Se em muitos países o 1º de abril é o Dia da Mentira, o dia seguinte será o de checar tudo para encontrar a verdade. O International Fact-Checking Network (IFCN) do Poynter Institute promove no dia 2 o International Fact-Checking Day, data comemorativa para ressaltar a importância da prática de checagem de dados entre os leitores.
Segundo o diretor do IFCN, Alexios Mantzarlis, o Fact-Checking Day quer ir na direção de encorajar o público a tomar a ferramenta do fact checking para si e ajudar a combater as notícias falsas e a desinformação. Já são vários guias disponíveis no site para ajudar os leitores nesse caminho.
“Estamos fazendo o International Fact-Checking Day como um movimento descentralizado onde todos podem checar informações. Não queremos que a data seja sobre as organizações participantes, mas sim para que todas as pessoas entendam essa questão da importância de verificar os fatos”, disse Mantzarlis ao Centro Knight.
Atualmente, são 114 iniciativas de fact-checking em 47 países, a maior parte nas Américas e na Europa. Uma parte delas vai participar da data comemorativa com eventos e workshops. Os projetos brasileiros Aos Fatos e Agência Lupa, além do Truco, da Agência Pública, vão ter eventos próprios. Chequeado, organização pioneira da Argentina, é uma das parceiras do Fact-Checking Day. As atividades estão listadas em um mapa interativo no site.
Até agora, são quatro eventos confirmados no Brasil, todos com o mote da ‘educação’ como guia. Em São Paulo, a Agência Lupa marca presença na Semana de Jornalismo da FIAM-FAAM com a jornalista Marina Estarque*. Ela se reúne com Fabio Victor, repórter da Folha de S. Paulo, Leandro Beguoci, diretor editorial das revistas Nova Escola e Luiz Peres-Neto, professor da ESPM, no campus Liberdade às 19h30 na quinta-feira, dia 6.
No Rio de Janeiro, a Lupa organiza dois eventos. No dia 31, às 8h30, ocorre um workshop na PUC-Rio com a fundadora e diretora da Agência, Cristina Tardáguila, limitado para 15 estudantes de jornalismo. No domingo, será lançado o Lupa Educação, programa de treinamento para alunos de universidades públicas e privadas.
“Será um braço para o público em geral, para quem quiser aprender a fazer o que a gente faz, seguindo a nossa metodologia. Isso é extremamente importante na filosofia da empresa e na minha crença pessoal também. Uma pessoa que controla bem os dados acaba tomando decisões melhores”, disse Tardáguila ao Centro Knight.
“É muito interessante ser uma jornalista e de um veículo de imprensa que dissemina a dúvida mas que também dissemina a forma com que as pessoas podem encontrar as mais variadas respostas, usando a lei de acesso a informação, portais de transparência e institutos de pesquisa”, completou.
Também no Rio, o Aos Fatos lança uma série de cursos online sobre fact checking em parceria com o Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio). As aulas vão discorrer sobre como o jornalismo de dados e o fact checking nasceram e a importância dessas práticas hoje. As lições, que estarão online nos dias 4, 6, 11 e 13 de abril, também vão ensinar o bê-a-bá de como checar um fato.
“O fact-checking day é um evento para mostrar a importância desse trabalho para os leitores. É uma época em que nos Estados Unidos, por exemplo, temos um candidato que virou presidente e deliberadamente mente. O fact checking já existia há muito tempo, mas esse contexto o colocou em evidência”, disse Tai Nalon, diretora executiva e cofundadora de Aos Fatos, ao Centro Knight.
Como parte dos eventos do dia 2 de abril, o IFCN também organiza a ‘factcheckathon’, uma maratona de checagem de fatos no qual os leitores terão que marcar histórias como ‘falsas’ no Facebook. A ideia é usar o poder do público para promover uma limpeza na rede social usando a ferramenta de combate a boatos e ‘fake news’ anunciada em dezembro.
O IFCN também vai trazer um ‘hoax-off’, um jogo interativo com as declarações e notícias falsas mais destacadas do mundo inteiro para eleger a pior farsa do ano passado. Um quiz também está disponível para testar seus conhecimentos sobre fatos que aconteceram (ou não). “É uma forma de dar uma risada e descobrir que algo que você leu não é verdade”, disse Mantzarlis.
A partir de hoje, já estão disponíveis no site da iniciativa planos de aulas de fact-checking destinadas a professores do Ensino Médio. Os arquivos podem ser baixados diretamente em cinco línguas diferentes e ainda serão traduzidos para outras.
Este movimento de educar leitores e jornalistas em potencial está dentro de um contexto apontados por estudos recentes, como este da Universidade de Stanford. As pesquisas mostram que estudantes, apesar de serem nativos digitais, têm dificuldade em avaliar a informação vinda das redes sociais.
Organizações de fact-checking como a argentina Chequeado já têm demonstrado preocupação com a recepção das notícias pelos leitores mais jovens e têm investido em programas de educação para estudantes secundaristas. O mais recente projeto do Chequeado é um módulo voltado para alunos que participam de simulações de Nações Unidas. O objetivo é que os adolescentes não só aprendam a fundamentar seus discursos com boa retórica, mas também com fatos sólidos.
Para marcar o Dia Internacional do Fact Checking, o Chequeado, um dos parceiros do evento, vai organizar um debate sobre notícias falsas em Buenos Aires.
Você pode participar durante o dia 2 de abril usando a hashtag #FACTCHECKIT nas redes sociais.
*Marina Estarque também escreve para o Centro Knight para Jornalismo nas Américas.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.