As pessoas migrantes são uma comunidade vulnerável com uma alta necessidade de informações de qualidade e confiança. Foi para atender a esta demanda que surgiu o site Conexión Migrante, tema da conferência “Jornalismo para os mais vulneráveis: Escutar sempre: Centro de Assistência ao Migrante” (“Periodismo para los más vulnerables: Escuchar siempre: Centro de Atención al Migrante”, em espanhol) apresentada por Patricia Mercado, diretora do veículo, durante o 17º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital.
Durante a conferência, realizada na UT Austin no domingo 14 de abril de 2024, Mercado descreveu a história, a missão, as atividades e os desafios do Conexión Migrante, desde os seus primeiros dias até projetos jornalísticos e extrajornalísticos marcantes.
Inicialmente concebido para atender a comunidade mexicana e latina nos Estados Unidos, a iniciativa se diversificou, e hoje oferece informação aos imigrantes latinos nos EUA, aos migrantes que cruzam o México e também àqueles que ainda vão chegar a este país.
“E do que os migrantes precisam? Bom de muita coisa, mas eles precisam de informações precisas, precisam de dados verificados, informações reais e fáceis de consultar. Mas acima de tudo, serem ouvidos e levados em consideração”, afirmou Mercado.
Segundo a jornalista, o site nasceu no dia 8 de novembro de 2016, o mesmo dia em que Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos.
Em 2023, disse Mercado, o Conexión Migrante teve 3,3 milhões de usuários e 5,5 milhões de visitantes. Destes, 40% foram dos Estados Unidos, 30% do México e o resto da América Latina.
Além disso, o site tem uma comunidade com cerca de 300 mil seguidores no Facebook, e outros 75 mil no Whatsapp, divididos em dois canais: um para os migrantes que estão no México, e outro para os imigrantes que estão no México.
Segundo dados que Mercado apresentou, há 281 milhões de migrantes no mundo. O corredor migratório México-Estados Unidos é o maior em volume acumulado do mundo, com 10,9 milhões de migrantes em 2021. Segundo números da Organização Internacional das Migrações (OIM), em 2023, os migrantes sem documentos no México cresceram 77%, acrescentou
A relação do veículo com a sua comunidade, disse Mercado, é de muita confiança. Além da equipe jornalística, o Conexión Migrante conta também com um call center, destinado a atender as dúvidas da comunidade.
“Temos uma relação muito próxima com a comunidade migrante. A equipe do Conexión Migrante é, primeiro, muito jovem e também está ao serviço da comunidade, não só na parte escrita, que é metade da equipe. A outra metade da equipe são pessoas que estão no centro de atendimento ao migrante, que é um call center onde recebemos entre 800 e 1.000 ligações, mensagens e comunicações mensalmente”, disse.
Este call center, que funciona todos os dias do ano, busca resolver as dúvidas das comunidades, mas também está próximo da redação. Isto significa que os jornalistas estão constantemente sendo informados do que é mais importante para os migrantes por pessoas que estão no terreno.
“Então estamos criando os conteúdos que os migrantes precisam no momento em que nos procuram. E o que muitas vezes acontece é que a necessidade de uma pessoa é a necessidade de muitas. Por isso criamos um wiki, que é um motor de busca de procedimentos, conselhos e programas para a comunidade migrante que lhes permite ter informações rápidas, fáceis, bem escritas e verificadas que lhes permitem tomar melhores decisões”, disse Mercado.
Este centro de atendimento por telefone é importante porque os migrantes em geral são pessoas que estão em situação de alta vulnerabilidade e que frequentemente outras tentam enganar, disse Mercado.
“Na sua jornada, os migrantes estão sozinhos e altamente vulneráveis. E essa vulnerabilidade também é informativa, já que as redes estão cheias de golpistas e de pessoas que sabem enganá-las. Temos convicção de que informação de qualidade para esta comunidade é essencial para agilizar os processos de imigração”, afirmou.
Mercado relatou que, em 2023, o Conexión Migrante participou de uma pesquisa junto a outros cinco veículos para tentar identificar quais eram os principais fatores de desinformação para a comunidade migrante. Em 10 dias, os pesquisadores conseguiram que mais de 250 pessoas respondessem a um questionário de oito perguntas. Os resultados aferiram que 25% dos consultados tinham sido vítimas de desinformação.
“A desinformação tornou-se um grande negócio. Ela afeta diretamente os migrantes, porque não só põe em risco a sua segurança pessoal, mas também a sua segurança econômica. Há fraudes que começam em US$ 5 e são enormes porque milhares de pessoas as pagam. As maiores que detectamos chegavam a US$ 20 mil para atravessar para os Estados Unidos, e terminavam frequentemente em sequestro ou extorsão”, disse Mercado.
A jornalista afirmou que o seu veículo não tem interesse em pensar em políticas de migração ou diminuí-la, mas somente transmitir informações às pessoas, para que então estas sejam capazes de decidir autonomamente o que fazer, dispondo de dados sobre destinos que oferecem melhores possibilidades de integração e de qualidade de vida.
“Não estamos interessados em parar a migração, não estamos interessados numa migração ordenada, seria ilógico pedir isso aos migrantes. “Mas acreditamos que com informação de qualidade as pessoas serão capazes de tomar melhores decisões em suas vidas”, disse.
Na conclusão, Mercado fez uma reflexão que destoa de quem condena a imigração, um dos principais temas da campanha presidencial americana em 2024.
“A migração não é má, ela é simplesmente um processo que, para os países de destino, sempre, sempre, sempre será bom”, afirmou.