Em 2025, o jornalismo em todo o mundo enfrenta sérias ameaças devido a leis restritivas – como as que temos visto na América Latina – que buscam coibir o trabalho da imprensa e das organizações civis. Além disso, a ascensão de influenciadores, o crescente uso de inteligência artificial (IA) nas redações e os desafios econômicos enfrentados pelos meios de comunicação vão moldar o rumo do jornalismo na região e no mundo, alterando as dinâmicas de produção e consumo de notícias.
É o que afirma o último relatório “Jornalismo, mídia e tecnologia: tendências e previsões para 2025” do Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo, assinado pelos jornalistas e pesquisadores Nic Newman e Federica Cherubini e publicado pelo Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo (RISJ (na sigla em inglês).
O relatório dá aos leitores uma ideia do que a indústria jornalística mundial pode esperar em 2025 e destaca como houve um alarmante declínio da confiança nos meios de comunicação, em parte devido às sociedades cada vez mais polarizadas.
Na América Latina, essa confiança foi impactada por ataques de políticos proeminentes que buscaram minar jornalistas independentes, fiscalizando/policiando suas ações com ameaças, processos judiciais ou a criação de novas leis.
“Há uma tendência crescente na América Latina de aprovar leis do tipo ‘agente estrangeiro’ que copiam iniciativas da Hungria ou da Rússia. O objetivo é reprimir a sociedade civil que denuncia a corrupção, informa sobre o crime organizado e defende os direitos humanos ou o meio ambiente”, disse no relatório Jazmín Acuña, cofundadora e diretora editorial do El Surtidor no Paraguai.
Países como Paraguai, Peru, Venezuela, Nicarágua, Guatemala, El Salvador e México já aprovaram ou debateram leis que interferem no trabalho de organizações da sociedade civil e, por sua vez, afetam o jornalismo. Isso se deve à crise econômica no setor dos meios de comunicação, que levou ao aumento de organizações jornalísticas financiadas por fundações e pela filantropia internacional.
Os resultados obtidos pelo relatório do Instituto Reuters são baseados em uma pesquisa com 326 líderes de veículos (CEOs, editores, diretores de estratégias digitais e de inovação, entre outros) de 51 países, realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2024.
Embora jornalistas de países da América Latina como Paraguai, Honduras, Uruguai, México, Brasil e Colômbia tenham sido incluídos como parte da amostra, não há nenhuma outra previsão ou tendência específica para a América Latina apresentada no relatório.
“Não temos publicações latino-americanas suficientes em nossa amostra para separá-las significativamente”, disse Newman à LatAm Journalism Review (LJR). Mas ele explicou que a maioria das tendências registradas estão ocorrendo em muitas redações ao redor do mundo.
O fenômeno dos influenciadores digitais ou criadores de conteúdo relacionados ao jornalismo é uma tendência marcante em diversos países.
Entre os entrevistados, 27% acreditam que essa tendência em direção a personalidades e influenciadores é ruim para o jornalismo, mas 28% acham que é positiva.
Considerando que 2024 foi um ano eleitoral importante, o relatório fala sobre um padrão de candidatos presidenciais evitando dar entrevistas a meios tradicionais e preferindo conversar com youtubers ou apresentadores de podcasts.
Newman também disse à LJR que a mudança no uso do Facebook e do X para plataformas de vídeo, como YouTube, Instagram ou TikTok, está se acelerando e é um padrão que vem ocorrendo há algum tempo na América Latina.
Já faz alguns anos que o Instituto Reuters vem mostrando que os veículos de comunicação estão produzindo mais vídeos, mais podcasts e mais newsletters e que não esperam aumentar a produção de artigos de texto.
“Porém existem muitos desafios para os editores que querem investir mais nessa área”, diz o relatório. “A produção de vídeos não é algo natural para muitas redações baseadas no impresso e vídeos curtos continuam difíceis de monetizar, com poucas oportunidades de direcionar tráfego para os sites ou aplicativos.”
Ainda assim, espera-se um aumento nas restrições ao uso de redes sociais ao redor do mundo. Por exemplo, a proibição e o possível fechamento do TikTok nos Estados Unidos seriam impopulares para milhões de usuários, privando criadores de conteúdo de uma de suas principais plataformas, com consequências globais.
O relatório deste ano confirma que a utilização de tecnologias de IA nos meios de comunicação continua a aumentar.
Entre os entrevistados, 60% considera a automação das redações muito importante, e vários meios de comunicação têm implementado ferramentas para desenvolver novos fluxos de trabalho.
Entre suas previsões, o Instituto Reuters afirma que é provável que, em 2025, surjam novos usos de IA nas redações.
“A adoção de IA generativa está acontecendo em todos os lugares, inclusive nas redações latino-americanas”, disse Newman à LJR. “No ano passado, o foco estava principalmente na experimentação em redações, mas este ano haverá uma mudança para aplicações mais voltadas para o público.”
Alguns exemplos incluem a criação de recursos/aplicações que convertam textos em áudio para gerar resumos no topo das matérias ou para traduzir notas. Também veremos a adaptação de mais chatbots ou interfaces de busca.