O que é uma ótima oportunidade para nós. O grande problema da mídia tradicional é que ela continua achando que sustentabilidade é bichinho e plantinha. Com algumas pitadas de clima, quando os chefes de Estado se reúnem em Paris ou no Rio", observou.

Com uma rotina de trabalho e um recorte temático bem estabelecidos, a equipe busca agora testar o modelo de negócio que vislumbrou para a plataforma e que inclui quatro fontes de receita: patrocínios, crowdfunding, apoio de instituições e eventos. Para sair do papel, o Colabora contou com um patrocínio inicial da Coca-Cola e com o investimento do próprio Agostinho. Mas, para 2016, já prevê três eventos ligados aos temas cobertos pela plataforma e o apoio de novos patrocinadores.

Essa visão clara das perspectivas de negócio a longo prazo é, para Agostinho - que fez pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead - fundamental para consolidar os novos projetos de mídia que nascem no Brasil. "Os jornalistas, de um modo geral, não gostam de fazer contas. Não sabem cuidar de negócios. Passaram a vida achando que o pessoal da área comercial e da circulação eram agentes do mal. Gente que se preocupava só com dinheiro e não entendiam que os jornalistas estavam salvando o mundo. Só que o mundo precisa ser social, ambiental e economicamente sustentável."

Para seguir com o bom trabalho, a equipe do Colabora se apóia na agilidade típica das startups, experimentando novas possibilidades e avaliando os erros e acertos do caminho. "Estamos só no início e temos muito o que fazer para tornar o Colabora sustentável e relevante, em todos os sentidos. Dizemos aqui que o trabalho no Colabora não pode ter o stress que tínhamos numa grande redação. Se não estivermos todos trabalhando com prazer, não vale a pena", concluiu o jornalista.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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