Eles são chamados de Dia Nacional do Jornalista, Dia da Imprensa ou Dia do Jornalista e do Trabalhador da Comunicação.
E são celebrados na data em que o primeiro jornal nacional foi impresso, na data em que jornalistas foram assassinados por criticar ditaduras ou na data em que um imperador renunciou ao poder.
Desde 1938, 19 países latino-americanos reconhecem datas para celebrar a liberdade de expressão e o papel da imprensa na construção da democracia. E agora, em muitos lugares onde o jornalismo é exercido sob assédio, descrédito e criminalização, essas comemorações estão ganhando um novo significado.
"Poder fazer o que gostamos e ser úteis à sociedade sempre será motivo de celebração", disse à LatAm Journalism Review (LJR) Carmen Cermeño, do Colégio Nacional de Jornalistas, seccional Aragua, da Venezuela. "No entanto, não podemos esquecer que há muitos colegas que, ao realizar este trabalho, perderam seus direitos fundamentais."
Os dias dedicados à celebração do jornalismo oferecem uma oportunidade para destacar a importância da imprensa no fortalecimento da democracia, especialmente em países que atualmente enfrentam o autoritarismo. Na Venezuela, por exemplo, em 27 de junho, os jornalistas comemoraram seu dia com o peso amargo de 16 trabalhadores da imprensa presos e o desaparecimento de dezenas de veículos de comunicação desde 2022.
"Temos vivido tempos bastante turbulentos", disse Rocío Alorda, presidente do Colégio de Jornalistas do Chile, onde a data será celebrada em 11 de julho. O dia do jornalista, ela disse à LJR, "é relevante para nós porque nos permite trazer ao centro do debate público a importância de ter veículos de comunicação que possam desenvolver livremente o jornalismo".
A seguir, uma breve explicação sobre a origem e o significado do Dia do Jornalista em 19 países latino-americanos, por ordem de calendário.
Durante a presidência de Porfirio Díaz (1876-1911), a liberdade de expressão no México enfrentou forte repressão, com leis que permitiam punir jornalistas por criticar o governo. Apesar desse clima autoritário, surgiu um jornalismo crítico e combativo que desafiou o poder.
Uma das figuras mais destacadas daquela época foi Manuel Caballero, natural de Tequila, Jalisco. Fundador de vários jornais e pioneiro da crônica e da reportagem, Caballero defendeu as liberdades civis através da imprensa e é lembrado como o "pai do jornalismo moderno" no México.
Em homenagem ao seu legado, o Sindicato Nacional de Redatores da Imprensa estabeleceu em 1954 sua data de falecimento, 4 de janeiro, como o Dia Nacional do Jornalista no México.
O Dia do Jornalista no Equador comemora a publicação do primeiro jornal do país, fundado pelo advogado e jornalista Eugenio de Santa Cruz y Espejo em 5 de janeiro de 1792. (Foto: CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons)
O Dia do Jornalista Equatoriano tem suas raízes na publicação do primeiro jornal do país, Primicias de la Cultura de Quito, fundado pelo médico, advogado e jornalista Eugenio de Santa Cruz y Espejo em 5 de janeiro de 1792. Espejo, considerado fundador do jornalismo equatoriano, utilizou este meio para questionar as injustiças coloniais e fomentar o pensamento crítico e a liberdade de expressão.
Duzentos anos depois, em 1992, o Congresso do país declarou 5 de janeiro como Dia do Jornalista, para honrar o legado de Espejo.
Na Colômbia, os jornalistas são celebrados duas vezes.
O 9 de fevereiro foi estabelecido como Dia do Jornalista Colombiano em memória da fundação do primeiro jornal do país, o Papel Periódico de la Ciudad de Santafé de Bogotá, em 1791, quando o território ainda era conhecido como Novo Reino de Granada. A data foi oficializada em 1975 pelo governo nacional mediante uma lei que tentou profissionalizar e regulamentar o exercício do jornalismo.
