Por Eric Andriolo
Em período eleitoral, a cobertura política assume papel central na sociedade, por isso, jornalistas vêm tentando melhorar a forma como se faz notícia nessa época. Com a proximidade das eleições presidenciais, a mídia americana tem demonstrado uma tendência maior à checagem de fatos quando noticia discursos políticos.
A nova abordagem é atribuída, em parte, às mídias digitais, já que a quantidade de informações disponíveis e o grande número de fontes tende a facilitar a apuração de erros e mentiras nos discursos de candidatos.
Mas há ressalvas quanto à eficiência da web na apuração jornalística. “O que se tem de falsidade na internet é uma coisa tão grande que não ajuda em absolutamente nada para apuração. É necessário que exista alguma credibilidade por trás daquele que está denunciando”, ressalta Sylvia Moretzsohn, jornalista e professora da Universidade Federal Fluminense.
Até mesmo fontes confiáveis, como sites governamentais que garantem acesso a documentos, são alvos de limitações, observa Diego Escosteguy, diretor da revista Época em Brasília. “As grandes apurações quase sempre envolvem pessoas. Mesmo que você consiga um documento importantíssimo, quase sempre, no Brasil, você precisa de uma pessoa para checar isso. Precisamos olhar para o documento com um pouco menos de espanto”.
Apesar disso, algumas ferramentas digitais criadas com objetivo de ajudar jornalistas a checar fatos por trás de notícias provaram-se eficazes. Uma delas é o Poligraft, que analisa textos de notícias e encontra conexões entre personagens e organizações. Outro é o vencedor do Pulitzer, Politifact, que possui o truth-o-mether (um "mentirômetro") que mede a veracidade de declarações de políticos.
No Brasil, às vésperas das eleições municipais, a versão online do jornal O Globo criou o Promessômetro, para descobrir o nível de aprovação da população às promessas de candidatos.
Essas iniciativas tentam se afastar de um vício jornalístico: a notícia baseada em declarações, com pouco contexto e fraca apuração. “Acho que isso é um mecanismo de defesa profissional e uma tradição. É um tipo de jornalismo que tenta inibir o jornalista de qualquer responsabilidade por aquilo que ele está publicando“, afirma Escosteguy, que esclarece que a responsabilidade da apuração deve pesar sobre o repórter, mesmo quando as fontes oficiais trabalham apenas dessa forma. “Isso se contorna fazendo jornalismo. Tem que saber que o compromisso dos assessores é com o candidato, não com a verdade, e a chance de estarem mentindo é muito grande".
O que parece faltar nas coberturas eleitorais é a mesma coisa que preocupa os eleitores: Investigar os candidatos. “Seus diagnósticos são precisos? Suas propostas são factíveis? Quando estiveram em posição de poder no passado, esses candidatos fizeram o que prometeram?” indaga o jornalista Fabiano Angélico, pesquisador da FGV e ex-coordenador de projetos da ONG Transparência Brasil.
Uma crítica muito recebida pela cobertura eleitoral é a da “política da corrida de cavalos”, termo cunhado pela primeira vez pelo jornalista Thomas B. Littlewood, para descrever a cobertura política como um esporte de espectadores, onde até os termos usados são aqueles de uma competição.
Pode-se argumentar que isso é natural do processo eleitoral. “Não tem como fugir do ponto que uma eleição é uma competição. A lógica da campanha eleitoral é favorável à pesquisa. Não é a toa que a imprensa corre para isso”, diz Escosteguy, e acrescenta que “é importante que o jornalista entenda de pesquisas e de números”.
Por outro lado, a cobrança sobre a mídia continua voltada à contextualização da notícia. “É preciso comparar essas tendências de voto com outros aspectos da vida social. Só assim, o jornalismo ajudará a sociedade a compreender melhor o seu tempo”, diz Angélico.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.