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Oito ferramentas que jornalistas investigativos e de dados estão usando e recomendando

Em um contexto em que a sobrecarga de informação e a falta de transparência dos dados públicos são desafios diários para os jornalistas, contar com ferramentas confiáveis e poderosas pode fazer a diferença entre um palpite e uma grande investigação.

Hoje em dia, mais do que nunca, o jornalismo investigativo e de dados na América Latina precisa de aliados para ajudar a cruzar informações, detectar redes de poder, rastrear documentos ocultos na web ou visualizar resultados de forma clara e convincente.

Na LatAm Journalism Review (LJR) reunimos oito ferramentas – algumas novas, outras já consolidadas – que estão transformando a forma como a apuração é feita na região. Desde plataformas que conectam bases de dados governamentais até mecanismos de busca alimentados por inteligência artificial, essas ferramentas têm sido recomendadas por jornalistas renomados que já as utilizam para desvendar redes de corrupção, analisar tendências ou contar histórias complexas com rigor e precisão.

NINA

Há algumas semanas, na LJR, escrevemos um artigo sobre NINA, uma plataforma que conecta diferentes bancos de dados abertos para encontrar conexões entre empresas e indivíduos contratados pelo governo na América Latina.

A plataforma Nina, desenvolvida pelo Centro Latino-Americano de Pesquisa Jornalística (CLIP), posicionou-se como aliada dos repórteres investigativos na América Latina. Foi criada em 2020 e tornou-se uma importante fonte de dados para mais de 400 jornalistas.

"Nestes 5 anos aumentamos a quantidade de dados e acrescentamos novos países. Já temos informações de 21 países", disse Emiliana García, gerente geral do CLIP, à LJR. "Também a conectamos a outros datahubs, como os do OCCRP, Ojo Público do Peru e Sayari."

O acesso à NINA exige registro e fornecimento de informações sobre o veículo em que trabalha, o país de residência e a nacionalidade. Os usuários podem consultar informações sobre empresas, entidades, pessoas, contratos e documentos.

Graphext

Graphext é uma ferramenta de análise de dados que facilita a exploração e visualização de grandes volumes de informações sem a necessidade de programação.

É especialmente útil no jornalismo de dados, pois permite analisar tendências, detectar padrões ocultos, identificar redes de influência e processar dados não estruturados, como textos e redes sociais. Sua abordagem visual e interativa ajuda a transformar dados complexos em histórias compreensíveis.

"Gosto do Graphext porque me ajuda a descobrir padrões em grandes volumes de dados com mais facilidade", disse à LJR a jornalista de dados da Costa Rica, Hassel Fallas. "Usei-o uma vez para encontrar municípios onde existiam relações incomuns entre contratos públicos e em outra ocasião para analisar as músicas da banda britânica Queen."

Para usar a ferramenta você deve se registrar. Ela possui uma versão gratuita limitada e uma versão paga que permite aos usuários trabalhar em vários projetos e com várias equipes. Eles também oferecem planos especiais para acadêmicos e organizações não governamentais.

Hoaxy

Hoaxy é outra ferramenta recomendada por Hassel Fallas. "Essa plataforma me ajudou a visualizar a disseminação de publicações e artigos online, permitindo-me acompanhar como a informação se espalha e detectar possíveis desinformações", disse ela.

O Hoaxy foi desenvolvido pelo Observatório de Redes Sociais da Universidade de Indiana e lançado em 2016. Funciona por meio de busca por palavras-chave ou links, analisando como o conteúdo é compartilhado nas redes sociais, principalmente no X. Através de visualizações interativas, mostra a difusão da informação, identificando fontes e padrões de propagação. Além disso, permite comparar a divulgação de notícias suspeitas com dados de verificadores de fatos, ajudando jornalistas e pesquisadores a compreenderem melhor a dinâmica da desinformação na internet.

Cruzagrafos

A jornalista brasileira e editora de dados do Centro Latino-Americano de Pesquisas Jornalísticas (CLIP), Marina Gama Cubas, recomenda o Cruzagrafos.

Segundo Gama Cubas, essa ferramenta – lançada em 2020 pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e coordenada por Reinaldo Chaves – é a melhor para iniciar investigações jornalísticas.

O CruzaGrafos é uma ferramenta gratuita que permite cruzar dados e ver as relações resultantes em gráficos.

Dentro do CruzaGrafos existem bancos de dados sobre candidaturas eleitorais coletadas no Tribunal Superior Eleitoral, informações de empresas da Secretaria da Receita Federal do Brasil, multas ambientais emitidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, lista de devedores do Governo Federal, entre outros.