O 4 de agosto foi decretado em 2006 como Dia do Jornalista e Comunicador em homenagem ao dia em 1793 em que o independentista Antonio Nariño traduziu do francês e publicou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
O Dia Nacional do Jornalista na Nicarágua é observado em 1º de março em comemoração ao primeiro diário do país, o Diário da Nicarágua, fundado em 1884 sob a direção do jornalista e político Rigoberto Cabezas.
De acordo com a Assembleia Nacional nicaraguense, essa data simboliza o início do jornalismo diário no país. No entanto, nos últimos anos, a data se tornou um lembrete da opressão enfrentada pelos jornalistas independentes sob o governo de Daniel Ortega e Rosario Murillo.
A efeméride foi estabelecida oficialmente em 1964 pelo Congresso e pelo então presidente René Schick Gutiérrez. O decreto concede um dia de descanso remunerado aos trabalhadores dos meios de comunicação.
Em 14 de março se celebra o Dia da Imprensa Cubana, em comemoração à publicação, em 1892, do primeiro número do jornal Pátria, fundado pelo ideólogo e revolucionário cubano José Martí, em Nova York.
Pátria foi criado como um órgão partidário para unir os migrantes cubanos na luta pela independência de Cuba e Porto Rico. Em seu primeiro editorial, Martí destacou a função do jornalismo como ferramenta de união e defesa da liberdade.
Hoje em dia, jornalistas críticos do regime criticam o uso propagandístico que o governo cubano faz da data.
O Dia do Jornalista na República Dominicana é celebrado em comemoração à publicação do primeiro jornal dominicano, O Telégrafo Constitucional, em 5 de abril de 1821.
Fundada pelo jornalista Antonio María Pineda, a publicação teve vida de apenas três meses e desapareceu em 26 de julho do mesmo ano. No entanto, a data de seu lançamento é observada como o início da imprensa escrita no país e foi oficializada em 1962 como Dia do Jornalista.
O 7 de abril foi instituído como Dia do Jornalista no Brasil pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) porque nesta mesma data, em 1831, ocorreu a abdicação do imperador Dom Pedro I.
Um dos principais motivos da queda do imperador foram as intensas manifestações que eclodiram após o assassinato do jornalista e médico Giovanni Batista Líbero Badaró, ocorrido meses antes em São Paulo. Líbero Badaró foi o fundador do jornal Observatório Constitucional, de onde denunciava a censura e promovia ideais liberais.
A ABI, fundada também em 7 de abril, mas em 1908, estabeleceu em 1931 o Dia do Jornalista.
O Dia do Jornalista no Paraguai é comemorado em 26 de abril, em homenagem ao surgimento do primeiro jornal nacional, O Paraguaio Independente, publicado pela primeira vez em 1845. Naquela época, o Paraguai estava sob o governo do presidente Carlos Antonio López, que usou a publicação para reafirmar a soberania do país diante de pressões externas, especialmente da Argentina, que não reconhecia completamente a independência paraguaia.
A data coincide com o assassinato de Santiago Leguizamón, jornalista e diretor de uma rede de rádio, que no Dia do Jornalista de 1991 foi morto pelas mãos do crime organizado, aparentemente como uma mensagem de intimidação à imprensa, segundo a Coordenadora de Direitos Humanos do Paraguai.
A cada 10 de maio, a Bolívia comemora o Dia do Jornalista, data instituída oficialmente em 1938 pelo então presidente Germán Busch Becerra. O decreto buscou reivindicar o exercício jornalístico como profissão e outorgar-lhe reconhecimento legal e direitos sociais. Também destacou o papel da imprensa como motor da cultura e do desenvolvimento coletivo, equiparável à educação.
Além disso, nessa data se presta homenagem aos jornalistas Cirilo Barragán e Néstor Galindo, assassinados em 10 de maio de 1865, por ordem do ditador Mariano Melgarejo, devido a publicações críticas ao regime. Barragán, diretor do jornal Juízo Público; e Galindo, poeta e comunicador, simbolizam a luta histórica pela liberdade de expressão na Bolívia.
