Para tentar evitar agressões da polícia, repórteres de Ciudad Juárez optaram pela cobertura de ações policiais em grupo na cidade fronteiriça do México, considerada a segunda mais violenta do mundo - e que ocupava o primeiro lugar desde 2009. “Enquanto um conversa ou discute com os policiais, outros estão com suas câmaras, para o caso de ocorrer alguma agressão, tornando públicos esses incidentes”, explica Alfredo Quijano, diretor editorial do jornal local Norte.
Recentemente, o fotógrafo Raymundo Ruiz, da revista Proceso, foi golpeado ao tentar fazer fotos durante uma ação policial.
“Em uma discussão, quem sai perdendo é o jornalista, que não anda armado e vai preso”, acrescenta Quijano. Segundo a Red de Periodistas de Ciudad Juárez e o jornal Norte, só em fevereiro cinco jornalistas foram detidos em casos semelhantes e 13 já foram agredidos em 2012.
O blog do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas tem divulgado que policiais limitam o trabalho de jornalistas ao agredir, prender e até ameaçar os profissionais de morte. Quijano calcula que, até agora, foram 10 denúncias de jornalistas contra policiais na Promotoria do Estado, mas nenhum foi investigada.
Em recente reunião com diretores de veículos locais, o controverso chefe de polícia, Julián Leyzaola, disse não descartar a possibilidade de policiais infiltrados terem provocado os incidentes contra os jornalistas, para afetar a imagem da corporação, contou Quijano. Leyzaola disse que planeja demitir policiais corruptos no futuro próximo e que se comprometia a respeitar o trabalho dos jornalistas.
Desde que o governo mexicano declarou guerra contra o narcotráfico, em 2006, a relação entre repórteres e as forças de segurança em Juárez tem sido conflituosa. Alguns veículos, como o Norte, tomaram inclusive a decisão da autocensura, por conta das ameaças de morte contra seus profissionais.
Diante da impunidade, a imprensa da cidade mantém um arquivo atualizado de fotos de policiais, caso seja necessário identificar alguém, explica Quijano. A medida desagradou tanto que os policiais também decidiram fazer foto e vídeos de repórteres e fotógrafos, acrescenta o jornalista, que cobre a área de segurança na cidade há mais de 20 anos.
As agressões de policiais contra jornalistas aumentaram tanto quando as detenções arbitrárias de cidadãos comuns, de acordo com o Diario de Juárez. Mas Quijano nega que as agressões contra jornalistas tenham aumentado após a posse de um ex-militar na chefia da segurança pública local. No passado, Leyzaola conseguiu diminuir a violência e a insegurança em Tijuana, mas seus críticos o acusam de violar os direitos humanos, segundo a CNN México.
Entre 2009 e 2011, o Exército e a Polícia Federal vigiaram as ruas de Ciudad Juárez. “Parece que se revezam. A autoridade que está à frente da segurança local é a que comete excessos”, disse Quijano.
Dezesseis jornalistas foram assassinados na cidade desde 2001 e outros oito solicitaram asilo no exterior, de acordo com a organização Artigo 19.
A imprensa local também denuncia outros obstáculos à obtenção de informações da polícia. Os funcionários da Segurança Pública de Juárez, por exemplo, “quase nunca dão entrevistas nem permitem que as pessoas detidas sejam entrevistadas”, denuncia Ruiz.
Diante dessa situação, os jornalistas enfrentam confusão e manipulação dos dados de criminalidade na cidade. O número de homicídios em Ciudad Juárez teria diminuído, mas outros crimes, como roubo de carros, extorsão e invasão de domicílio teriam aumentado. “Há uma disputa política entre os três níveis de governo pela suposta diminuição de crimes", disse Quijano.