"Esta iniciativa visa catalogar, limpar, analisar e publicar grandes bases de dados públicas, que no Brasil costumam ser dispersas e publicadas em formatos de difícil análise ou com enorme quantidade de informações", disse a Abraji em seu site.

É necessário realizar um cadastro prévio, com login e senha, para poder utilizar a ferramenta.

Notebook LM do Google

O NotebookLM é uma ferramenta de pesquisa e anotações desenvolvida pelo Google Labs que usa inteligência artificial (IA), especificamente o chatbot Google Gemini, para ajudar os usuários a interagir com seus documentos.

Os jornalistas podem fazer upload de diferentes tipos de arquivos: transcrições de entrevistas, relatórios governamentais, artigos, PDFs e outros documentos de referência. Uma vez carregados, o NotebookLM pode gerar resumos, explicações e responder perguntas.

O NotebookLM também pode sugerir estruturas de artigos, títulos ou abordagens narrativas para melhorar a redação. Até mesmo com a função "Audio Overviews", os jornalistas podem ouvir resumos em formato de áudio, facilitando a revisão das informações a qualquer momento.

Ele pode ser usado gratuitamente, mas em dezembro de 2024 o Google lançou o NotebookLM Plus, voltado para empresas e assinantes pagos do Gemini, oferecendo recursos avançados e maiores capacidades de processamento.

Durante o 26º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) houve um workshop dedicado ao NotebookLM. Você pode conferir o resumo do que foi discutido naquele dia aqui.

Flourish

A Flourish é a ferramenta que mais se repetiu nas consultas a jornalistas investigativos e de dados da região. A Flourish permite criar gráficos interativos e apresentações atraentes gratuitamente, sem programação.

É muito utilizado no jornalismo de dados, pois facilita a criação de mapas, infográficos, gráficos de barras animados e outros formatos que ajudam a contar histórias visualmente.

"A Flourish mudou minha vida pela facilidade e adaptabilidade de seus modelos e pelo fato de que você pode fazer quase qualquer tipo de visualização", disse à LJR a jornalista venezuelana Crysly Egaña.

A Flourish foi fundada em 2018 por Duncan Clark, jornalista de dados, e Robin Houston, cientista da computação, com o objetivo de superar as limitações das ferramentas tradicionais de gráficos, combinando customização, interatividade e facilidade de uso.

Em 2022, a Flourish foi adquirida pela plataforma de design gráfico Canva, permitindo a sua integração com esta popular plataforma de design e expandindo o seu alcance a mais usuários em todo o mundo.

Pinpoint

O jornalista investigativo salvadorenho e editor do premiado veículo El Faro, Gabriel Labrador, recomenda o Pinpoint sem hesitação.

Pinpoint é uma ferramenta do Google que permite analisar arquivos de texto, áudio, imagens e e-mails. A ferramenta permite identificar automaticamente as pessoas, organizações e locais mencionados com mais frequência nos documentos.

Também permite transcrever arquivos de áudio e extrair texto de arquivos manuscritos.

O Pinpoint faz parte do 'Journalist Studio' do Google, um conjunto de ferramentas que utilizam tecnologia de Inteligência Artificial (IA) e são dirigidas a jornalistas para que possam fazer o seu trabalho de forma "mais eficiente, criativa e segura".

Para utilizar a ferramenta, os jornalistas interessados devem se cadastrar e solicitar acesso.

Pesquisa avançada do Google

A Pesquisa Avançada do Google é uma ferramenta que permite refinar pesquisas para obter resultados mais específicos e relevantes. Em vez de simplesmente digitar palavras-chave na barra de pesquisa, os usuários podem usar operadores especiais ou acessar o formulário de pesquisa avançada, disponível nas configurações do Google, para filtrar os resultados com base em diferentes critérios.

Por exemplo, a pesquisa avançada permite pesquisar frases exatas, excluir determinadas palavras, limitar os resultados a um site específico, definir intervalos de datas, escolher o idioma ou tipo de arquivo, entre outros.

"Embora pareça uma ferramenta básica que usamos todos os dias, com os operadores encontrei muita informação que é pública e oficial", disse à LJR Daniela Castro, editora para a América Latina do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP).

Alguns exemplos úteis incluem: aspas (" ") para pesquisar frases exatas, site: para limitar a pesquisa a um site específico (por exemplo, site

.org), filetype: para pesquisar tipos de arquivo específicos, como PDF ou DOC, o sinal de menos (-) para excluir termos ou AND para encontrar resultados que contenham todas as palavras ou termos indicados.

"As 'aspas', 'site' e 'AND' são os que mais uso", disse Castro.



Traduzido por Marta Szpacenkopf
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