O jornalista independente e ativista Lazaro Yuri Valle Roca foi mantido incomunicável durante cinco dias após ser detido horas antes da chegada do presidente dos EUA, Barack Obama, a Cuba no domingo, 20 de março. O cubano se dirigia para a igreja de Santa Rita, como de costume, para cobrir a marcha de todos os domingos da organização Damas de Branco em Havana, de acordo com o portal de notícias Martí News.
Um homem identificado como segurança do Estado o parou e, juntamente com outros, o espancaram antes de levarem-no prisioneiro, disse o jornalista. De acordo Valle Roca, apesar de ter sido liberado, um processo foi aberto contra ele por "atentado à autoridade".
“Parece que eles querem manter esta situação como um meio de me chantagear para que eu não denuncie, nem continue com minhas atividades jornalísticas", disse o Martí Noticias.
O portal 14ymedio informou que, no dia da prisão do blogueiro Valle Roca, também foram presos cerca de 60 opositores do regime de Castro que marchavam ao lado das Damas de Branco - embora apenas por algumas horas.
O grupo, inspirado pelas Mães da Plaza de Mayo - formado após a ditadura militar Argentina no fim dos anos setenta (1976-1983) -, é composto pelas famílias e amigos de presos políticos cubanos detidos desde 2003 por agentes o governo de Fidel Castro, durante a chamada primavera negra.
No domingo, 27 de março, um ano após acusações de repressão e detenções arbitrárias na marcha das Damas de Branco por parte do governo de Cuba, dezenas de apoiadores e membros da organização foram detidos antes e durante a marcha de domingo. A casa de Valle Roca amanheceu sob vigilância policial, disse o site Martí Notícias.
O jornalista relatou que certamente agentes do Estado tinham um mandado de prisão se ele deixasse sua casa.
A organização de promoção dos direitos humanos Freedom House, que pediu ao governo cubano a libertação imediata de Valle Roca logo que soube de sua prisão, advertiu em um comunicado que "apesar de o presidente (Raul) Castro dizer que respeita os direitos humanos, o governo cubano continua sua vergonhosa repressão à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa e ao direito ao protesto pacífico.”
De acordo com uma entrevista do 14ymedio publicada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), nos últimos anos, Valle Roca foi espancado e detido pela polícia em várias ocasiões por cobrir as marchas das Damas de Branco e por reportar e publicar abusos policiais sofridos pelos organizadores e participantes em seu canal digital YuriTVNews.
Além disso, o relatório anual de 2015 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), na sua avaliação da situação da liberdade de expressão em Cuba, também documentou as repetidas ações de violência e repressão de agentes de segurança do Estado cubano contra Valle Roca, e a outros jornalistas independentes cubanos.
Para o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), jornalistas independentes em Cuba cobrem o que a imprensa oficial ignora em grande parte. "Segundo a Constituição cubana, o Partido Comunista controla todo o trabalho informativo por meio do propagandístico Departamento de Orientação Revolucionária. São concedidos direitos a imprensa apenas ‘conforme os objetivos da sociedade socialista’, de acordo com a Constituição", observou o CPJ em uma análise da primavera negra cubana.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.