Veículos digitais brasileiros como JOTA, Nexo e Ponte tiveram crescimento durante a pandemia da COVID-19 e apostam cada vez mais em assinaturas e programas de membros para se sustentar, afirmaram alguns dos seus fundadores, durante apresentação no 13º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital.
O painel, "O Novo Jornalismo Digital do Brasil", foi moderado por Janine Warner, cofundadora do SembraMedia. Desde 2008, o Colóquio acontece no dia seguinte ao Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), e reúne jornalistas da América Latina, Espanha e Portugal para discutir o presente e futuro do jornalismo digital na região.
Felipe Seligman, cofundador do JOTA, disse que a receita do veículo com assinaturas aumentou 15% desde o início da pandemia, porque, segundo ele, o acesso a informação está mais difícil e, ao mesmo tempo, mais importante.
"Também estamos com muitos patrocinadores para os nossos webinars, o que está funcionando muito bem, e para as nossas newsletters públicas, que começamos agora. Estamos positivos [em termos financeiros] e isso é bom", disse.
O site, fundado em 2014, é voltado para a cobertura de temas jurídicos e regulatórios, para um público especializado de estudantes e operadores do Direito, além de profissionais dos mercados financeiro, da saúde ou da indústria. Segundo Seligman, o JOTA faz uma cobertura didática, profunda, detalhada e "extremamente técnica".
Seligman contou que o JOTA tem hoje uma equipe de 63 pessoas e 85% da receita vem de assinaturas, principalmente corporativas. Eles estão investindo em produtos específicos, com assinaturas voltadas para o setor tributário, regulatório ou de saúde, por exemplo.
"Temos 350 escritórios de advogados que são assinantes e 150 bancos ou fundos, além de 7 mil a 8 mil assinantes individuais". Eles também têm uma audiência de 350 mil usuários gratuitos. "Sabemos que, dos 15 mil magistrados brasileiros, mais de 7 mil estão nesta base de dados, de usuários gratuitos, e consomem nossas informações no seu cotidiano", afirmou.
Paula Miraglia, cofundadora do Nexo, disse que também aposta em assinaturas, que hoje correspondem a cerca de 50% da receita do veículo. No início, o Nexo contou com investimento dos próprios fundadores e, no ano passado, recebeu um apoio no valor de US$ 920 mil da Luminate, organização do grupo Omidyar.
Com a pandemia, Miraglia diz que o veículo decidiu suspender o paywall para todas as informações sobre o coronavírus no site, algo que foi "muito reconhecido" por seus leitores.
"Temos 80% do nosso conteúdo fora do paywall por conta da COVID-19. Desde que removemos o paywall tivemos um crescimento de 18% nas nossas assinaturas", afirmou Miraglia.
O Nexo, explica ela, tem uma equipe multidisciplinar, com foco em jornalismo de contexto. "Não estamos interessados em breaking news, fazemos um jornalismo que busca a informação mais aprofundada e novos formatos, um jornalismo que tenha uma vida mais longa do que breaking news", disse.
Antonio Junião, diretor e cofundador da Ponte, também afirma que o público do veículo tem crescido. O meio se financia por meio de doações de fundações e leitores. "Temos hoje um crowdfunding permanente, mas estamos estudando e fazendo consultorias para transformar isso em um bom plano de membros", afirmou.
A Ponte cobre justiça, direitos humanos e segurança, com foco na violência estatal e com uma presença muito importante nas periferias. Foi criada em 2014 por jornalistas que tinham saído da imprensa tradicional. Eles perceberam que não poderiam cobrir direitos humanos da forma como gostariam dentro dos grandes veículos e, por isso, fundaram a Ponte.
"A violência estatal aqui no Brasil tem muitos destinos, mas tem um território, que é principalmente a periferia. Sempre que falamos sobre racismo, crimes de gênero, encarceramento em massa, violência policial, violência religiosa, prisões sem provas, são tipos de violência que estão em todas as partes mas principalmente nas periferias, e os povos negros e pobres são os que mais sofrem com isso", disse Junião.
Ele ressalta que a Ponte foi um dos primeiros veículos a chamar atenção, em suas reportagens, para o componente racial na violência policial e estatal. "Destacamos que pessoas negras estão sendo assassinadas pela polícia e o papel da raça na condenação dos acusados. Isso influenciou outros meios a fazer o mesmo, o que ficou mais evidente agora com as repercussões da morte de George Floyd", disse.
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