Em 25 de maio de 1830 foi publicada a primeira edição do diário oficial de Honduras, A Gazeta, considerado o primeiro jornal do país. A criação do diário, que sobrevive até hoje como gazeta oficial do governo, foi possível graças à chegada no ano anterior da primeira a primeira prensa tipográfica ao país.
Cem anos depois, em 25 de maio de 1930, realizou-se o Primeiro Congresso Nacional de Jornalistas, com delegados de 18 jornais. Neste Congresso se reconheceu a função social da imprensa e se estabeleceu oficialmente o 25 de maio como data para reconhecer aqueles que exercem o jornalismo no país.
Na Argentina, o Dia do Jornalista é comemorado em memória da primeira edição da Gazeta de Buenos Aires, em 7 de junho de 1810. (Foto: Governo de Buenos Aires, sob licença CC BY 2.5 AR)
O Dia Nacional do Jornalista Costarriquenho é celebrado em 30 de maio. A data foi estabelecida em 2010 por decreto presidencial, em homenagem às vítimas do atentado terrorista de La Penca, ocorrido em 30 de maio de 1984.
O atentado ocorreu durante uma coletiva de imprensa em uma localidade da Nicarágua, perto da fronteira com a Costa Rica, convocada por um ex-guerrilheiro. Uma bomba explodiu no local, deixando várias vítimas fatais, incluindo três jornalistas de veículos costarriquenhos: a repórter do Tico Times Linda Frazier; o cinegrafista da Notiseis, Jorge Quirós; e o sonoplasta Evelio Sequeira.
O decreto, emitido pelo então presidente Óscar Arias, reconhece a importância de lembrar aqueles que foram perseguidos, atacados ou assassinados por exercer o jornalismo.
Na Argentina, o Dia do Jornalista é celebrado em lembrança do primeiro número da Gazeta de Buenos Aires, em 7 de junho de 1810. Trata-se do primeiro jornal da era independentista do país. Embora seu objetivo inicial fosse divulgar atos do governo, é considerado como o meio que lançou as bases do jornalismo na Argentina.
A comemoração foi oficializada em 1938 pelo Primeiro Congresso Nacional de Jornalistas, no qual se reconheceu a importância histórica da imprensa na formação da nação e na difusão de ideias patrióticas.
Também nesse Congresso se lançaram as bases do que anos mais tarde se converteria no Estatuto do Jornalista Profissional, que regula as funções, condições e direitos dos trabalhadores de imprensa na Argentina.
A origem da celebração aos jornalistas na Venezuela remonta a 1818, quando o libertador Simón Bolívar fundou – em plena guerra de independência – o Correio do Orinoco, um meio de propaganda revolucionária.
A data foi instituída oficialmente em 1964 pela Associação Venezuelana de Jornalistas (antecessora do atual Colégio Nacional de Jornalistas, CNP), a partir de uma proposta enviada pelo político e jornalista Guillermo García Ponce da prisão, onde estava por acusações de rebelião militar.
Em anos recentes, grêmios de imprensa da Venezuela têm aproveitado o Dia do Jornalista para denunciar a perseguição e autoritarismo do regime do presidente Nicolás Maduro e exigir garantias para o exercício de um jornalismo livre e seguro.
No Chile, o Dia do Jornalista é celebrado em comemoração à promulgação, em 11 de julho de 1956, da lei que criou o Colégio de Jornalistas do Chile, criado para agrupar os profissionais que começavam a se formar na primeira escola de jornalismo do país. A lei buscava profissionalizar e regular o exercício do jornalismo.
O Chile também conta com um Dia Nacional da Imprensa, que é celebrado todo 13 de fevereiro, em comemoração à entrada em circulação do primeiro diário impresso no país, La Aurora de Chile.
Enquanto a celebração de 11 de julho comemora a institucionalização e profissionalização do jornalismo no Chile, a de 13 de fevereiro lembra o nascimento da imprensa escrita.
