Por Maira Magro
Na cobertura das chuvas que pararam o Rio de Janeiro esta semana, causando a morte de mais de 190 pessoas, a participação dos cidadãos como jornalistas chamou a atenção. Além dos registros em blogs e no Twitter, eles enviaram uma enorme quantidade de fotos, textos e vídeos para os meios de comunicação tradicionais, possibilitando uma cobertura imediata e abrangente que nunca teria sido possível se os repórteres estivessem trabalhando sozinhos.
“No fim da manhã, enquanto muitos jornalistas ainda tentavam chegar às redações, ilhados como tantos cariocas, sites de notícias já veiculavam fotos, vídeos amadores e depoimentos de cidadãos registrando o caos instalado em toda a cidade”, aponta a jornalista Larissa Morais, professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, neste artigo publicado no Observatório da Imprensa.
Um dos aspectos mais positivos dessa cobertura, ela aponta, é que o noticiário chegou a locais tradicionalmente esquecidos pela grande mídia, como bairros e municípios do subúrbio.
“A capilaridade que os cidadãos deram ao noticiário pesou mais do que o fato de seus registros fugirem a um padrão estético vigente”, continua o artigo. Até o Jornal Nacional, o mais tradicional telejornal do país, recorreu a vídeos produzidos por cidadãos comuns, assim como outros noticiários da TV Globo, reconhecida pela alta qualidade de suas imagens.
O site do jornal O Globo criou este mapa colaborativo em que o leitor coloca informações sobre a tragédia, além de publicar diversas fotos e textos opinativos desses jornalistas cidadãos.
A notícia corria rapidamente fora dos meios tradicionais. "O Twitter tornou-se o principal mecanismo de prestação de serviços entre cidadãos da região, que usam a ferramenta para avisar pontos intransitáveis por meio de fotos, textos e vídeos, além de propagar críticas severas aos políticos do estado", diz este post do blog de cultura digital Vida em Rede.
O colunista Ricardo Noblat, que mantém um perfil popular no site de notícias de 140 caracteres, ganhou 390 seguidores só na terça-feira, 6 - contra uma média de 70 por dia. Ele explica em seu blog o que aconteceu: “para cada informação que eu dava, os leitores mandavam sete ou oito outras. E eu repassava cada uma delas para os seguidores do blog.”
Um fato impressionou o veterano jornalista: nenhuma informação enviada pelos leitores estava errada. “O testemunho deles era mais vivo e crível que o meu”, diz Noblat - que, justiça seja feita, cobria a tragédia de Brasília.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.