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Site de jornalismo investigativo peruano Ojo Público desenvolve algoritmo para rastrear possíveis atos de corrupção

O algoritmo anticorrupção desenvolvido pelo site de jornalismo investigativo peruano Ojo Público identificou que 40% dos contratos públicos no Peru, entre 2015 e 2018, têm risco de corrupção.   

Imagem: Ojo Público. (Reprodução)

Desde o início de 2018, e por um ano e meio, o Ojo Público conseguiu extrair informações de bancos de dados públicos sobre contratos firmados pelo Estado peruano para investigar possíveis cenários de risco de corrupção e identificar conexões políticas e financeiras deles.

Isso aconteceu graças ao "Funes", um algoritmo que eles desenvolveram com base em um modelo teórico húngaro, e que batizaram em homenagem ao personagem de extraordinária memória criado pelo escritor argentino Jorge Luis Borges em sua história "Funes el memorioso".

Nelly Luna Amancio, diretora do projeto e cofundadora do Ojo Público, disse em entrevista ao Centro Knight que, quando começaram a pensar no projeto, a ideia era identificar em torno de que tipo de ativos haveria um risco potencial de corrupção. "Percebemos que a corrupção era gigantesca". “Somente no Peru há uma enorme quantidade de títulos ligados à corrupção. Então o que fizemos, então, foi restringir um pouco mais o campo, até que ficássemos com corrupção em contratos públicos”, acrescentou.

Quando começaram a trabalhar no projeto e a pesquisar as pesquisas na América Latina sobre questões de corrupção usando ferramentas de inteligência artificial, big data, algoritmo e aprendizado de máquina, eles não avançaram muito.

"O que foi conseguimos [na região] é, acima de tudo, identificar bandeiras vermelhas, isto é, se houver apenas um concorrente em um processo, isso é arriscado", afirmou Luna. “Mas não na combinação de variáveis ​​para oferecer algo mais automatizado. E foi assim que encontramos Mihaly Fazekas”.

Fazekas é um pesquisador economista húngaro, especialista em contratos com o governo e que faz programação e estatísticas, disse Luna. Ele é o autor do modelo no qual Funes se baseia. Em seu modelo, Fazekas definiu riscos de corrupção nas etapas de uma contratação pública por meio de indicadores, disse o jornalista.

Ernesto Cabral, um dos jornalistas investigativos do Ojo Público que utilizou o algoritmo anticorrupção em suas reportagens, disse ao Centro Knight que eles precisavam fazer vários ajustes no modelo Fazekas, por ter como base a realidade europeia.

Na Europa, eles têm "acesso muito mais amplo aos dados de compras públicas", disse Cabral. Para adaptar o algoritmo à realidade latino-americana e peruana, eles tiveram que priorizar outros indicadores para identificar possíveis padrões de corrupção. "Por exemplo, aqui demos peso maior às contribuições a campanhas políticas".

"Se existe um vínculo entre o político e a pessoa do município ou do governo que ele vai contratar, se houver um vínculo de amizade ou político, esse é um padrão", afirmou Luna. "No caminho, tivemos que ajustar muito o modelo, porque ele não entende o contexto político, não entende a situação política ou os padrões", acrescentou.

No caso peruano e de acordo com as conclusões da Funes, entre 2015 e 2018, o Peru entregou 110 mil contratos públicos a um licitante único, que não teve concorrência, e a empresas criadas logo antes da licitação, pelo valor de S /. 57 bilhões (cerca de US$ 16,8 milhões), informou o Ojo Público.

Imagem: Ojo Público. (Reprodução)

A Funes analisou um total de 52 GB de informações, ou seja, 245 mil contratos públicos nos níveis municipal, regional e nacional. Foram analisados ​​bancos de dados de instituições como o Órgão de Supervisão Contratante do Estado (OSCE), Infogob, Sunat, registros políticos e de negócios.

A interpretação jornalística tem sido o fator determinante na leitura e análise dos dados extraídos e selecionados pela Funes. A equipe jornalística "colaborou tanto na análise das informações, quanto na verificação dos dados e no trabalho de campo para realizar as investigações com base nesse banco de dados", disse Cabral.

Cabral também destacou que as investigações jornalísticas que viram a luz graças a Funes não apenas têm um grupo de jornalistas por trás, mas também especialistas em estatística e cientistas da computação que são responsáveis ​​pela parte técnica. Eles realizam o "descarte" e o download massivo dos dados.

O modelo estatístico que foi aplicado em Funes, disse Luna, é a regressão linear. "O que essa regressão linear faz é combinar todos os dados e dizer onde estão as anomalias, que se comportam de maneira diferente das outras".

O desenvolvimento de Funes, segundo Luna, foi financiado pelo Aliança Latino-Americana de Tecnologia Cívica (Altec). Funes de Ojo Público foi uma das 20 iniciativas selecionadas de 8 países.

As primeiras reportagens do Ojo Público que usaram a ferramenta Funes, publicadas entre agosto e outubro de 2019, foram “O leite prometido: os contratos milionários do Grupo NIISA”, que foi uma reportagem transfronteiriça, e “Telefónica del Perú coloca em risco a privacidade de seus usuários".

Em “O leite prometido”, participaram os veículos de comunicação pertencentes à Rede de Jornalistas da América Latina para a Transparência e Anticorrupção (Rede PALTA). Ela é integrada e promovida por Ojo Público, La Diaria de Uruguay, El Faro de El Salvador, Datasketch da Colômbia, La Nación de Argentina, PODER de México e OjoConMiPisto de Guatemala.

"Desenvolvemos uma ferramenta interna pela qual agora estamos coordenando com alguns meios de comunicação locais no Peru para formar uma equipe mista, porque há muita informação", afirmou Luna. "A ideia é que investigações conjuntas possam ser formadas", tanto a nível nacional quanto com a mídia internacional, principalmente com as da Rede PALTA, disse ele.

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