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Após 9º Fórum de Austin, jornalistas pedem cobertura mais humana, equilibrada e aprofundada da imigração nas Américas

Após se reunirem no 9º Fórum de Austin sobre Jornalismo nas Américas, entre os dias 8 e 10 de setembro, em Austin, no Texas, mais de 50 jornalistas e especialistas de 20 países da América Latina e do Caribe decidiram buscar maneiras de cobrir a imigração de forma mais humana, equilibrada e consciente de que essa é uma questão regional cuja cobertura deve ir além do cruzar fronteiras, com ou sem papéis. A cobertura jornalística da migração precisa tratar dos próprios imigrantes, das famílias deles, das razões históricas da migração, das políticas dos governos, de questões de saúde, de fatores econômicos e sociais, de habitação e de tantos outros pontos que fazem parte do fenômeno.

Em 2011, o evento anual, organizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e pelos programas para a América Latina e de Mídia das Fundações Open Society, teve como tema "Cobertura Jornalística da Migração nas Américas." O painel de discussão"Cobertura da Migração Internacional nas Américas do Norte e Central e a exposição digital de fotografia "Cruzando Fronteiras nas Américas/Crossing Borders in the Americas" deram início ao encontro, na quinta-feira 8 de setembro.

Durante o painel, palestrantes como Cecilia Alvear, da Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos e da UNITY Journalists of Color, Jose Luis Sierra, da New America Media, Oscar Chacón, da Aliança Nacional de Comunidades Latino-Americanas e Caribenhas, e Julián Aguilar, do Texas Tribune, ressaltaram a importância da reportagem aprofundada, de ir além de estereótipos e de evitar o uso de termos que desumanizam, como "ilegal", na cobertura da migração. Como disse Sierra, a imigração é a "um tema tratado com muita hipocrisia e muitos clichês...A grande mídia não cobre realmente questões de imigração ou os imigrantes. Ela só trata dos aspectos ruins".

Na sexta-feira 9 de setembro, José Luis Benítez, da José Simeón Cañas Central American University, em El Salvador, foi o principal palestrante. Benítez lamentou que, apesar do papel fundamental dos imigrantes na sociedade e na economia de países da América Central e do México, a cobertura jornalística sobre essa população frequentemente se limita ao sensacionalismo dos crimes e tragédias ou a histórias de heroísmo. Em vez de continuar dependendo das fontes oficiais, que contam sempre a mesma velha história, disse, os repórteres precisam entrevistar os próprios imigrantes sobre suas experiências. Além disso, ressaltou a importância de dar o contexto histórico e alertar para os riscos e as consequências da imigração nas matérias.

Outro tema discutido nos painéis de sexta-feira foi a importância de ir além dos mitos e estereótipos. Como afimou Julie Lopez, da Plaza Publica, na Guatemala, os imigrantes da América Central não mudam de país apenas em busca de uma vida melhor - eles migram porque "o estado não cuida de seus cidadãos, forçando-os a olhar para além de suas fronteiras". E é isso que a mídia deveria estar cobrindo, disse Lopez.

Segundo os palestrantes, a falta de números e informações também contribui para que a cobertura seja superficial e cheia de estereótipos. Ana Arana, da Fundação MEPI, do México, sugeriu a criação de uma base de dados para a América Latina, semelhante à do Pew Center, que poderia ajudar os repórteres a melhorar a cobertura da migração. "O problema é uma falta de informações quantitativas e gráficos que ajudem os jornalistas a entender o assunto rapidamente", Arana disse. "Como resultado, eles dependem de especialistas sem dados fortes".

Um outro painel na sexta -feira discutiu iniciativas inovadoras para melhorar a cobertura da migração, como adotar uma abordagem colaborativa, de longo prazo e ancorada em diversas plataformas. Carlos Dada e Oscar Martinez, do jornal digital El Faro, de El Salvador, notaram, por exemplo, como o projeto "Na Estrada", sobre imigrantes da América Central no México, resultou, durante um ano, não apenas em matérias para o site, mas transmissões de rádio, livros, fotos, um documentário e até conferências. Dada sublinhou que esses projetos são "extremamente caros" e demandam tempo e recursos, mas acrescentou que esse tipo de jornalismo é hoje "mais necessário do que nuca... Esse tipo de projeto não é financeiramente sustentável. Precisamos encontrar novas forma de financiamento.

Na tarde da sexta-feira, Fabián Sánchez, da organização i(dh)eas, falou sobre como a mídia ignora a situação precária dos imigrantes presos no México.

Mas a imigração não é uma questão só no México e na América Central. Na sexta-feira e no sábado, os palestrantes discutiram também a imigração na América do Sul e no Caribe.

Paraguaios, bolivianos e peruanos, por exemplo, migram para a Argentina e o Chile, enquanto brasileiros mudam para o Paraguai e colombianos, expulsos de suas terras por grupos armados, rumam para a Venezuela, o México ou o Panamá. Embora quase todos os países das Américas recebam ou mandem imigrantes para outras nações, "há um componente discriminatório e xenófobo" na imprensa, disse Gabriel Michi, do Fórum Argentino de Jornalismo (FOPEA). Michi usou como exemplo o título de uma matéria de um jornal da Argentina: "Acidente Fatal em Flores: Duas pessoas e um boliviano morreram".

Frequentemente, a imprensa ou vitimiza ou celebra como heróis os cidadãos que vivem no exterior, mas trata os imigrantes de outros países como ilegais. "Os bolivianos acham que os imigrantes peruanos são trabalhadores esforçados, mas desleais e infratores da lei", disse Raúl Peñaranda, editor do jornal Página Siete, da Bolívia.

Já a imprensa chilena ignora a imigração, disse Silvia Viñas, editora do site Global Voices da América Latina.

No Caribe, os "próprios jornalistas são vítimas de estereótipos", afirmou Wesley Gibbings, da Association of Caribbean Media Workers, citando a falta de cobertura sobre a discriminação dos haitianos para vistos de trabalho. Como disse Gotson Pierre, da Alterpresse, do Haiti, a "mídia do Haiti não trata de dominicanos; a dominicana não fala dos haitianos”. Da mesma forma, María Isabel Soldevila, do Listín Diario e da Pontifícia Universidade, disse que a “desumanização dos haitianos é um tema comum na imprensa domicana".

A principal palestrante do sábado 10 de setembro, Sandy Close, da New America Media, falou sobre a imprensa étnica nos Estados Unidos, criticando o que chamou de “apartheid comunicacional” entre imprensa tradicional e étnica. Ela ressaltou o crescimento da imprensa étnica (especialmente a hispânica), apesar da recessão econômica que exacerbou a crise dos jornais tradicionais, porque as comunidades precisam dela. “A Marcha do Milhão de Homens, em 1995, foi organizada pelos meios afro-americanos”, recordou Close. “Quem pensa que a imprensa tradicional ajudou a promover o evento está equivocado”.

Como em edições anteriores do Fórum de Austin, as discussões e recomendações serão transformadas em um livro eletrônico, que estará disponível na Biblioteca Virtual do Centro Knight. O livro do 8º Fórum de Austin sobre Jornalismo nas Américas, "Cobertura do Tráfico de Drogas e do Crime Organizado na América Latina e no Caribe", está disponível para download, em inglês ou espanhol, aqui.

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