O 24º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) começou oficialmente com uma conversa sobre os desafios e oportunidades enfrentados pelas empresas de televisão tradicionais na era do streaming e da inteligência artificial.
Janelle Rodriguez, vice-presidenta executiva de programação da NBC News, e David Ryfe, diretor da Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade do Texas em Austin, foram os protagonistas desta sessão inaugural intitulada "O futuro das notícias é AGORA: adaptando as notícias à era do streaming".
A conversa começou com duas questões fundamentais: como fazer jornalismo de boa qualidade e como essa informação será distribuída.
Para Rodriguez, "o jornalismo tem que estar no centro de tudo" e, para ela, a NBC tem a sorte de ter jornalistas em todo o mundo que fornecem informações em primeira mão.
Em termos de como esse trabalho jornalístico de qualidade é distribuído, a NBC tem se dedicado a levar a informação até onde o público está, independentemente do formato. Pode ser TV ao vivo, streaming, YouTube ou redes sociais.
"O que descobrimos muito rapidamente é que há uma grande audiência lá fora e acho que há uma concepção errada sobre isso, ainda mais quando se trata de jovens", disse Rodriguez.
"Diz-se que os jovens não estão tão interessados em notícias e isso não é verdade. E percebemos, a cada momento, que se você for capaz de trazer esse jornalismo de alto nível para onde as pessoas o estão consumindo, a demanda é maior do que nunca. Trata-se de estar onde o público está", acrescentou ela.
Por exemplo, há um público que não consome o noticiário NBC Nightly News diretamente do canal de TV, que o transmite às 18h30 ET todas as noites. Mas o fazem mais tarde no YouTube. Todos os dias, eles têm mais de 1 milhão de visualizações na plataforma.
Outro tema discutido durante a conversa foi como o jornalismo de qualidade é financiado. Enquanto a maioria dos meios impressos está se fechando atrás de paywalls, mesmo meios televisivos como a NBC seguem o modelo baseado na publicidade.
"Acho que não podemos viver em um mundo onde existem duas camadas de pessoas: aqueles que podem pagar por informações de qualidade e jornalismo, e aqueles que não podem pagar e obter informações de qualidade", disse Rodriguez.
"Assim, para nós da NBC, na maior parte, temos o valor fundamental de fornecer jornalismo de alta qualidade e gratuito. Embora tenhamos alguns produtos baseados em assinaturas.... Custa muito dinheiro ter correspondentes espalhados por todo o mundo, todos os dias. Isso tem que ser financiado de alguma forma. E neste caso, fazemos isso com o modelo baseado em publicidade", acrescentou ela.
Para Ryfe, era importante não terminar a conversa sem perguntar sobre as ameaças e os benefícios da inteligência artificial no jornalismo.
Rodriguez disse que seu primeiro pensamento quando abriu o ChatGPT pela primeira vez foi "alguém vai ser demitido" graças a esta ferramenta. E não necessariamente porque vem para suplantar o trabalho do jornalista, mas porque alguns jovens jornalistas podem tomar isso como uma saída fácil e acabar cometendo plágio.
"Plágio é plágio é plágio. Quer você o tenha tirado do New York Times e o tenha passado como seu, quer tenha tido o ChatGPT escrevendo-o para você e apresentando-o como seu trabalho. Ambos são plágio", disse Rodriguez.
De fato, Ryfe disse que as universidades já estão lidando com estudantes que entregam trabalhos feitos pelo ChatGPT.
Embora Rodriguez aceite que o ChatGPT é uma grande ferramenta que mudará a maneira como muitas indústrias trabalham, ele explica que a NBC está encarando sua chegada com cautela.
"Em termos de usar o ChatGPT como fonte, eu diria absolutamente não", disse Rodriguez. Além disso, diz ela, os jornalistas já estarão lidando com um bombardeio de notícias falsas graças à intervenção de imagens e vídeos através da inteligência artificial.
"Não podemos confundir um modelo linguístico sofisticado com fact-checking. ChatGPT não foi feito para ser baseado em fatos. O fact-checking deve continuar a ser feito à moda antiga".