Em um ecossistema informativo no qual a desinformação circula mais rápido do que a capacidade de resposta dos checadores de informações, são necessárias ferramentas cada vez mais precisas e eficientes para verificar conteúdos, apontar enganos e entender como se propagam narrativas falsas.
A lista a seguir reúne cinco ferramentas que meios de comunicação e organizações de checagem usam para tarefas que vão desde rastrear desinformação e analisar seus padrões de difusão, até recuperar conteúdos removidos e examinar material audiovisual.

O Fact Check Explorer permite inserir frases, dados ou links para verificar se já foram verificados. (Foto: Captura de tela)
O Google desenvolveu um ecossistema de ferramentas de checagem de fatos, algumas voltadas para checadores e outras para o público em geral. O destaque é o Fact Check Explorer, um buscador especializado que reúne “claim reviews” (verificações de afirmações) de várias organizações de checagem de todo o mundo, incluindo Chequeado (Argentina), Bolivia Verifica (Bolívia), El Sabueso (México) e Cotejo.info (Venezuela).
O Fact Check Explorer permite que qualquer usuário insira uma frase, um dado ou um link para verificar se alguém já o verificou, e com qual classificação (‘verdadeiro’, ‘falso’ ou ‘enganoso’).
A Fact Check Markup Tool permite adicionar uma ‘etiqueta’ de dados estruturados aos artigos de checagem para que buscadores como o Google os reconheçam facilmente. Assim, quando alguém pesquisa informações relacionadas, o Google exibe esses artigos como resultados verificados e lhes dá prioridade, oferecendo mais transparência aos usuários.
Os meios interessados em usar a Fact Check Markup Tool devem verificar seu site na plataforma Google Search Console. Além disso, o Google também disponibiliza APIs (interfaces de programação) voltadas a desenvolvedores de veículos, para integrar funcionalidades de verificação em suas próprias plataformas.

O Wayback Machine permite explorar versões arquivadas de milhões de sites. (Foto: Captura de tela do Archive.org)
Archive.org é uma biblioteca digital sem fins lucrativos que coleta e preserva cópias de sites, softwares e outros recursos digitais. Sua funcionalidade mais conhecida, a Wayback Machine, permite navegar por versões arquivadas de milhões de páginas da web. É de acesso gratuito e funciona como um histórico permanente da internet.
Essa plataforma, criada pelo engenheiro e pioneiro no desenvolvimento de tecnologias para preservar e democratizar o acesso à informação Brewster Kahle, dos Estados Unidos, permite que jornalistas e verificadores consultem versões antigas de páginas virtuais, mesmo quando o conteúdo foi modificado ou removido. Isso é muito útil para identificar alterações suspeitas, conferir o contexto original de uma publicação ou rastrear a evolução de uma narrativa enganosa.
Na tarefa de verificação de deep fakes, o Archive.org ajuda a comparar material manipulado e verificar se um conteúdo viral já existia em outro contexto ou época, graças à sua coleção massiva de vídeos, imagens e arquivos digitalizados.

O OSoMeNet ajuda a examinar como certas narrativas se espalham online. (Foto: Captura de tela de osoma.iu.edu)
OSoMeNet é uma ferramenta que ajuda a visualizar padrões de difusão de conteúdos em algumas redes sociais, como Bluesky, Mastodon e TikTok. Ela consiste em um mapa que mostra redes de difusão (como uma unidade de informação se propaga de usuário para usuário) e redes de coocorrência (quais temas ou hashtags estão relacionados entre si nas discussões online).
A ferramenta foi desenvolvida pelo Observatory on Social Media (OSoMe) da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, o mesmo grupo acadêmico que criou o Hoaxy, ferramenta predecessora do OSoMeNet, que também permitia calcular uma pontuação de bots, medindo o nível provável de automação na disseminação de conteúdos no Twitter.
Hoaxy, que foi usado por redações de todo o mundo para produzir reportagens emblemáticas, foi descontinuado, em parte porque funcionava com a API gratuita do Twitter (agora X), que foi desativada. No entanto, muitas de suas funções foram integradas ao OSoMeNet, disse Ben Serrette, diretor de TI e engenharia do OSoMe.
“OSoMeNet permite aos usuários, incluindo jornalistas, examinar como determinadas narrativas se difundem na internet”, disse Serrette à LatAm Journalism Review (LJR). “Por exemplo, os pesquisadores podem identificar com mais facilidade quais contas influentes estão amplificando um tema, verificar se existe algum tipo de esforço coordenado ou até descobrir outros temas relacionados que talvez desconhecessem”.
No combate à informação falsa ou enganosa, o OSoMeNet permite rastrear como uma notícia falsa é compartilhada e quem são os principais difusores, facilitando a identificação de campanhas de desinformação.
A ferramenta também inclui uma função de linha do tempo que mostra a atividade das publicações ao longo do tempo, permitindo observar como uma narrativa evolui online.

