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Jornalista mexicana Carmen Aristegui denuncia roubo, campanha de difamação e ameaças de morte

Na última semana, a jornalista mexicana Carmen Aristegui e o veículo dirigido por ela, Aristegui Noticias, denunciaram uma série de fatos que, mesmo sem saber se estão ligados entre si, colocam em dúvida a segurança da comunicadora e da sua equipe no país.

Nesta quarta-feira, 23 de novembro, Aristegui Noticias (AN) publicou um artigo que denunciava uma invasão da redação por cinco pessoas, três homens e duas mulheres, no dia 13 de novembro. Durante o incidente, essas pessoas forçaram as fechaduras, desmontaram portas, reviraram gavetas e outros espaços do lugar, informou AN.

Os homens foram diretamente para o escritório da direção e para a Unidade de Investigações Especiais do AN. Da unidade, roubaram um computador “que tem informação relevante de investigações em curso, assim como matérias sobre investigações especiais publicadas pelo site de notícias e pedidos de informação formulados a diversas instâncias públicas”, acrescentou o portal.

Durante o crime, o porteiro do edifício foi subjugado, espancado e drogado. Segundo ele, um dos homens disse que estava buscando “dados ou informação”, publicou AN.

Aristegui Noticias assegurou que, desde o crime, os administradores do imóvel denunciaram o fato na Procuradoria Geral de Justiça da Cidade do México.

“Aristegui Noticias tem colaborado com as autoridades da capital, apresentando a denúncia correspondente; entregando a documentação necessária para acreditar a sua razão social e facilitado, em todo momento, o acesso de peritos e autoridades para recolher evidências e testemunhos”, publicou. Também afirmou que entregou os vídeos das câmeras de segurança que captaram todo o incidente.

O portal assegurou que não havia publicado o fato antes “para não afetar o sigilo das investigações e evitar que o trabalho da Procuradoria da capital fosse afetado ou dificultado e para não colocar em risco as declarações e os seus resultados”.

No entanto, a decisão mudou quando, em 22 de novembro, dos veículos mexicanos publicaram informações sobre a invasão e o roubo. Segundo AN, essas matérias publicaram partes de testemunhos, fotografias e "outro elementos fundamentais", que só poderiam ter sido obtidos dos documentos oficiais da investigação.

“Uma vez que a cadeia de custódia dos elementos que fazem parte da investigação e o sigilo, ao qual está obrigada a autoridade, foram destruídos, Aristegui Noticias decidiu dar a conhecer o sucedido e mostrar diante da opinião pública os vídeos que foram entregues para as autoridades da Procuradoria”, publicou AN.

Segundo o portal, com o vídeo editado que foi publicado esperam que os cidadãos reconheçam os sujeitos e passem informações para as autoridades, já que “não houve avanços” na investigação.

De acordo com o texto publicado por AN, não foi levado nada além do computador, apesar de haver outros equipamentos de maior valor na redação.

Aristegui Noticias também denunciou a existência de uma campanha de difamação contra a sua diretora, Carmen Aristegui, que começou no mesmo fim de semana do roubo.

Segundo o AN, na sexta-feira 11 de novembro, começaram a difundir informações falsas sobre Aristegui relacionadas a uma suposta incursão de militares na sua casa por ordens do governo.

Em 13 de novembro, no mesmo dia do roubo, começaram a divulgar um vídeo nas mídias sociais que “sem citar fontes”, segundo AN, falava de uma suposta relação entre a jornalista e o empresário Carlos Slim, e um conflito de interesses de Aristegui.

“O vídeo assegura que a jornalista ‘defendeu abertamente’ os interesses do empresário durante o debate sobre a Reforma das Telecomunicações, ‘em troca de se transformar na chefe de notícias do terceiro canal de televisão que o empresário fundaria para competir com a Televisa’”, publicou AN.

Aristegui Noticias também denunciou o uso de bots (robôs) para promover a hashtag #LosSecretosdeAristegui (os segredos de Aristegui) que ficou nos trending topics do Twitter do México por cinco horas. “As publicações foram enviadas, na sua maioria, por contas que apresentavam as características de um bot”, afirmou a publicação.

Além disso, logo depois que os veículos mencionados publicaram a informação sobre o roubo e invasão da redação do Aristegui Noticias, o site começou a receber, por meio das mídias sociais, “mensagens, áudios e fotografias de ameaça contra Carmen Aristegui”, afirmou o portal.

Nos últimos anos, os casos de perseguição e assédio contra Aristegui parecem ter aumentado. Desde a publicação da investigação “A Casa Branca de Peña Nieto”, na qual a equipe de jornalistas investigativos do Aristegui Noticias revelou um suposto caso de conflito de interesses do presidente do México, Enrique Peña Nieto, a jornalista tem sido um alvo recorrente.

Os jornalistas da equipe de investigações encarregados da reportagem foram despedidos do grupo de rádio MVS onde Aristegui dirigia um programa de notícias diário. Quando Aristegui pediu a readmissão dos jornalistas, ela também foi demitida. Aristegui entrou com um processo para pedir a sua readmissão, mas um juiz decidiu contra a jornalista.

Recentemente, outro juiz obrigou Aristegui a mudar o prólogo do seu livro “A Casa Branca de Peña Nieto, a história que balançou um governo”, para as próximas edições.

A decisão se deu em um processo contra Aristegui por parte de Joaquín Vargas, presidente do grupo MVS. Vargas considerou que o seu nome tinha sido afetado pelo prólogo do livro, que afirmava que os diretores do grupo haviam sucumbido “a pressões e transações”​ do governo.

O magistrado ordenou incluir nas próximas edições do livro parte da sua decisão como forma de reparação do dano causado a Vargas.

Essa decisão foi classificada pela ONG Artículo 19 México como “um retrocesso na garantia da liberdade de expressão”.

No entanto, o trabalho de Aristegui e sua equipe foi reconhecido de várias formas diferentes. A equipe de jornalistas investigativos ganhou o Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo na categoria Cobertura no ano de  2015 justamente pela reportagem sobre a Casa Branca de Peña Nieto.

Ainda assim, a equipe também recebeu o Prêmio Internacional Knight de Jornalismo 2016 do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ da sigla em inglês). Aristegui recebeu esse reconhecimento em Washington D.C., nos Estados Unidos, em 14 de novembro, um dia depois do roubo da sua redação.

Esta semana, Aristegui fez parte de 100 Mulheres 2016, eleita pela BBC. Foi uma das nove mulheres latino-americanas selecionadas.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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