By Eric Andriolo
Na apuração de matérias investigativas, o jornalista tem de lidar com diversas fontes, números e dados de vários tipos em diferentes formatos. Existem ferramentas disponíveis online para criar e manipular bancos de dados, mas quais são mais úteis neste processo? O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas fez a pergunta a quatro jornalistas brasileiros.
A maioria afirma que o essencial é saber usar as ferramentas mais básicas. Para Thiago Prado, jornalista da revista Veja, as planilhas eletrônicas (como o Excel) são mais importantes do que os diversos softwares disponíveis online. Marcelo Soares, repórter especializado em jornalismo de dados, concorda. “Saber usar bem as planilhas - Excel, Open Office, Google Docs – é o começo de tudo. Se você entende como funciona uma planilha, sabe o que tirar dela para mostrar nas visualizações mais complexas”, diz Soares.
Uma alternativa aos softwares tradicionais e proprietários é a planilha do Libre Office, de interface semelhante à do Excel, porém em software livre, disponível para a maioria das plataformas computacionais - como Windows, Linux e Mac – e com um formato amigável que permite importar e exportar dados para diversas plataformas.
Para José Roberto de Toledo, especialista em Reportagem Assistida por Computador (RAC) e atual vice-presidente da Associação Brasileira de Jornailsmo Investigativo (Abraji), a planilha, sozinha, não é suficiente. “É preciso um programa para reconciliar as várias tabelas que tenham colunas em comum”. Ele recomenda o software File Maker, embora também exista o AccessYour.
Para extrair (raspar) dados há o OutWit Hub Pro, que possui versões gratuitas disponíveis. Apesar de lento, pode ser usado por quem não possui conhecimento de programação.
O Google também disponibiliza ferramentas úteis. Toledo recomenda o Google Refine, para "limpar" tabelas com mais agilidade, e o Google Fusion Tables, para fundir diferentes planilhas de dados.
Para visualização de dados, em meio a diversos softwares e plataformas que surgem na rede, o especialista recomenda “os velhos”: Many Eyes, que permite a criação de gráficos, e Wordle, que cria word clouds (nuvens de palavras) para análise de texto.
Diego Escosteguy, editor de política na revista Época, elegeu o software Evernote, que usa como “banco de dados pessoal”, como um instrumento fundamental para o seu trabalho. A razão da escolha está na versatilidade do programa. Nele é possível armazenar dados obtidos em todas as etapas de uma apuração. “De anotações e gravações de entrevistas com fontes, passando pela coleta de informações na internet, aos primeiros rascunhos de reportagens mais elaboradas”, explica.
O software também pode criptografar notas de texto, é relativamente confiável e funciona em diferentes plataformas, inclusive em iPhone e iPad. Todas as informações são sincronizadas em nuvem, ou seja, estão à disposição do usuário onde houver acesso à internet.
Uma outra interessante ferramenta de gerenciamento de dados é o CKan, desenvolvido pela Open Knowledge Foundation, uma espécie de repositório de pacotes e projetos de conteúdo aberto que torna fácil encontrar, compartilhar e reutilizar dados, especialmente de maneiras automatizáveis por máquina.
Para Toledo, "o ideal seria um aplicativo web que você pudesse alimentar junto com todos da sua equipe para uso coletivo, mas para isso, é preciso um programador". Enquanto a ferramenta ideal não surge, podemos recorrer à combinação das existentes para tornar o trabalho com banco de dados mais simples e dinâmico e facilitar boas investigações.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.