O InVid inclui ferramentas que permitem obter informações contextuais de vídeos do Facebook, X e YouTube (Foto: Captura de tela)
InVID é uma plataforma desenvolvida para detectar, autenticar e verificar a confiabilidade e a precisão de conteúdos em vídeo difundidos por redes sociais. Foi criada por um consórcio multidisciplinar que incluiu acadêmicos, tecnólogos e organizações jornalísticas europeias, como a Agência France-Presse (AFP) e a Deutsche Welle, como parte do projeto Horizon vera.ai, cujo objetivo é usar a IA para combater a desinformação.
A plataforma inclui um conjunto de ferramentas que permitem obter informações contextuais de vídeos do Facebook, X e YouTube, realizar buscas reversas e fragmentar clipes dessas plataformas em quadros-chave, além de trabalhar com conteúdos do Instagram e do Daily Motion.
Também permite ler metadados de vídeos e imagens e até verificar os direitos autorais de conteúdos audiovisuais. InVID inclui, ainda, funcionalidades de análise forense para imagens suspeitas de terem sido manipuladas.
A plataforma é composta por várias ferramentas, mas a mais destacada é a extensão para navegadores, que permite integrar suas funcionalidades diretamente ao fluxo de trabalho do usuário. A extensão é gratuita, de livre acesso e funciona no Chrome e no Firefox.

A FactFlow usa IA para detectar padrões de desinformação em textos, áudios, vídeos e imagens no Telegram. (Foto: Captura de tela)
Quando fortes tempestades e inundações atingiram várias cidades na Espanha em 2024, narrativas falsas sobre supostas consequências do desastre se espalharam rapidamente pelas redes sociais. A velocidade da desinformação superou a capacidade de resposta dos checadores, colocando em risco a confiança e a segurança da população, segundo Sara Estevez, engenheira de prompts da organização de jornalismo e tecnologia Newtral.
Para responder melhor a situações como essa, a Newtral criou o FactFlow, uma ferramenta que usa IA para detectar padrões de desinformação em textos, áudios, vídeos e imagens no Telegram, uma das redes sociais mais usadas na Espanha para a difusão de conteúdos virais potencialmente perigosos.
Durante a apresentação do FactFlow na Cúpula Global sobre Desinformação de 2025, em setembro, Estevez afirmou que a ferramenta reduziu para segundos o tempo que os verificadores de fatos levam para monitorar possíveis desinformações virais no Telegram. Além disso, usuários conseguiram identificar canais de desinformação que não haviam encontrado anteriormente, acrescentou.
A ferramenta, desenvolvida como parte do programa Innovation Challenge 2024 do JournalismAI, também oferece funcionalidades úteis para jornalistas investigativos em tarefas como obter informações sobre agentes e redes de desinformação, por meio de um painel de controle que permite realizar buscas específicas, filtrar resultados e monitorar tendências de desinformação.
A ferramenta usa o modelo de IA de código aberto Qwen, que foi treinado com mais de um milhão de mensagens coletadas pelos verificadores da Newtral de mais de duas mil contas e canais suspeitos no Telegram, disse Estevez.
No momento, o FactFlow está disponível apenas para acadêmicos e checadores de fatos da Newtral, mas a organização planeja expandir seu uso para outras redações em um futuro próximo, assim como implementá-lo em outras plataformas, como TikTok e X, contou Diana Cid, coordenadora de projetos da Newtral, à LJR. As redações interessadas podem enviar um e-mail para proyectos@newtral.es