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Fundo internacional abre convocatória para financiar meios independentes latino-americanas em suas estratégias de audiência

Um dos maiores desafios atuais dos meios de comunicação independentes latino-americanas é a sustentabilidade. O Fundo Internacional para Meios de Interesse Público (IFPIM), com uma nova convocatória de financiamento, busca apoiar os veículos em suas estratégias de audiência e tem uma nova convocatória aberta para meios de interesse público.

Até 1º de julho, meios independentes da Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador e Paraguai podem participar da convocatória do IFPIM e obter financiamento por um período de 24 meses. Outros países da África, Oriente Médio, Europa Oriental, Ásia e Pacífico também podem participar. O IFPIM é um fundo global e multilateral para apoiar os meios de interesse público e estará oferecendo pelo menos US$ 5 milhões em subsídios a nível mundial.

De acordo com o fundo, um meio de interesse público consiste naquele que existe para informar o público e ajudar a garantir que o poder preste contas. Esses meios também se caracterizam por fornecerem informações baseadas em fatos de maneira confiável; por estarem comprometidos com a busca demonstrável da verdade; e por serem editorialmente independentes e transparentes sobre seus processos, finanças e políticas internas.

Esta é a segunda vez que o IFPIM abre uma convocatória desse tipo. Na primeira ocasião, 11 organizações de mídia foram as primeiras beneficiárias do fundo.

“O Fundo Internacional lançou uma convocatória aberta ‘piloto’ em 2022, elaborada para começar a disponibilizar recursos financeiros muito necessários, construir a infraestrutura de concessão de subsídios do fundo e coletar aprendizados iniciais sobre modelos potenciais para fomentar ambientes midiáticos mais saudáveis, mais inclusivos e mais resilientes”, disse à LatAm Journalism Review (LJR) Tommaso Di Robilant, coordenador estratégico da convocatória do IFPIM.

Naquele ano, duas organizações de mídia da América Latina receberam financiamento: Mutante e Vorágine, ambas da Colômbia.

A Mutante, plataforma que defende o jornalismo participativo, usou o dinheiro obtido para lançar uma nova unidade de produção de conteúdos chamada Estúdio Mutante que cobre temas de interesse público como mudança climática, gênero e direitos sexuais e reprodutivos, entre outros.

“Em 2023, seu primeiro ano de operação, o Estúdio Mutante conseguiu ser autossustentável e abrir conversas difíceis, mas muito relevantes para o nosso contexto. O Estúdio arrecadou US$ 43 mil que permitiram cobrir seus custos e gerar um excedente de 10%”, disse à LJR Juan Camilo Maldonado, diretor do Mutante.

“Durante o período em que tivemos o acompanhamento e apoio do IFPIM, fomos premiados com o Prêmio Rei da Espanha como melhor veículo ibero-americano. O apoio do fundo, não apenas ao Estúdio, mas também a outras linhas de trabalho do Mutante, fez com que nossa equipe alcançasse consistência suficiente para produzir o trabalho que durante o último ano e meio nos levou ao Prêmio Rei da Espanha”, acrescentou Maldonado.

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Equipe do Mutante, da Colômbia, recebendo o Prêmio Rey de Espanha como melhor meio ibero-americano de 2024 (Foto: Casa Real Espanhola)

Por outro lado, o Vorágine, que se especializa em investigações sobre violações de direitos humanos e corrupção, pôde experimentar, graças ao fundo, novos formatos de redes sociais baseados em vídeos. Segundo Di Robilant, o alcance do Vorágine aumentou significativamente entre as audiências mais jovens.

“Desde essa primeira convocatória aberta, aceleramos enormemente nossas atividades de concessão de subsídios, através de financiamentos diretos. Nossa carteira agora inclui mais de 40 organizações e meios independentes ao redor do mundo que realizam um trabalho fundamental para informar o público nos países onde operam, e está crescendo rapidamente”, disse Di Robilant. “Em 2023, outros meios da região se incorporaram à nossa carteira. Estes são La Voz de Guanacaste (Costa Rica), La Gaceta de Tucumán (Argentina), Cuestión Pública (Colômbia), Confidencial (Nicarágua) e El Surti (Paraguai)”.

Estratégia de audiência

Para participar desta convocatória, os meios que se inscreverem devem cumprir certos requisitos. Em primeiro lugar, devem ser uma organização legalmente estabelecida. Segundo, deve ser um meio de interesse público e ter custos anuais totais de pelo menos US$ 300 mil no último ano fiscal. Também deve existir e ter publicado continuamente há no mínimo três anos e não ter distribuído dividendos aos acionistas nos últimos três anos. Além disso, precisam ter uma receita líquida inferior a 5% das receitas totais (média de três anos) e uma reserva de caixa inferior a 12 meses.

Este ano, os meios devem usar o financiamento concedido com o objetivo de estabelecer estratégias concretas e realizáveis em torno de suas audiências. Para o IFPIM, a realização de ações estratégicas é fundamental para o crescimento e a sustentabilidade dos meios.

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"O conhecimento da audiência é um ativo valioso e os veículos sabem disso", disse Vanina Berghella, diretora regional para América Latina e Caribe do IFPIM (Foto: Patricia Lim/Centro Knight)

Algumas dessas estratégias podem envolver atividades relacionadas à compreensão da audiência, à identificação de segmentos e à expansão ou aprofundamento do diálogo entre o público e os jornalistas.

“Hoje mais do que nunca, as audiências se mostram diversas, ativas, participativas e com múltiplos interesses, pelo que se faz necessário aprofundar no conhecimento de seu comportamento para poder servi-las da forma mais completa e eficiente possível”, disse à LJR Vanina Berghella, diretora regional para América Latina e Caribe do IFPIM.

Berghella também esclareceu que, embora o foco desta convocatória esteja em escolher propostas que contenham uma estratégia de audiências valiosa para as mídias e seu público, o financiamento também permitirá cobrir outras necessidades estruturais dos veículos selecionados. O fundo dará maior atenção a organizações de notícias que priorizem suas audiências e que busquem criar conversas em duas direções, ouvindo e respondendo às necessidades e inquietudes das comunidades que servem.

“O conhecimento da audiência é um ativo valioso e os veículos sabem disso. A partir dessa compreensão, eles podem não apenas criar conteúdos de interesse, mas também fornecer serviços, desenvolver novos produtos e, em última análise, fidelizar seu público”, acrescentou Berghella.

Traduzido por André Duchiade
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