A Rede de Jornalistas da Periferia realiza em São Paulo no dia 16 de setembro a Virada Comunicação 2017, um evento para debater e propor novas abordagens para o jornalismo a partir do ponto de vista dos comunicadores e dos moradores das regiões mais distantes dos centros das grandes cidades brasileiras.
“A Virada Comunicação parte de um questionamento: notícia tem CEP, raça, gênero, classe social?”, disse Ronaldo Matos, membro da Rede, ao Centro Knight. Matos é parte do coletivo Desenrola e Não me Enrola, um dos 13 grupos da Rede de Jornalistas da Periferia, formada por comunicadores de regiões frequentemente negligenciadas pelo poder público e pela cobertura da grande imprensa.
Segundo Matos, a articulação entre jornalistas da periferia de São Paulo surgiu em setembro de 2016, durante as últimas eleições municipais na cidade. Os comunicadores se uniram com o objetivo de trazer para o debate eleitoral os interesses de quem mora em locais bem distantes daquele onde são tomadas as decisões sobre a cidade.
A motivação principal foi a “inquietação de quem produzia comunicação na periferia em relação à abordagem da grande mídia sobre o processo eleitoral na cidade”, explicou Matos. A crítica à cobertura da grande imprensa sobre as periferias, que determinou a criação da rede, é também o mote do evento que acontece em 16 de setembro.
“Quando a grande mídia aborda assuntos como violência ou infraestrutura urbana, ela mais cria estereótipos em torno da periferia do que traz informações de valor para o setor privado, para o setor público e para a população”, disse o comunicador. “Quando ela faz isso, ela cria lacunas: quem mora no centro considera quem mora na periferia um marginal, e quem mora na periferia considera quem mora no centro uma pessoa bem sucedida, quando a realidade é bem diferente.”
A Virada Comunicação pretende apontar as diferenças entre a realidade veiculada na grande imprensa e aquela vivida pelos moradores das periferias de São Paulo e de outras grandes cidades brasileiras. O evento trará debates sobre temas como segurança pública, educação, cultura, meio ambiente, direito à comunicação e diversidade de gênero, sexual e étnico-racial nas periferias, entre outros.
“O mote da Virada é: como está sendo retratada a periferia na mídia? Como se deveria noticiar o que é periferia? E como nós, jornalistas da periferia, podemos contribuir para que a grande mídia mude sua abordagem?”, explicou Matos.
Para fomentar este debate, a organização procurou privilegiar a participação de moradores das regiões periféricas de São Paulo e de estudantes e profissionais da comunicação, tanto de coletivos como da mídia convencional.
Uma característica notável do evento, segundo ele, é o fato de que os debates não trarão somente comunicadores, mas também pesquisadores, artistas e ativistas sociais que vivem na periferia e atuam para melhorar a vida dos moradores dessas regiões. “São essas pessoas que são fonte de informação na imprensa, são pessoas como elas que perdem seus filhos [assassinados] pela Polícia Militar”, disse Matos.
“Quando a gente coloca só jornalistas [no debate], a gente tem uma percepção em terceira pessoa, de quem conta as histórias. Na Virada, vamos trazer quem vive em primeira pessoa a realidade da periferia, com um jornalista que faz comunicação nesse lugar para mediar essas conversas”, explicou o comunicador.
Os mediadores serão membros de alguns dos 13 coletivos que formam a Rede: Alma Preta, Capão News, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, DiCampana Foto Coletivo, DoLadoDeCá, Historiorama, Imargem, Mural – Agência de Jornalismo das Periferias, Periferia em Movimento, Periferia Invisível, TV Grajaú e Nós, Mulheres da Periferia.
O evento também vai promover intervenções e shows de artistas da periferia e oficinas para estudantes de comunicação. As inscrições para a Virada já foram encerradas, mas há uma lista de espera aberta para quem se interessar em participar do evento, que acontecerá no Centro Cultural Grajaú, na zona sul de São Paulo, entre as 9h e as 22h do dia 16.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.