Por Sarah Brager
Transmitir as consequências das mudanças climáticas de maneira precisa e acessível continua a desafiar os repórteres ambientais. Ao abordar como melhorar a cobertura da crise climática, um grupo de palestrantes do 2023 Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) compartilhou a importância de tornar as matérias mais pessoais para os leitores, reimaginar as formas de narrar, colaborar na disseminação de informações e promover o otimismo por meio de soluções.
Durante o painel “Como melhorar a cobertura da crise climática e evitar o cenário 'Não olhe para cima'”, os especialistas usaram suas respectivas experiências em comunicar o estado da mudança climática, enfatizando que os jornalistas devem estar atentos ao engajamento do público além de simplesmente relatar os fatos.
O painel de 15 de abril foi moderado por John Schwartz, professor da Escola de Jornalismo e Mídia da UT Austin e ex-repórter científico do The New York Times. Ao abrir a discussão, Schwartz reconheceu que os jornalistas ainda estão tentando descobrir a melhor maneira de narrar a crise climática.
“O problema com a mudança climática não é algo com o qual lidamos pela metade”, disse Schwartz. “É preciso comprometimento dos repórteres.”
Manuela Andreoni, repórter sobre o clima do The New York Times que mora no Brasil, fez uma apresentação sobre como “ajudar as pessoas a olhar para cima, para baixo e ao redor” com uma abordagem de três dimensões: aproximar-se, surpreender as pessoas e tornar as questões pessoais.
Andreoni explicou como os leitores muitas vezes se sentem desconectados e lutam para encontrar significado nas notícias climáticas se as matérias ocorrerem longe delas. Para combater isso, ela disse que os repórteres devem usar reportagens investigativas para ajudar os leitores a se sentirem reconectados com questões como a mudança climática e a crise de biodiversidade. Além disso, ela disse que isso deve ser feito de uma maneira única para colocar uma nova perspectiva sobre tópicos que podem parecer repetitivos nas notícias.
Como redatora da newsletter Climate Forward do The New York Times, Andreoni disse que os repórteres devem mostrar aos leitores como a mudança climática é importante em suas vidas diárias. Construir essa conexão com os leitores, disse ela, os ajudará a se envolver melhor com os assuntos abordados.
“Estamos falando em mudanças no planeta que irão torná-lo inabitável para nós, então estamos falando em nos salvar”, disse Andreoni. “É importante realmente se conectar com os leitores neste espaço muito pessoal de como as coisas estão mudando em suas próprias vidas e como suas próprias vidas impactam essas mudanças.”
Darryl Fears, repórter de justiça ambiental do The Washington Post, disse que o engajamento também requer uma liderança mais forte e uma narrativa reimaginada.
Fears enfatizou a necessidade de se criar um novo modelo para contar histórias ambientais, que se baseie mais no valor do “apelo cinematográfico” de fotógrafos, designers e artistas que possam ajudar os leitores a verem o problema que os repórteres estão descrevendo.
Além disso, Fears disse que decidiu prestar mais atenção aos “canários da mudança climática nos Estados Unidos”, ou às pessoas que estão na linha de frente da mudança climática: comunidades de cor e comunidades de baixa renda.
“Essas pessoas poderão nos dizer como será o futuro para todos nós”, disse Fears. “Precisamos fazer todos os esforços para dar a eles o tempo e a atenção que merecem.”
Fears disse que as pessoas também deveriam analisar como o dinheiro é distribuído entre as organizações ambientais, porque os grupos de justiça ambiental costumam ser “anêmicos em seu financiamento”.
Vernon Loeb, editor-executivo do Inside Climate News, disse que sua experiência no setor sem fins lucrativos do jornalismo o ensinou a ver outros jornalistas como colaboradores nesse esforço, não concorrentes. A necessidade de colaboração é extraordinária, disse ele, porque a mudança climática é uma história enorme para enfrentar.
Loeb também disse que os jornalistas têm um poder incrivelmente forte para confrontar a complacência e defender uma solução para a crise climática se trabalharem juntos e “preencherem as lacunas regionais”.
“Agora, de repente, há esse compartilhamento… Há essa colaboração e, no mínimo, vai ajudar a compensar a perda de todos esses repórteres locais”, disse Loeb. “Se alguma coisa vai ajudar a compensar essa perda de informações realmente profundas e significativas em nível local, será esse tipo de colaboração.”
Michael Webber, professor da cátedra Josey Centennial em Recursos de Energia na UT Austin, trouxe sua perspectiva como engenheiro e consumidor de notícias ambientais para o painel. Embora ele tenha dito que a cobertura climática já percorreu um longo caminho, ainda há espaço para focar mais no otimismo e em soluções complexas.
Webber disse que o custo de não fazer nada em resposta à mudança climática é muito mais caro do que a energia limpa e recomendou que os repórteres incluíssem mais esse fato em sua cobertura. Isso, além de noticiar razões para otimismo, pode fortalecer o jornalismo sobre a mudança climática, disse ele.
“Temos que tomar medidas urgentes porque (…) queremos evitar as más notícias, mas veja todas as coisas boas que recebemos quando agimos”, disse Webber. “Isso leva a melhores empregos, tudo mais limpo, melhor equidade de como acessamos a energia (e) melhor equidade de quem sofre com a poluição do ar”.
Os negadores da mudança climática ameaçam a difusão da verdade, levantando a questão sobre o que os repórteres podem fazer para combater a desinformação. Quando questionados sobre como isso deveria ser abordado, os palestrantes concordaram que os repórteres devem usar os cientistas como ponto de partida para identificar fatos e soluções que podem ser esmiuçados para os leitores.
Às vezes, a ciência pode ser assustadora de ler. No entanto, Loeb disse que acredita firmemente que há momentos apropriados em que a cobertura climática deve assustar as pessoas, apontando que há uma “falsa dicotomia” entre o jornalismo que descreve problemas profundos e o jornalismo de soluções.
“Em toda matéria que assusta as pessoas, existem soluções”, disse Loeb. “Ficar com medo, até certo ponto, é uma solução.”
À medida que os repórteres aprendem a encontrar um equilíbrio entre fornecer a dura e muitas vezes assustadora verdade e destacar soluções otimistas, Schwartz lembrou aos ouvintes que moldar a cobertura para incitar o medo não é a abordagem certa.
Os jornalistas ainda estão aprendendo as ferramentas mais eficazes para comunicar notícias ambientais, mas todos os palestrantes concordaram que, no final das contas, os repórteres devem continuar comprometidos em relatar os fatos porque o jornalismo é uma ferramenta poderosa na luta contra a mudança climática.
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Biografia do autor: Sarah Brager é uma estudante de jornalismo do segundo ano na UT Austin. Atualmente, ela é repórter de notícias gerais do The Daily Texan e repórter do Community Impact Newspaper, onde se concentra na cobertura diversa e hiperlocal da comunidade de Austin.