O Dia do Jornalista em El Salvador é celebrado em 31 de julho. A comemoração foi estabelecida em 1969 por iniciativa do poeta Julio Escamilla Saavedra. A data foi escolhida em lembrança do surgimento do El Semanario Político Mercantil de San Salvador, primeiro jornal oficial salvadorenho.
O Semanario Político Mercantil de San Salvador foi fundado em 31 de julho de 1824 pelo sacerdote José Matías Delgado depois que ele adquiriu a primeira prensa tipográfica no país, com dinheiro dos fiéis.
Vários dos primeiros jornalistas salvadorenhos foram religiosos que estavam a favor da independência do país, entre eles o padre Miguel José Castro.
O Dia do Jornalista no Peru é celebrado em 1º de outubro, em homenagem ao surgimento do El Diario de Lima, fundado pelo jornalista Francisco Antonio Evaristo Cabello y Mesa em 1790, quando o atual território peruano fazia parte do Vice-Reino do Peru.
El Diario de Lima foi a primeira publicação periódica do país. Foi fundado pelo advogado Jaime Bausate y Meza, considerado o precursor do jornalismo especializado, já que o veículo informava tanto sobre assuntos locais quanto sobre temas específicos, como economia nacional e práticas médicas.
Em 1º de outubro de 1953, mediante Decreto Supremo, se proclamou o 1º de outubro como o Dia do Jornalista Peruano.
O 23 de outubro é celebrado no Uruguai como o Dia do Jornalista e do Trabalhador dos Meios de Comunicação. A data lembra o 23 de outubro de 1815, dia em que José Gervasio Artigas, político e militar considerado o pai da independência do Uruguai, enviou um ofício ao Cabildo de Montevidéu solicitando apoio para a impressão de um novo jornal, chamado Prospecto Oriental.
No ofício, Artigas qualificava a imprensa como ferramenta fundamental para a construção do país e pediu às autoridades que promovessem a liberdade de imprensa no território.
Em 2019, o 23 de outubro foi declarado feriado não laboral para os trabalhadores dos meios de comunicação em todos os seus âmbitos.
O Dia do Jornalista no Panamá é celebrado em 13 de novembro, em comemoração ao falecimento do poeta e jornalista Gaspar Octavio Hernández, que morreu nesta data em 1918 devido a um ataque de tuberculose enquanto realizava seu trabalho como redator-chefe no diário La Estrella de Panamá.
No décimo aniversário da morte de Hernández se celebrou pela primeira vez o Dia do Jornalista Panamenho, por iniciativa da Associação de Jornalistas do Panamá. Esta primeira celebração teve a forma de um grande evento social, que incluiu peregrinação ao túmulo de Hernández, uma sessão solene e um baile.
O assassinato do jornalista Líbero Badaró (foto) levou à queda do Imperador Pedro I em 7 de abril de 1831, data que foi instituída como o Dia do Jornalista naquele país. (Foto: Domínio público via Wikimedia Commons)
Na Guatemala, o Dia do Jornalista é celebrado em 30 de novembro. Inicialmente, o jornalista David Vela, que chegou a ser diretor do diário El Imparcial, propôs estabelecer o 1º de novembro como data comemorativa, em lembrança da primeira edição da La Gaceta de Guatemala, a primeira publicação informativa do país, que circulou de 1º a 30 de novembro de 1729.
Posteriormente, em 1948, a Associação de Jornalistas da Guatemala (APG) propôs como Dia do Jornalista o 21 de agosto, dia de São Francisco de Sales, padroeiro católico dos escritores e jornalistas. Finalmente, a APG optou por comemorar a data do primeiro número de La Gaceta de Guatemala, mas escolheu o dia 30 em lugar do 1º de novembro.
Em 1972, o Congresso guatemalteco oficializou a celebração mediante decreto que reconhece o papel vital do jornalismo na sociedade e declara o 30 de novembro como dia de descanso com salário pago para os trabalhadores da imprensa.