O Digital News Report 2023 do Instituto Reuters revela um declínio no interesse por notícias em vários países da América Latina e do mundo, bem como um crescimento no uso de plataformas como o YouTube e o TikTok para obter informações.
O relatório mostra que, ao contrário de Twitter e Facebook, usuários de TikTok, Instagram e Snapchat tendem a dar mais atenção a celebridades do que a jornalistas ou à mídia quando se trata de se informar. Além disso, o público admite se informar cada vez menos pelos sites de notícias.
"As gerações mais jovens têm pouco interesse em muitas das ofertas convencionais de notícias voltadas para os hábitos, interesses e valores das gerações mais velhas e, em vez disso, estão se voltando para as opções mais personalizadas e participativas oferecidas pelas redes sociais, muitas vezes deixando de lado as plataformas tradicionais e buscando novos participantes (muitos dos quais geram pouco tráfego para os meios e não priorizam as notícias)", disse Rasmus Nielsen, diretor do Instituto Reuters, por ocasião do lançamento do relatório.
Um país que está no topo da lista de adoção do TikTok para notícias é o Peru. Trinta por cento dos jovens pesquisados naquele país usam a plataforma de vídeo chinesa para consumir notícias. Nenhum outro país latino-americano pesquisado para este relatório tem números semelhantes.
O Peru foi duramente atingido pela COVID-19, e a lenta recuperação econômica é preocupante para as empresas de mídia. O investimento em publicidade atingiu 0,23% do PIB, bem abaixo dos níveis de 2017 (0,31%), explica o relatório do Instituto Reuters.
México e Brasil também mostram um crescimento significativo no uso do TikTok. Muitas das empresas de notícias estão tentando encontrar maneiras de atrair públicos mais jovens por meio dessa plataforma.
De acordo com o relatório, no Brasil, os três jornais mais vendidos (O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) têm contas no TikTok, mas ainda têm um número maior de seguidores no Instagram e no Twitter. Isso também se aplica a canais de TV que também estão interessados no TikTok, mas acham mais fácil promover seu conteúdo em outras redes sociais.
Países como Chile, Argentina e Colômbia relataram que os consumidores estão sofrendo com a fadiga de notícias, de acordo com o relatório.
Por exemplo, a Argentina está entre os países com o menor nível de confiança na mídia. A confiança geral nesse país caiu 5 pontos percentuais, de 35% para 30%, entre 2022 e 2023. Além disso, a confiança nas fontes de mídia que os entrevistados dizem usar também caiu de 42% para 36%.
No Chile, após um período de agitação, COVID-19 e eleições, espectadores estão se dizendo cansados de consumir notícias.
Quatro em cada dez (40%) dos participantes chilenos da pesquisa do Digital News Report dizem que às vezes ou frequentemente evitam as notícias, um número um pouco maior do que em 2022. De acordo com os entrevistados, a política nacional é um dos temas que eles mais evitam.
Esse também é o caso da Colômbia. Os colombianos evitam ativamente as notícias (41%), especialmente as relacionadas à atualidade política do país ou a crimes. Além disso, os entrevistados do relatório dizem que consultam fontes de notícias com menos frequência (25%) do que antes.
Mesmo assim, as assinaturas de meios na Colômbia ainda não parecem ter sido afetadas. "14% dos entrevistados dizem que pagaram por uma assinatura, 2 pontos percentuais a mais do que no ano passado. El Tiempo e El Espectador estão usando inteligência artificial e outras tecnologias automatizadas para encontrar maneiras bem-sucedidas de converter usuários em assinantes", diz o relatório.
O relatório mostra como os políticos se tornaram uma das principais fontes de críticas aos jornalistas e à mídia, à frente dos cidadãos comuns e de pessoas influentes. A mídia social é a forma mais comum pela qual as pessoas dizem estar expostas a essas críticas.
Um exemplo do primeiro caso foi o México. "Os repetidos ataques do presidente [Andrés López Obrador] contra as empresas de notícias podem ter desempenhado um papel no declínio constante da confiança nas notícias nos últimos anos, de 50% em 2019 para 36% hoje", disse o relatório.
Além disso, em relação à desinformação, 56% dos entrevistados globais dizem que estão preocupados em distinguir a diferença entre notícias reais e falsas online, um aumento de dois pontos percentuais em relação ao relatório de 2022.
Além disso, o relatório também explica que os podcasts de notícias continuam a repercutir entre públicos educados e mais jovens, mas continuam sendo uma atividade minoritária em geral.
O Digital News Report 2023 é o resultado de uma pesquisa realizada em mercados de notícias de 46 países. O tamanho total da amostra foi de 93.895 adultos, com cerca de 2 mil por mercado. O trabalho de campo foi realizado no final de janeiro e início de fevereiro de 2023.
O relatório já está disponível em inglês e será apresentado também em espanhol durante o Festival Gabo, no fim de junho.