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Repórteres mexicanos criam projeto que oferece bolsas para promover o jornalismo de investigação em seu país

A explosão de censura e pressão a que têm sido expostos os jornalistas mexicanos nos últimos anos fez a jornalista Alexandra Xanic lembrar do que o país viveu nos anos 90. A dependência dos meios da pauta oficial, a redução das redações e a busca das empresas por "esvaziar espaços" têm deixado o jornalismo investigativo cada vez mais esquecido, e o pouco que é feito não tem o impacto que deveria.

O tema se converteu em preocupação não apenas para Xanic, como também para seus colegas Daniel Lizárraga, Ignacio Rodríguez Reyna e Marcela Turati, que queriam fazer algo a respeito.

No entanto, foi apenas com a demissão de Lizárraga, em 2015, que o grupo teve o gatilho para recorrer à ação. O jornalista fazia parte da unidade de investigações do noticiário de rádio Primera Emisión, dirigido por Carmen Aristegui, que coordenou uma das investigações mais polêmicas da equipe, a chamada ‘Casa Blanca de Peña Nieto’. A reportagem dava conta de uma casa milionário dada à família presidencial por parte de um contratado do governo, que não havia sido declarada pelo presidente.

Lizárraga e seus colegas estavam em "um momento das carreiras em que, seja por pressão ou por decisão própria, pensávamos na possibilidade de fazer coisas novas", segundo disse Xanic ao Centro Knight.

Foi neste contexto, depois de meses de conversas e de receber o apoio de muitos "padrinhos e madrinhas", que nasceu o Quinto Elemento Lab, projeto liderado por estes jornalistas com o qual buscam fomentar o jornalismo investigativo no México.

O Quinto Elemento funciona como um laboratório. Em suas discussões prévias, o grupo de jornalistas entendeu que no país há muitos repórteres "muito bons em temas de investigações", mas aos quais falta um pouco de acompanhamento de outros colegas com quem discutir o método, o planejamento e a publicação, explicou Turati ao Centro Knight. Uma ideia compartilhada por Xanic.

“Com muita frequência, aprendemos a investigar sozinhos, e não temos outras pessoas com quem trocar ideias. Com muita, muita frequência, o editor, que deveria funcionar como este assessor ou essa pessoas com quem exploramos diversas maneiras de investigar, não cumpre essas funções, ou porque não tem tempo, tentando preencher páginas, ou porque simplesmente está formado em outra escola, a de cortar, e não de acompanhar”, disse Xanic. “Então andamos muito soltos, muito sozinhos, e creio que esta tem sido nossa experiência. A ideia de uma equipe que te faça mais forte é a que tem sido melhor acolhida".

Xanic faz referência não apenas ao apoio mostrado por outros colegas e meios no lançamento do Quinto Elemento, no último dia 9 de março, como também ao número de pessoas que responderam à primeira de três convocatórias que a organização realizará neste ano.

Para esta primeira oportunidade, o Quinto Elemento está convidadando os jornalistas mexicanos ou estrangeiros que vivem no país a apresentarem projetos de investigação jornalística "de interesse e impacto para a sociedade mexicana", segundo consta na página web. A convocatória estará aberta até o dia 10 de abril, e tem temas específicos para abordar, como meio ambiente, direitos humanos, impunidade e corrupção, relações entre México e Estados Unidos, entre outros.

As três propostas escolhidas vão receber um máximo de 80 mil pesos mexicanos cada, dependendo do orçamento de cada reportagem. No entanto, o aspecto que tem recebido mais comentários positivos é o trabalho em uma equipe, ou seja, os jornalistas escolhidos trabalharão com os membros da equipe Quinto Elemento. Com eles, serão discutidos desde o avanço das investigações até qual a melhor maneira de publicá-la.

“O importante é que somos pequenos. Vamos ter poucas investigações, vamos estar mais nas investigações, vamos ter um acompanhamento mais pessoal, muito mais cotidiano, e creio que isto também tem um encanto", assinalou Xanic.

De fato, é daí que vem o nome do projeto. O quinto elemento será o jornalista ou o grupo de repórteres que trabalharão juntos e formarão uma equipe em cada investigação.

O Quinto Elemento tem como objetivo publicar 12 investigações neste primeiro ano, uma cifra "muito ambiciosa", segundo Xanic, tendo em conta o tamanho da equipe. Por isso, entendem que se trata de um desafio muito grande, mas que, por funcionarem como laboratório, eles têm mais possibilidades de experimentar.

“É um desafio muito grande, um desafio para nós quatro, porque não temos respostas", explicou Turati. "Não é que tenhamos uma fórmula sobre como podemos impactar, que estratégia vamos usar. O que realmente queremos é explorar em casa reportagem que decidamos acompanhar o que se faz necessário".

Apesar de não terem as respostas, a equipe do Quinto Elemento tem experiência de anos e de reconhecimentos que respaldam o trabalho que vão empreender.

Alejandra Xanic é uma jornalista independente dedicada a realizar investigações para meios do México e dos Estados Unidos. Ela já passou por diferentes unidades de investigação do país. Em 2013, ela recebeu o prêmio Pulitzer, com David Barstow do The New York Times, pela reportagem que documentou o uso de subornos pela empresa Walmart no México.

Ignacio Rodríguez Reyna é fundador e diretor das revistas Milenio Semanal, La Revista e Emeequis. Ele também já trabalhou em diferentes meios e os jornalistas sob sua coordenação já receberam cerca de 50 prêmios nacionais e internacionais.

Marcela Turati é fundadora de Periodistas de a Pie, “chave na criação de redes de jornalistas trabalhando em condições de risco", e coordenou o site Másde72, que documentou os impactos da violência no México. Ela se especializou em mostrar as consquências da chamada guerra contra as drogas viajando por todo o México. Atualmente, ela é uma Nieman fellow na Universidad de Harvard.

Daniel Lizárraga dirigiu a equipe de investigações de MVS, com Carmen Aristegui, que descobriu o caso da ‘Casa Blanca’, reportagem que ganhou o prêmio FNPI em 2015. Ele foi repórter em diferentes meios mexicanos e atualmente lidera a equipe de investigações no Mexicanos contra la Corrupción y la Impunidad.

O financiamento do Quinto Elemento vem da Open Society Foundations. Mas a equipe sabe e espera que em algum momento possa se sustentar sem depender de bolsas. Por isso, não descartam a opção de vender conteúdo, assim como oferecer oficinas e capacitações.

Mas a preocupação agora é fazer com que a convocatória chegue aos lugares mais recônditos do país, para impulsionar o jornalismo investigativo e melhorar as maneiras de contar estas histórias.

“As oportunidades para fazer bom jornalismo estão muito concentradas nas três maiores cidades do México ou na zona de fronteira [...] estamos fazendo tudo que podemos para que [a convocatória] chegue às rádio comunitárias e a ambientes mais diversos. O que queremos e esperamos é contar o país", disse Xanic.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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