A colunista, editora e documentarista brasileira Dorrit Harazim e o jornalista e autor argentino Martin Caparrós estão entre os vencedores do Prêmio Maria Moors Cabot de 2017, anunciado em 21 de julho pela Columbia University School of Journalism em Nova York. Nick Miroff do The Washington Post e Mimi Whitefield do Miami Herald também receberam prêmios.
O prêmio homenageia jornalistas por excelentes carreiras e pela cobertura do hemisfério ocidental que promova o "entendimento interamericano". Este ano, além de anunciar os vencedores, o júri tomou uma decisão especial de condenar a violência brutal contra jornalistas no México.
Caparrós tem sido, durante décadas, "uma das principais vozes do jornalismo literário da América Latina", de acordo com o júri. Considerado um repórter prolífico, Caparrós é colunista e editor, e seus trabalhos são publicados em vários veículos na região, como El País Semanal e a revista argentina Anfibia. Suas crônicas são consideradas clássicas e são amplamente estudadas. Dirigiu publicações como El Porteño, Babel, Página / 30 e Cuisine & Vins.
É autor de romances e 15 livros de não ficção. Seu livro mais recente "El Hambre" (A Fome) é produto de uma viagem de vários anos durante a qual o autor entrevistou as pessoas mais ricas e bem alimentadas ao redor do mundo, bem como as mais pobres e mais famintas em "um esforço para entender como e por que a fome persiste no mundo de hoje", de acordo com o anúncio oficial do prêmio.
Caparrós também é considerado um intelectual "sincero sobre o que considera certo e errado", acrescentou o comunicado de imprensa. Atuou dessa forma durante a ditadura, até que foi forçado a fugir para o exílio por vários anos, e novamente durante a presidência de Kirchner, sempre mantendo "sua reputação", porque "ele é, antes de tudo, um jornalista famoso por ser honesto, equilibrado e rigoroso", afirmou o comunicado.
Ele é ganhador de vários prêmios, como o King of Spain Prize, o Konex Prize e o Guggenheim Scholarship.
"Por seus anos de conquistas e uma excelente obra, Martín Caparrós receberá o Prêmio Maria Moors Cabot de 2017", afirmou o jurado.
"Estou muito feliz que este prêmio, que geralmente é concedido aos gêneros do 'hard journalism' - furos, matérias investigativas - desta vez decidiu reconhecer alguém que trabalha mais no chamado "jornalismo literário"... E eu fico feliz de que uma das melhores escolas de jornalismo decidiu reconhecer alguém que nunca passou por uma escola de jornalismo. E, claro, estou muito feliz por ser esse alguém ser eu", disse Caparrós ao Centro Knight.
Para o júri do prêmio, a extensa contribuição de Dorrit Harazim ao jornalismo nas Américas é "superada apenas pela qualidade superior das histórias, comentários e documentários de televisão que ela continua a produzir". Dorrit, como é conhecida no jornalismo brasileiro, não é apenas uma "talentosa jornalista e contadora de histórias", mas também uma inovadora na área das notícias, pois ela faz parte dos grupos que fundaram as revistas Veja e Piauí.
Ela trabalhou como correspondente internacional e editora, cobrindo eventos importantes como a Guerra do Vietnã, o apartheid na África do Sul, o golpe de Estado contra Salvador Allende no Chile e os ataques às Torres Gêmeas em Nova York. Dorrit, portanto, cobriu os dois 11 de setembro que marcaram a história contemporânea das Américas: 1973 no Chile e 2001 nos Estados Unidos. Ela é colunista do jornal O Globo, onde ela "continua sendo uma forte analista da cena americana", acrescentou a declaração oficial.
Durante a ditadura no Brasil, ela revelou violações dos direitos humanos e continua a cobrir questões como o racismo e a injustiça social de uma perspectiva de gênero.
Em 2015, Dorrit ganhou o Prêmio de Reconhecimento de Excelência do Prêmio de Jornalismo García Márquez.
"Por seu compromisso com histórias importantes ao longo de uma carreira longa e renomada, o trabalho de Dorrit Harazim representa a essência do Prêmio Maria Moors Cabot", afirmou o anúncio oficial.
Miroff, do The Washington Post, cobriu a América Latina baseado na Cidade do México e em Havana. Nesse cargo, ele cobriu histórias de tribos indígenas no Equador, a migração dos centro-americanos para os Estados Unidos, bem como o processo de paz com os guerrilheiros das FARC na Colômbia, entre outros temas.
Whitefield, do Miami Herald, por sua vez, passou décadas cobrindo as histórias "mais importantes" da América Latina, que vão desde a guerra às drogas até a transformação econômica e social do continente. No entanto, para o júri, a sua maior contribuição para a compreensão interamericana é a cobertura de Cuba "com profundidade, equilíbrio e um olhar para detalhes".
O tributo aos jornalistas vai ocorrer no dia 10 de outubro na Low Library, no campus da universidade de Columbia da Morningside Heights.
Uma celebração agridoce
Este ano, além de eleger seus homenageados, o júri decidiu fazer um anúncio especial sobre a violência contra jornalistas no México. A organização condenou os "ataques brutais" contra jornalistas que trabalham no país e pediu o fim da impunidade nos assassinatos.
"Todos os anos, os Prêmios Cabot prestam homenagem a jornalistas de grande coragem, convicção e habilidade que arriscam suas vidas para relatar histórias que devem ser contadas para que a transparência e a prestação de contas sobrevivam nas Américas", disse o presidente de Columbia, Lee C. Bollinger, no anúncio. "Estamos anunciando os vencedores do Prêmio Cabot deste ano em um momento em que os eventos no México aumentaram o nível de alarme sobre o perigo intrínseco ao jornalismo independente e investigativo, lembrando-nos mais uma vez da vulnerabilidade dos repórteres e da necessidade de apoiá-los".
Por esta razão, durante a cerimônia de premiação, o júri lembrará dos mais de 145 casos de assassinatos, desaparecimentos e tentativas de assassinatos de jornalistas no México desde 2000.
"Tragicamente, um dos ganhadores do Prêmio Cabot 2011 é um dos assassinados no México neste ano como retaliação por seu trabalho como jornalista", afirmou o anúncio, referindo-se ao repórter investigativo mexicano Javier Valdez Cárdenas.
Valdez foi morto a tiros perto de seu escritório no dia 15 de maio deste ano. Ele recebeu o Prêmio Cabot em 2011 por seu trabalho no Ríodoce - um jornal que co-fundou - bem como por suas publicações em El Diario de Juárez. Ele se destacou por sua cobertura de questões de corrupção, tráfico de drogas e crime organizado.
O anúncio do júri, pela primeira vez, também inclui um chamado ao presidente do México, Enrique Peña Nieto, para "conduzir uma investigação exaustiva e crível sobre esse crime e pôr fim ao círculo vicioso de violência e da impunidade que está dizimando a imprensa mexicana".
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Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.